Brasil e Chile convocam reunião da Unasul para debater acordo Colômbia–EUA

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Michelle Bachelet, do Chile, convocaram reunião do Conselho de Defesa da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) para debater o acordo que permitirá aos Estados Unidos utilizar bases militares na Colômbia. A decisão foi comunicada ao final de reuniões bilaterais realizadas ontem (30) em São Paulo. A reunião será realizada no dia 10 de agosto, em Quito, a fim de analisar a presença militar dos EUA em bases da Colômbia.

Os dois presidentes se posicionaram contra a instalação de bases norte-americanas naquele país, tema que tem gerado conflitos entre os presidentes colombiano, Álvaro Uribe, e venezuelano, Hugo Chávez.

Em entrevista coletiva concedida ontem, depois do Seminário Empresarial Brasil-Chile, na sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Lula disse que não quer se envolver em assuntos do presidente Uribe porque não gostaria que ele desse palpite em assuntos de seu governo.

“A mim não me agrada mais uma base norte-americana na Colômbia, mas como eu não gostaria que Uribe desse palpite nas coisas que faço no Brasil, prefiro não dar palpite sobre as coisas de Uribe. Vamos conversar pessoalmente porque nós temos liberdade e confiança para ter um diálogo livre e aberto”, disse ele, que anteontem recebeu um telefonema de Chávez para conversar sobre o tema.

A presidente chilena concordou com a afirmação de Lula. “Certamente muitos países estão inquietos com essa situação”.

Além da questão da base, Lula também quer reunião com EUA sobre Quarta Frota dos EUA, reativada no ano passado, pelo governo George W. Bush, para atuar nas Américas do Sul e Central. Lula quer discutir o tema com o próprio presidente Barack Obama. Ele lembrou que já havia feito um pedido ao então presidente George W. Bush para debater o assunto.

“Mandamos uma carta dizendo que nós não víamos com bons olhos a ideia da Quarta Frota porque me parece que a linha territorial dela é quase que em cima do nosso pré-sal”, afirmou, observando que a questão deve ser debatida “com muito cuidado” para não gerar conflitos entre países.

Por sua vez, a Espanha decidiu também unir-se ao Brasil no questionamento a Washington sobre as bases. O assunto das bases foi tema de conversas na quarta-feira e ontem entre autoridades brasileiras e o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, em visita ao Brasil. Segundo um influente diplomata que participou das discussões, o governo brasileiro está preocupado com as consequências do tratado em regiões próximas à fronteira com o Brasil.

O Itamaraty já deu instruções aos embaixadores na Colômbia e nos EUA para que consigam o máximo de informações a respeito do acordo. Ontem, ao lado de Moratinos, o chanceler Celso Amorim afirmou que a situação é preocupante. ” A Colômbia explicou que as bases serão administradas por autoridades colombianas. Mas sempre é algo que desperta alguma preocupação (a presença de bases estrangeiras), porque vivemos num continente pacífico”.

A avaliação geral é que o presidente Barack Obama surpreendeu a todos negativamente com o acordo. Isto porque Obama tem defendido a pacificação na região.

DETERIORAÇÃO – O anunciado acordo ente Colômbia e EUA jogou mais combustível nas deterioradas relações entre Bogotá e Caracas. A Venezuela solicitou à Organização dos Estados Americanos (OEA) – um dia depois de o secretário-geral, José Miguel Insulza, ter pedido à Venezuela que evite a adoção de medidas drásticas contra a Colômbia – que analise o acordo militar entre Bogotá e Washington. “Se o acordo for assinado, nossa relação (com a Colômbia) nunca mais poderá ser a mesma”, declarou o embaixador venezuelano em Bogotá, Gustavo Márquez.

“(O acordo) Poderia permitir que os EUA utilizassem essas bases (militares) para lutar contra o que eles considerarem terrorismo ou o que eles definem como eixo do mal”, completou o embaixador venezuelano.

Na visão do governo Chávez, o eventual acordo entre a Colômbia e os EUA é “ofensivo” para a região, sobretudo para os países andinos. A Colômbia, por sua vez, tem pedido explicações a Caracas sobre como armas suecas compradas pela Venezuela na década de 80 chegaram às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A denúncia foi feita segunda-feira pelo governo Uribe.

Equipe Informes, com agências

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