Cineastas e críticos que estão em Curitiba participando do 6º Festival Olhar de Cinema aproveitaram o domingo (10) para visitar a Vigília Lula Livre, conversar com os integrantes da resistência e integrar o grito de Boa Tarde ao ex-presidente Lula.
A cineasta mineira Juliana Antunes, 29 anos, disse que “não tem como estar nesse festival e não estar aqui [na vigília], depois de tudo que tem acontecido”. “Lula tem que participar das eleições, mas o que eu vejo é um cenário de muita falta de esperança frente a tudo que foi feito”, acrescenta ela.
Apontando para o prédio da Polícia Federal, Juliana diz que “Lula está ali, Dilma foi retirada num impeachment classista e misógino, sem nenhum crime, exatamente por um poder dessa elite nojenta que tem o Brasil”.
Para a professora de cinema da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Amaranta Cesar, participar da vigília é o mínimo de reação frente a injustiça que aflige a todo o Brasil.
Ela apresentou um curta metragem rodado na Bahia, em uma região quilombola, com professores e alunos da UFRB, que foi fundada durante o governo Lula, e destacou que “a gente precisa minimamente participar de uma resistência ao golpe que tem se desenvolvido, que a prisão de Lula é o segundo momento do golpe e o terceiro é o que vai acontecer com as eleições”.
“Prendê-lo significa afetar diretamente as eleições, que diz respeito a um momento crucial democrático”, avalia Amaranta. Para ela, eleições sem Lula “é claramente um atentado contra a democracia, é usurpar do povo o direito de escolher efetivamente um candidato a presidência, é usurpar do povo o direito de escolher e decidir sobre um projeto de país que deseja”.
“Vemos que outro projeto de país tem sido implantado à revelia do desejo popular e isso afeta a própria democracia e a ideia de participação popular. Todos somos usurpados nesse momento, prender Lula é prender a gente também”, finaliza a professora.
A curadora e produtora de cinema, Marisa Mello, diz que participar do grito de boa tarde a Lula é “um gesto simbólico de resistência”. Ela diz que também veio a vigília para conversar com as pessoas e tentar entender o que pode ser feito.
“Acho que a situação é tão grave que a gente se questiona se vai ou não vai ter eleição. Eleição sem Lula é mais um desdobramento do golpe, que vem sendo articulado pela elite brasileira, movida muito pelo ódio a tudo que o Lula representa, e Dilma também”, diz Marisa.
O crítico carioca Filippo Pitanga, que esteve acompanhando o festival, afirmou que vivemos uma disputa de narrativas. “Não é a questão de quem está certou ou errado, mas existe uma imposição dessa vontade alheia e eu acho que começou a se haver uma legitimação do silenciamento. Isso não pode existir, nós estamos em um país democrático. Pode-se discordar a vontade. Não pode existir gente que aceita o silenciamento de terceiros em uma democracia, mas isso não é democracia, é uma forma de fascismo”.
“Todos podem pronunciar todas as questões que acreditam em relação ao Lula, ao processo e a legitimidade, mas não podem calar aqueles que defendem a democracia e acreditam que há inúmeras ilegalidades no processo”.
Destacando o assassinato de Marielle Franco como um símbolo do silenciamento que vem ocorrendo no Brasil, Filippo diz que “andam transformando toda a esquerda, não importa se é o PT, o PCdoB ou o Psol, estão transformando ela toda em uma placa criminalizada, como se fosse ‘você é de esquerda, você é criminoso’. A verdade não é essa, a verdade é que toda a direita é criminosa, a verdade é que todo mundo deveria ser processado, cada um proporcionalmente a seus atos, enfrentar a justiça, mas isso não está acontecendo”.
Para o crítico, “o que está acontecendo não é sobre justiça, nem sobre legalidade ou sobre o que Lula fez ou deixou de fazer, é sobre eles quererem silenciar um modo de governo que foi pró-social como se fosse o responsável de algum modo pela crise mundial. Acredito que todos deveriam ter a voz para se candidatar e a possibilidade de se eleger”.
Da redação da Agência PT de notícias, direito de Curitiba, eleições, Dilma Rousseff, Marielle Franco, PY,