Em novo depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nesta quinta-feira (17), o ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, mudou a versão dada anteriormente de que entregou propina de R$ 1 milhão para a campanha de Dilma Rousseff em 2014. Como a defesa de Dilma mostrou provas de que o suposto “cheque da propina” na verdade foi nominal a Michel Temer, ele mudou e agora afirmou que a contribuição de R$ 1 milhão feita ao diretório do PMDB foi voluntária, sem nenhuma origem irregular.
Deputados da Bancada do PT na Câmara usaram as suas redes sociais nesta sexta-feira (18) para criticar a atitude do empresário delator da Andrade Gutierrez, que magicamente transformou a chamada propina em doação legal, de forma conveniente para o presidente ilegítimo.
“Para incriminar o PT, o delator primeiro diz que doação para campanha de Dilma foi propina. Aí Dilma demonstra com um cheque nominal a Michel Temer que o dinheiro ilegal entrou pela campanha do vice, logo ela não tinha conhecimento da origem dos recursos. Crise no golpe, essa é uma prova material da corrupção que deveria ter como consequência a cassação da chapa e do mandato de Temer. O que faz o delator? Simplesmente muda de versão e agora diz que dinheiro foi legal”, escreveu o deputado Jorge Solla (PT-BA), em sua página no Facebook.
Ainda na sua página da rede social, Solla lamenta que o pior é que a situação fica por isso mesmo. “A delação continua válida, a Justiça já não investigará mais o caso. Esqueçam, as instituições só funcionam para alguns”, protestou o parlamentar baiano.
Usando manchetes de jornais, Solla ainda exemplifica como as delações premiadas têm sido usadas conforme a conveniência para atacar o PT ou o ex-presidente Lula. Quando as delações são desmentidas pelos fatos, porém, os delatores são obrigados a mudar de ideia. É o que aconteceu, no dia 7 de abril deste ano, quando a Folha de São Paulo estampou em sua manchete: “Propina abasteceu campanha de Dilma de 2014, diz Andrade Gutierrez”. No último 10 de novembro, porém, o portal UOL – ao qual a Folha é vinculada – destacou que a defesa de Dilma apresentou um cheque nominal de R$ 1 milhão da Andrade Gutierrez para Michel Temer. No mesmo dia, O Globo informou que o delator prestaria novo depoimento sobre o referido cheque. E nesta quinta-feira (17), o jornal Valor Econômico veio com a nova manchete: “Ex-presidente da Andrade Gutierrez nega propina à chapa Dilma-Temer”.
Twitter – Em sua conta no Twitter, o deputado Zé Geraldo (PT-PA) criticou o episódio: “O cara afirma em juízo que deu propina de R$ 1 milhão pra campanha Dilma/Temer. Mas aí apareceu o checão direto pro Temer. Resultado: nega tudo”.
O líder da Bancada do PT, deputado Afonso Florence (BA), também no Twitter, reproduziu matéria do site Brasil 247 sobre o assunto: “Após mirar em Dilma e acertar Temer, delator agora nega propina em 2014”.
O deputado Enio Verri (PT-PR) foi outro que usou o microblog para se manifestar sobre o assunto: “Dinheiro para campanha do PT é propina mas se for para o PMDB é doação legal”.
Já os deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Padre João (PT-MG) reproduziram matéria do site Tijolaço: “Caso Otávio Azevedo revela Justiça ao sabor de canalhas”.
Depoimento – O delator foi chamado a depor novamente na Justiça Eleitoral por determinação do ministro Herman Benjamim, que atendeu pedido feito pelos advogados da campanha de Dilma.
Segundo os advogados que participaram da sessão, Azevedo disse que não houve doação com dinheiro ilícito para a chapa Dilma-Temer nas últimas eleições. Nem para os candidatos separadamente ou seus partidos, que teriam recebido apenas recursos legais.
“Foi um depoimento de retificação em que ele apresentou a nova versão dizendo que se equivocou em relação ao primeiro depoimento e que, ao contrário do que disse, não houve da Andrade Gutierrez, nenhum valor de propina para a campanha presidencial de 2014,” disse o advogado Gustavo Guedes, defensor de Temer.
O advogado da campanha de Dilma, Flávio Caetano, também confirmou que Otávio de Azevedo reconheceu que “não houve nenhuma propina e nenhuma irregularidade na campanha de Dilma e de Temer”.
Contas aprovadas – Em dezembro de 2014, as contas da campanha de Dilma e do então vice-presidente Michel Temer foram aprovadas, por unanimidade, no TSE. No entanto, o PSDB questionou a aprovação por avaliar que havia irregularidades nas prestações de contas apresentadas por Dilma, como doações suspeitas de empreiteiras. Conforme entendimento atual do tribunal, a prestação contábil da chapa é julgada em conjunto.
PT na Câmara com agências