Incapaz de criar políticas de incentivo aos investimentos internos, a equipe econômica do desgoverno Bolsonaro também é responsável pela maior queda do Investimento Estrangeiro Direto (IDE, na sigla em inglês) em duas décadas. A derrocada está impressa no Monitor de Tendências de Investimentos Globais 2021.
O documento, divulgado nesta segunda-feira (21) pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad na sigla em inglês), revelou um tombo de 62% no volume de investimentos externos do Brasil no ano passado. O total caiu de US$ 65 bilhões em 2019 para US$ 25 bilhões em 2020, o menor valor dos últimos 20 anos.
A fuga acelerada de capitais fez o Brasil despencar da 4ª posição, em 2019, para a 11ª no ranking global da entidade, braço da Organização das Nações Unidas (ONU). O Brasil também perdeu o posto de país mais atrativo da América Latina e Caribe para o México, que havia superado há 14 anos, sob Luiz Inácio Lula da Silva.
A redução de investimentos no Brasil destoou da média dos países em desenvolvimento, com retração de 8%. A crise brasileira também influenciou no resultado da América Latina, que registrou contração de 45% no fluxo, somando US$ 88 bilhões.
“A região sofreu a queda mais acentuada de IED nos países em desenvolvimento. As economias latino-americanas enfrentaram um colapso na demanda de exportação, queda nos preços das commodities e o desaparecimento do turismo, levando a uma das piores contrações na atividade econômica em todo o mundo”, afirmou o diretor de investimentos e empresas da Unctad, James Zhan.
Ao comentar o assunto em sua conta no Twitter, a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), destacou que o investimento estrangeiro direto no Brasil cai 62% em 2020. Ela citou que o País recebe menos investimento que o México pela 1º vez em 14 anos. “E parte do pouco investimento que vem para o Brasil é para as privatizações”, lamentou a parlamentar, acrescentando que esse é o resultado da política neoliberal pós governo Dilma Rousseff. “E o povo cada vez mais desempregado”, criticou.
Recuperação só em 2023
O relatório afirma que a recuperação dos fluxos na América Latina deve ocorrer apenas em 2023. Também destaca a importância das políticas sociais adotadas para a população economicamente vulnerável na contenção dos impactos econômicos da pandemia no Brasil.
“Vivenciando tanto a maior incidência de casos e mortes da Covid-19 na região quanto uma severa contração econômica, o Brasil adotou medidas suaves de contenção da mobilidade da população e implementou transferências fiscais destinadas à população vulnerável”, afirma o relatório da ONU. As “medidas suaves”, no entanto, já custaram ao país 500 mil vidas.
Em janeiro, o Monitor de Tendências de Investimento Global 2020 já apontava que os investimentos no Brasil haviam caído pela metade no ano passado, redução superior à média da queda mundial (42%). O estudo também revelava o melhor desempenho do México.
“A recessão e o choque causado pela pandemia geraram um golpe para os investimentos no Brasil e na região. Vimos a produção afetada. No curto prazo, podemos levar um tempo maior para que o Brasil se recupere, comparado com outras partes do mundo, como Europa”, avaliou James Zhan na ocasião, ressaltando a queda acentuada de investimentos em novas plantas de produção e a saída de indústrias do País.
Para Pochmann, Brasil pode virar um protetorado dos Eua
“Lavajatismo e neoliberalismo apagaram o protagonismo do Brasil no mundo, conquistado nos governos do PT. Atualmente, o Brasil se tornou um pária, com fuga de capital e redução nos investimentos externos em 62%. Acelera a via de ser protetorado dos EUA, como Porto Rico”, criticou em postagem no Twitter o professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marcio Pochmann.
Atual presidente do Instituto Lula, Pochmann afirmou em outra postagem que a volta do neoliberalismo, com Temer e Bolsonaro, rebaixou a posição do Brasil no mundo e o transforma cada vez mais em um fazendão. “Por isso os investimentos internos e externos em outros setores refluíram tanto que o País retrocedeu ao governo FHC”, concluiu.
Em 2007, Brasil recebeu o montante recorde de US$ 34,6 bilhões em IED, um crescimento de 83,7%, bem acima da média global (29,9%), que o fez avançar oito posições no ranking global, do 22º para o 14º lugar. Naquele ano, o Brasil também foi o sétimo país mais promissor para expansão de negócios no médio e longo prazo, graças ao potencial de crescimento do mercado local.
A trajetória dos investimentos a partir de então é descrita em estudo dos pesquisadores Juliana Trece e Claudio Considera, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). O relatório foi divulgado em março.
A análise da trajetória anual dos investimentos no período entre 2011 e 2020 chegou à média de 17,7% do Produto Interno Bruto (PIB), menor patamar em 50 anos. Segundo o documento, em 2020, 87% dos países do mundo apresentaram uma taxa de investimento maior que a do Brasil.
O estudo revela que a virada na trajetória ascendente dos investimentos começou no segundo trimestre de 2014, embora naquele momento o Brasil ainda fosse a sétima economia do mundo, ostentasse o “grau de investimento” das agências de classificação de risco e mantivesse o mercado a pleno emprego (4,3% da população economicamente ativa em dezembro de 2014).
Com o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, em maio de 2016, e a adoção da agenda da “ponte para o futuro”, puxada pela Emenda Constitucional (EC) 95, do teto de gastos, em 2017, a taxa anual de investimentos desabou para 14,6%. “Foram quatro anos (2014-2017) de queda real dos investimentos”, descreveram os economistas no ‘Blog do Ibre’.
Em 2021, embora haja um excesso de liquidez nos mercados globais, as incertezas fiscais, políticas e sanitárias causadas pelo desgoverno Bolsonaro, incluindo os entraves para a vacinação em massa no país, geram retração recorde dos agentes internacionais. Em 2020, os investidores estrangeiros retiraram US$ 51 bilhões líquidos em investimentos do Brasil. Foi o oitavo ano consecutivo de fuga de recursos, conforme dados do Banco Central (BC).
Da Agência PT de Notícias