Depois de criticar publicamente repetidas vezes a participação dos médicos cubanos no Mais Médicos, programa criado pela ex-presidenta Dilma Rousseff, Bolsonaro recua e quer os profissionais de volta. Em mais um capítulo de suas idas e vindas, que mostra o despreparo e falta de conhecimento das políticas públicas brasileiras, Jair Bolsonaro vai buscar os cubanos que ainda ficaram no Brasil e tenta reintegra-los, segundo noticiou a coluna Painel da Folha de S. Paulo desta segunda-feira (7).
Pelo Twitter, o deputado federal Marco Maia (RS) disse que esse arrependimento comprova que o novo presidente tratou o programa de forma irresponsável. “Lá vem o Bolsonaro arrependido. Depois da irresponsabilidade de atacar os médicos cubanos do Mais Médicos, Bolsonaro recua e quer os profissionais de volta”, afirmou.
A tática de colocar as raposas para tomar conta do galinheiro parece ser uma constante no governo Bolsonaro. Na saúde a lógica perversa se mantém. A pasta foi assumida por Luiz Henrique Mandetta (DEM), investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois e ele conta com o apoio, na chefia do programa Mais Médicos de Mayra Pinheiro, uma declarada inimiga dos médicos cubanos.
Em 2013, na implementação do programa, Mayra participou de protesto na Escola de Saúde Pública do Ceará. Na ocasião, médicos brasileiros receberam os colegas de profissão cubanos com chamando-os de “escravos”.
Sobre o Mais Médicos, programa bastante atacado por Bolsonaro e seus asseclas, parece que há uma contradição recente no discurso, o que também não é nenhuma novidade na atual gestão do País. Com a baixa adesão dos profissionais brasileiros na área da saúde, os cubanos, que eram chamados de “despreparados” e “açougueiros”, agora são chamados de “irmãos”.
“A arrogância e o despreparo do discurso de que o Brasil não precisava de médicos cubanos tem prazo de validade vencida no governo Bolsonaro. Não durou uma semana”, afirma o deputado federal eleito, médico e ex-ministro da saúde e criador do Mais Médicos Alexandre Padilha.
30% “menos médicos” – O ataque aos médicos cubanos causou um buraco na saúde pública, principalmente nas cidades do interior do Brasil. Cerca de 30% das vagas para médicos no programa não foram preenchidas e em Estados como Roraima, por exemplo, das 72 vagas apenas três havia sido ocupadas até início de dezembro passado. Padilha complementa. “Quem mais sofre com a postura absurda contra o Mais Médicos e o discurso contra o SUS é o povo brasileiro. Eu não quero que a maioria da população tenha que pagar pelo discurso do Bolsonaro”.
Depois da lambança, Mayra Pinheiro, a mesma que protestou contra os médicos cubanos, agora tenta um novo Revalida (Sistema de Revalidação de Diplomas Médicos) aos profissionais da saúde que ficaram no Brasil. “Esse discurso é bastante controverso, porque se validar o diploma os médicos vão poder atuar em qualquer lugar: no setor privado, nos grandes centros da medicina privada e não nas áreas mais vulneráveis”, acrescenta Padilha.
O recado passado pelos responsáveis pela saúde pública no governo Bolsonaro é bem nítido e ele não se preocupa com o povo. “Cada vez mais se mostra que a preocupação maior do Bolsonaro é fazer uma luta política e ideológica com Cuba e zero preocupação com o povo brasileiro que precisa desses médicos e dessas médicas”, finaliza Padilha.
Agência PT de Notícias