O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou nesta quinta-feira (22) que o combate ao terrorismo no mundo é compreensível, mas não se pode recorrer a práticas que atentem contra a privacidade dos cidadãos, sob pena de o esforço se tornar contraproducente. “Em vez de boa vontade coloca-se sombras, na medida em que essas questões não são esclarecidas”, alertou o ministro, se referindo às denúncias de espionagem feita pelo governo dos Estados Unidos contra cidadãos de outros países, entre eles o Brasil.
Questionado sobre o tema por parlamentares, durante audiência pública na Câmara, Patriota avaliou que a posição e a reação do governo brasileiro foram consideradas fortes pela comunidade internacional. “As resposta que obtivemos até agora não foram satisfatórias, o caso não está equacionado”, afirmou o chanceler. Ele disse que uma missão técnica brasileira já esteve nos Estados Unidos para buscar esclarecimentos. “A conversa foi reservada, posso adiantar apenas que os questionamentos incluíram abrangência da ‘espionagem’, que dados foram coletados, os riscos e quais os marcos jurídicos foram violados”.
O ministro reforçou que o combate ao terrorismo deve respeitar as leis e disse esperar um avanço no debate com o governo norte-americano sobre esse assunto. Ele informou ainda que está programada uma missão política sobre o tema.
David Miranda – Sobre o caso do brasileiro David Miranda, detido por quase nove horas no aeroporto de Heathrow, em Londres, no último domingo (18), o ministro Patriota disse que ainda aguarda explicações satisfatórias do governo britânico sobre o episódio. David é companheiro do jornalista Glenn Greenwald, do diário inglês The Guardian, que divulgou informações sobre o esquema de espionagem do governo norte-americano. Ele foi detido sob a lei antiterrorismo britânica, que permite à polícia do Reino Unido deter qualquer pessoa sem necessidade de apresentar uma causa provável.
Síria – Durante a audiência, Antonio Patriota também defendeu a investigação independente das denúncias de uso de armas químicas na Síria. “Mas é necessário ter cautela para apontar os responsáveis”, observou. Para o chanceler, a confirmação desse fato elevaria ainda mais o nível de preocupação com aquele país, que enfrenta uma guerra civil.
Liderança– O chancelar fez também uma apresentação do atual panorama mundial e da posição do Brasil nas relações aos demais países e destacou o papel de liderança do Brasil e falou da importância do Mercosul.
Para a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), o ministro fez um retrato geral das relações diplomáticas brasileira, “que são cada vez mais importantes”, seja na área economia, social, política, comercial ou cultural. “O Brasil deixou de ser apenas o País do futebol ou do carnaval. Mostramos que temos expertise também em ciência e tecnologia; educação; e desenvolvimento econômico e sustentável”, afirmou.
A audiência pública com o ministro Patriota foi organizada pelas comissões de Relações Exteriores; de Ciência e Tecnologia; de Fiscalização Financeira; de Legislação Participativa; e de Seguridade Social.
Vânia Rodrigues