Enquanto o Brasil já registra mais de 114 mil mortes pelo novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro promoveu, nesta segunda-feira (24), a cerimônia “Brasil vencendo a Covid-19”. No evento, realizado no Palácio do Planalto, o negacionista Bolsonaro voltou a defender o uso da hidroxicloroquina, que não tem eficácia comprovada cientificamente, no tratamento dos pacientes diagnosticados com o vírus. Além de negar a ciência, Bolsonaro atacou novamente a imprensa. O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, não participou da cerimônia.
O deputado Jorge Solla (PT-BA), que também é médico, classificou a estratégia de Bolsonaro para o enfrentamento do coronavírus de genocídio. “Bolsonaro chama de vitória uma estratégia de enfrentamento do coronavírus que matou 115 mil brasileiros e seguirá matando milhares todas as semanas, até que haja uma vacina. Eu chamo de genocídio. Alguém que consegue comemorar em cima da dor de tantas famílias que perderam seus entes, mortes completamente evitáveis, eu chamo de genocida”.
Para o parlamentar, o presidente da República usa o medicamento como isca para desviar a atenção. “Esse papo de cloroquina é tão fora de propósito, que Bolsonaro o usa como isca, tenta desviar a atenção com uma falsa polêmica, tenta desviar do debate sobre sua estratégia de imunidade de rebanho que, sabíamos desde o início, custaria a vida da população, especialmente a mais pobre, que teve e tem maior dificuldade de acesso à saúde. Bolsonaro quis pagar esse preço e, por ele, vai ser julgado no Tribunal de Haia por crime contra a humanidade”, observou Solla.
Em abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma Nota Informativa alertando o governo que a cloroquina não deveria ser usada contra a Covid-19. “Recomendamos ao Ministério da Saúde e Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 que os comprimidos de hidroxicloroquina fabricados pelo Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército e pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos – Farmanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz, sejam destinados exclusivamente às indicações terapêuticas já aprovadas por esta Anvisa e que constam na bula do medicamento”, diz o relatório.
Falta compromisso com a vida
Para o ex-ministro da saúde, deputado Alexandre Padilha (PT-SP), o governo continua mostrando a sua falta de compromisso com a vida. “Mais um crime de responsabilidade de Bolsonaro: ignorou nota técnica da Anvisa que não recomendava o uso da hidroxicloroquina, o governo transforma o debate da cloroquina em um ato político ignorando a ciência. O governo, ao ignorar a Anvisa, mostra que seu compromisso não é com a vida, mas sim, com a produção de fake news”.
Ataque à imprensa
Bolsonaro voltou a insultar jornalistas. Durante sua fala, ele afirmou que a imprensa debochou quando disse que seu histórico de atleta o ajudaria caso fosse infectado pelo coronavírus. Apontando para os jornalistas, Bolsonaro disse: “Quando pega em um bundão de vocês, a chance de sobreviver é bem menor. Só sabe fazer maldade, usar a caneta com maldade em grande parte. Tem exceções, como o Alexandre Garcia. Mas a chance de sobreviver é bem menor do que a minha”.
“Mais de 110 mil brasileiros mortos. São milhares de famílias destruídas pela doença. E o presidente da República tem coragem de fazer uma declaração dessas. Inadmissível. Desumano”, escreveu o deputado Leonardo Monteiro (PT-MG) em suas redes sociais.
Lorena Vale