Com ministro fantasma, Saúde abandonou coordenação da pandemia

Foto: Agência Senado
Considerado ministro de “fato”, Cascavel atuou como secretário não nomeado na gestão de Pazuello. CPI questiona credenciais do ex-assessor: “É o governo da informalidade”, resumiu Humberto Costa (PT-PE).

CPI da Covid ouviu, nesta quinta-feira (5), Airton Cascavel, ex-assessor direto de Eduardo Pazuello durante o apagão de gestão responsável pela morte de quase 300 mil brasileiros em menos de um ano. Apesar de ser chamado por secretários Estaduais de Saúde de ministro de “fato”, Cascavel chegou a atuar sem cargo no Ministério da Saúde. Ele tratou, com autorização de Pazuello, da distribuição de insumos a estados e municípios, entre outros assuntos ligados à pandemia, como a crise de oxigênio em Manaus (AM). Cascavel esteve no Amazonas cerca de quatro vezes entre dezembro e janeiro, quando dezenas de brasileiros morreram por falta de ar. O governo Bolsonaro sabia da escassez de oxigênio mas nada fez para impedir o colapso em Manaus. 

Aos parlamentares, Cascavel tentou minimizar sua importância na pasta, embora tenha representado o ministério em inúmeras ocasiões, e disse que atuava apenas como um “facilitador”. Ele informou que foi chamado para trabalhar na pasta por Nelson Teich, a despeito de não possuir nenhuma qualificação técnica na área de saúde. Mas foi na gestão interina de Pazuello que passou a atuar com mais frequência. Foi quando o governo federal abriu mão da coordenação do plano de contingência para a Covid-19 junto a estados e municípios, parte da estratégia de Bolsonaro de deixar o vírus se espalhar pelo país.

Cascavel ganhou, finalmente, um cargo formal na pasta no final de julho de 2020. À CPI, alegou não ter sido admitido antes por um problema de “desvinculação” de uma empresa. O empresário ganhou tanto prestígio que a alcunha “ministro de fato” virou rotina nos corredores da Saúde.

“Um governo que permite esse tipo de coisa, que trata a coisa pública como o quintal da sua casa, precisa ser responsabilizado”, apontou o senador Humberto Costa (PT-PE). “Esse é o governo da informalidade, um governo que Dominguetti  é atendido pelo ministro da Saúde, onde alguém se reúne em mesa de bar com representante de empresa para pedir propina”.

Humberto Costa pediu ao senador Renan Calheiros que essas informações precisam constar do relatório final da comissão.

Dúzia de mentiras

“Pazuello foi nomeado ministro, plantado para calar o Ministério da Saúde, para deixar correr solta a propaganda enganosa, a promoção da imunidade de rebanho”, denunciou Rogério Carvalho (PT-SE). “O verdadeiro ministro da Saude até hoje se chama Jair Messias Bolsonaro. Ele é o responsável pelas 559 mil mortes”.

O senador destacou que Pazuello mentiu “pelo menos uma dúzia de vezes à CPI da Covid. “Disse que não recebia ordens do presidente, quando o assistimos, publicamente, boicotar compra das vacinas do Butantan depois de um pronunciamento do presidente”, ressaltou.

“Pazuello mentiu de novo quando disse que não negociou vacinas, mas o fez fora da agenda oficial por quase o triplo do preço”, lembrou o senador, antes de pedir que exibissem um vídeo com o general. Em seguida, Carvalho elencou as omissões de Pazuello a mando de Bolsonaro. “O foco desta tragédia sanitária está nas ordens dadas por Bolsonaro”, reiterou.

PTNacional

 

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