O chamado “efeito Lula” bateu à porta do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Com a progressiva melhora dos indicadores macroeconômicos, confirmada pela inflação de apenas 3,16% no acumulado de 12 meses em junho, representantes do setor produtivo esperam um corte da taxa básica de juros na próxima reunião do Comitê de Politica Monetária (Copom), marcada para os dias 1º e 2 de agosto.
Setores da indústria, do agro e da construção civil ouvidos pelo jornal Folha de S. Paulo consideram que o início de um ciclo de cortes na Selic, hoje no patamar surreal de 13,75%, irá promover um aumento da produtividade e do consumo das famílias, acelerando o crescimento da economia. A pressão, portanto, só aumenta sobre Neto, o dândi do mercado financeiro.
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A avaliação geral é que o ambiente positivo construído pelo presidente Lula abre espaço para uma expansão mais acelerada do setor produtivo. A indústria, por exemplo, que vem se recuperando com as medidas de incentivo ao setor pelo governo, já poderia se beneficiar de uma taxa de juros compatível com a atual realidade econômica do Brasil. Nesta quinta-feira (13), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE) divulgou balanço do setor para o mês de maio.
A constatação é que a indústria avançou em 10 de 15 regiões avaliadas pela Pesquisa Industrial Mensal Regional (PIM Regional). Em comparação com maio de 2022, a produção cresceu em 12 dos 15 locais analisados e chegou a 1,9%.
Na média nacional, em maio, a indústria cresceu 0,3% em relação a abril, resultado ainda muito abaixo do potencial do setor. As maiores altas foram registradas no Amazonas (12,8%), Pernambuco (5,6%) e Paraná (5,3%). Sozinho, o parque regional de São Paulo, o mais rico e diversificado do país, avançou 2,9%.
“A redução da taxa de juros deverá melhorar o cenário prospectivo para a indústria de transformação”, aponta Igor Rocha, economista-chefe da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), em entrevista à Folha. “Com melhores condições financeiras, é possível colocar em prática novos planos de investimentos e estimular o consumo de bens mais sensíveis ao crédito”, defende.
Para o economista, não há dúvidas de que a taxa Selic a 13,75% é mais nociva para a indústria de transformação do que para a economia em geral. A Fiesp calcula que, para cada cada ponto percentual de aumento da taxa real de juros, o impacto sobre o PIB do setor é 50% maior do que o do PIB total do país.
Além disso, os juros impedem o acesso ao crédito, como atesta a diretora-executiva de competitividade, economia e estatística da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Cristina Zanella, também em depoimento ao jornal.
“Hoje a taxa de juros para investimentos, a depender do perfil da empresa, pode ultrapassar 20% ao ano, valor muito superior ao retorno do investimento. Neste cenário o investimento produtivo se torna inviável”, lamenta Zanella. Para a economista, o crescimento sustentável do país tem de se apoiar no aumento do consumo das famílias, hoje estrangulado pelo endividamento gerado a partir dos juros exorbitantes do bolsonarista Neto.
Agro impactado por juros extorsivos
Até o agronegócio, um dos setores mais fortes do país, vem sofrendo perdas por causa da Selic. À Folha, o vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Ingo Ploger, confirmou que as pequenas e médias empresas do agro se endividaram por causa dos juros. O resultado foi uma queda em novos investimentos.
“Isso fez com que a evolução da produtividade fosse afetada. Investimentos em armazenagem que são urgentes no Brasil quase pararam, deixando o setor mais vulnerável a intempéries de mercado e do clima”, ressalta.
Ploger calcula que uma redução da taxa de juros permitirá ao setor obter melhores condições de financiamentos e voltar a investir. “Haverá um alívio para o capital de giro, liberando recursos para investimentos, que se tornam mais viáveis, com os financiamentos para equipamentos e insumos mais adequados”.
Enquanto o país avança em agendas fundamentais para a retomada do crescimento, a exemplo da reforma tributária e do novo regime fiscal, Neto, o príncipe da Faria Lima, encontra-se em férias. Espera-se que a merecida pausa igualmente interrompa o período de sabotagem ao Brasil que tem marcado sua gestão desastrosa à frente do BC.
PTNacional, com Folha e Valor