O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) anunciou que vai apresentar, nesta segunda-feira (5), requerimento de convocação do empresário e ex-deputado estadual Tony Garcia, delator da Lava Jato, para que ele seja ouvido na Câmara sobre denúncias que fez contra o ex-juiz da operação e hoje senador Sergio Moro (União-PR).
Em entrevista à TV 247 e à CNN Brasil, Garcia revelou que Moro agiu para tirar o juiz Eduardo Appio do comando da Lava Jato. O delator disse acreditar que o motivo foi o fato de o magistrado ter remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia de que Moro usava métodos criminosos, como grampos ilegais e tortura psicológica, para incriminar o presidente Lula, dirigentes do PT e outros adversários.
Essa denúncia havia sido feita pelo próprio delator à juíza Gabriela Hardt, substituta de Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba, mas ela a engavetou. Em 22 de maio, Eduardo Appio foi afastado pela Corte Especial Administrativa do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), acusado de ter intimidado o filho de um desembargador do tribunal com um telefonema.
“Amanhã (hoje) apresento requerimento para ouvir na Câmara Tony Garcia, que em entrevista para TV 247 e CNN, revelou que Moro agiu para tirar juiz Appio da Lava Jato, após remeter para o STF a denúncia de que o atual senador usava de grampos ilegais e tortura”, anunciou o deputado Rogério Correia, no domingo (4), pelo Twitter.
Amanhã apresento requerimento para ouvir na Câmara Tony Garcia, que em entrevista para TV 247 e CNN, revelou que Moro agiu para tirar juiz Appio da Lava Jato, após remeter para o STF a denúncia de que o atual senador usava de grampos ilegais e tortura. https://t.co/wSSn7SrOXP
— Rogério Correia (@RogerioCorreia_) June 4, 2023
À TV 247, Tony Garcia revelou que desde que firmou acordo de delação premiada com a Lava Jato passou a ser usado por Sergio Moro como um agente infiltrado da operação. O empresário contou ter gravado, a mando de Moro, conversas com o ex-governador do Paraná e hoje deputado federal Beto Richa (PSDB-PR).
Na entrevista, Garcia disse que “Moro fez de Curitiba a Guantánamo brasileira”, em referência à prisão mantida pelos Estados Unidos ao sul da ilha de Cuba. O local é alvo de denúncias de graves violações aos direitos humanos, como tortura.
O empresário revelou um episódio em que prestou depoimento a Moro, com a participação dos procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima e Januário Paludo, ambos da Lava Jato. “Quando eu disse que tinha interesse em fazer o acordo, ele [Moro] gravava, com um gravador comum. Quando eu respondia alguma coisa que não interessava para ele, ele desligava o gravador e chamava atenção dos advogados, que eu não tinha que falar assim, que eu tinha que falar que era propina. Ele botava na minha boca o que eu tinha que falar”, contou Garcia em entrevista à TV 247.
“Eu estava preso, era pai de uma criança de um ano. Me jogaram num porão da Polícia Federal. Moro fez de Curitiba a Guantánamo brasileira. Ele fazia os mesmos métodos de tortura psicológica para tirar de você, preso, o que ele queria”, acrescentou o empresário.
Em outro trecho da entrevista, Garcia revelou que o ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que manteve uma condenação da Lava Jato contra Lula , era alvo de chantagem de Moro e dos procuradores da operação. Além disso, o empresário revelou que desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) também foram chantageados, depois de participar de uma “festa da cueca” com prostitutas em Curitiba.
Outras graves acusações contra Sergio Moro foram feitas por Garcia durante entrevista à CNN Brasil. “Eles me amarraram nesse acordo durante dez anos. Eles ficaram me usando para obter informações, usaram informações para perseguir o PT, eles usaram da minha amizade com o Eduardo Cunha para eu colher informações de operadores do PT, operadores da Petrobras, operadores do Zé Dirceu, de tudo, eles queriam pegar tudo”, afirmou.
Garcia relatou também ter feito a denúncia para a juíza Gabriela Hardt em 2021, após solicitar uma audiência com a magistrada. “Eu falei que eu era agente infiltrado, que eu recebia as ordens diretas do Moro, que ele pedia para eu ir sem advogado. Eu fui 40 vezes ao MPF, fiquei trabalhando para eles, me fizeram de funcionário”, contou o ex-deputado. “Ela [Hardt] passou por cima de tudo.”
PTNacional