Capitalismo: concentração de renda retorna aos níveis do século XIX

renda oxfam

Um relatório divulgado pela Oxfam Internacional nesta semana, mostrando que ainda em 2015 a riqueza acumulada do 1% mais rico do planeta superou a dos 99% restantes, indica que o capitalismo levou a humanidade de volta aos níveis de concentração de renda do século XIX, “quando as fortunas cresciam sem medo nem do imposto de renda nem do imposto sobre as sucessões”, conforme diz o economista francês Thomas Piketty*.

Em 2014, enquanto o grupo de 1% mantinha 48% de toda a riqueza, os 99% mais pobres detinham 52%. Desde 2010, no entanto, esses números seguem tendências inversas, que favorecem a concentração. De acordo com o estudo, feito com base em dados do Credit Suisse, a riqueza de 1% da população mundial superou a do restante um ano antes do previsto.

Para além dos números surpreendentes, a concentração de renda em tais níveis resulta numa desigualdade brutal de acesso a direitos e a serviços públicos de qualidade. “Quando a taxa de remuneração do capital ultrapassa a taxa de crescimento da produção e da renda, como ocorreu no século XIX e parece provável que volte a ocorrer no século XXI, o capitalismo produz automaticamente desigualdades insustentáveis, arbitrárias, que ameaçam de maneira radical os valores de meritocracia sobre os quais se fundam nossas sociedades democráticas”, diz Piketty em seu livro “O Capital no século XXI”, que virou um inusitado best seller graças ao interesse crescente de não especialistas sobre o que ocorre com a economia mundial.

Um relatório da Oxfam de 2015** citava que a lista da Forbes com as 80 pessoas mais ricas do planeta também segue ritmo de concentração. Em 2010, esse grupo detinha 1,3 bilhão de dólares, cifra que em 2014 subiu para 1,9 bilhão de dólares. Ou seja, em quatro anos, o grupo ficou 600 milhões de dólares mais rico, cifra nada desprezível. Em 2015, apenas 62 pessoas possuíam a mesma riqueza de 50% da população mundial mais pobre, que compreende 3,5 milhões de pessoas. Em 2010, esse grupo de pessoas que detinha 50% da riqueza mundial era composto de 388 pessoas, número que caiu para 80 em 2014 e diminuiu para 62 pessoas em 2015. A Oxfam afirmou que o fato de as 62 pessoas mais ricas do mundo acumularem o equivalente à riqueza dos 50% mais pobres da população mundial revela uma concentração de riqueza “impressionante”, ainda mais levando em conta que, em 2010, o equivalente à riqueza da metade mais pobre da população global estava na mão de 388 indivíduos.

Na opinião de Piketty, para que a democracia “possa retomar o controle do capitalismo financeiro globalizado”, são necessários “novos instrumentos” adaptados ao cenário contemporâneo. “O instrumento ideal seria um imposto mundial e progressivo sobre o capital, acompanhado de uma grande transparência financeira internacional. Essa instituição permitiria evitar uma espiral desigualadora sem fim e regular de forma eficaz a inquietante dinâmica da concentração mundial de riqueza”, propõe o pesquisador no seu livro.

Já em 2015 a Oxfam havia exigido “a realização, este ano, de uma cúpula mundial para reescrever as regras fiscais internacionais”, de acordo com a diretora-geral, Winnie Byanyima. “A amplitude das desigualdades mundiais é vertiginosa”, disse Winnie, para quem “o fosso entre as grandes fortunas e o resto da população aumenta rapidamente”.

grafico riqueza

Confira os estudos da Oxfam:

[2015]

[2016 – sumário executivo]

*Citado em “Thomas Piketty e o segredo dos ricos”, livro organizado por Silvio Caccia Bava, do Le Monde Diplomatique Brasil, e publicado pela editora Veneta.

**Relatório intitulado “Riqueza: tenerlo todo y querer más”.

Rogério Tomaz Jr. com informações da Rede Brasil Atual e da BBC Brasil

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