A pressão exercida pelos parlamentares da bancada do PT na Câmara, liderada pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP), levou o presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (Creden), deputado Pedro Vilela (PSDB-AL), a recuar nas medidas protelatórias adotadas pelo colegiado em relação à convocação dos ministros Raul Jungmann, da Defesa Nacional, e José Serra, das Relações Exteriores. O tucano afirmou que a ida à comissão dos ministros para explicar ações adotadas por suas pastas está prevista para o dia 22 de novembro.
O recuo só ocorreu após Carlos Zarattini ter apresentado uma questão de ordem na reunião da comissão sobre a não inclusão na pauta do colegiado dos requerimentos de convocação dos ministros, por ele protocolados há tempos. Para Zarattini, ao engavetar assuntos importantes, o presidente cerceia a possibilidade de a comissão deliberar e decidir sobre temas de relevância nacional.
“Os requerimentos 168/16 e 169/16, de minha autoria, revelam fatos extremamente importantes e graves que não deveriam ter o seu debate tolhido por esta comissão”, diz o texto apresentado por Zarattini, que se valeu do Regimento Interno da Câmara e da Constituição Federal para sustentar seu argumento.
No requerimento 168, Zarattini exige que o ministro Jungmann esclareça a possível prática de crime de espionagem, de abuso de autoridade, falsidade ideológica e ato de improbidade administrativa, entre outros, ocasionados pela infiltração ilegal do capitão do Exército, Willian Pina Botelho, em manifestação de protesto realizada em São Paulo contra o governo golpista de Michel Temer. O fato, como bem lembrou, foi amplamente divulgado pela imprensa e redes sociais.
Segundo Zarattini, Willian Pina Botelho é integrante do serviço de inteligência e utilizou táticas próprias da ditadura militar para se infiltrar entre manifestantes contrários ao governo de Temer e provocar a prisão de 26 jovens no último dia 4 de setembro.
“A infiltração desse capitão, que é do serviço de inteligência do Exército desde 2013, preocupa-nos demais. Preocupa-nos demais porque revive uma prática que havia sido abandonada pelas Forças Armadas, uma prática nefasta, uma prática da ditadura militar, a da infiltração e elaboração de uma arapuca para a prisão desses 26 jovens, que não fizeram absolutamente nada, a não ser se organizar para participar da passeata ‘Fora Temer’”, disse Zarattini, que além de membro da Creden é vice-líder da Minoria na Câmara.
Já na convocação do chanceler José Serra, contida no requerimento 169/16, Zarattini cobra explicação sobre a política adotada pelo Itamaraty em relação ao Mercosul e, ainda, sobre as tentativas do governo golpista Temer de impedir que a Venezuela assumisse presidência rotativa do Mercosul neste semestre.
Benildes Rodrigues
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