Após a superação da sombria marca de mais de três mil mortes diárias e 300 mil vidas perdidas por Covid-19, fica cada vez mais difícil para especialistas estabelecer um teto para o fim da tragédia, especialmente no ápice do programa de extermínio em massa implementado pelo governo. O único consenso entre pesquisadores é que o quadro sanitário será muito agravado nas próximas semanas. No fim de abril, se não adotar um lockdown nacional, o Brasil poderá ultrapassar o patamar de cinco mil mortes diárias, alerta o coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz, Carlos Machado.
“O momento é de medidas restritivas coordenadas, nos níveis estadual e federal”, advertiu Machado, em entrevista ao Estado de S. Paulo. “O sistema já chegou ao limite. Não há mais tempo para debates. Não há mais tempo para ideias dissociadas da realidade. Não temos nem mais um minuto a perder. A situação é dramática em todo o país, são milhares de famílias devastadas”, observou.
“Se nada for feito, nada nos impedirá de chegar a quatro ou cinco mil óbitos por dia. Ainda mais com as novas variantes que aceleram o processo de transmissão e infecção”, ressaltou o pesquisador.
O último boletim da entidade, divulgado na terça-feira (23), aponta o aumento do colapso do sistema de saúde em todo o país. “No dia 22 de março, quase todos os estados e capitais estão na zona de alerta crítica”, relata o boletim da Fiocruz, que defende a interrupção das atividades no país por pelo menos duas semanas.
“Mesmo que vários municípios e estados já venham adotando estas medidas, é fundamental que governos municipais, estaduais e federal caminhem todos na mesma direção para ampliá-las e fortalecê-las, uma vez que a adoção parcial e isolada nos levará ao prolongamento da crise sanitária”, alerta a Fiocruz.
Subnotificações
Para piorar o cenário, os dados compilados da catástrofe sanitária no país podem revelar apenas a ponta do iceberg. Levantamento do Observatório Covid-19 aponta que as mortes por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) somam 415,5 mil. De acordo com o estatístico da Fiocruz Leonardo Bastos, “Essa diferença de quase 100 mil para as mortes por SRAG é basicamente covid-19”, declarou ao Valor.
“Tomamos como base a data do óbito. As mortes desta semana só vão entrar no sistema daqui a dez dias”, explicou Bastos. “O modelo antecipa, prevê quanto seria esse número hoje. Quando se olha a data do evento, se entende melhor a dinâmica da doença”.
Ou seja, existe uma boa probabilidade de que o Brasil já tenha ultrapassado 400 mil óbitos por Covid-19.
Por PT Nacional