A insensatez do governo Bolsonaro fez com que a 3ª onda da Covid-19 chegasse ao Brasil e, junto com ela, trouxesse a cepa indiana, classificada como B.1.617. Nem alertas mundiais ou colapso da Índia fizeram com que o presidente da República e seu ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, adotassem barreiras sanitárias rígidas como a situação exige. O governo federal deixou completamente abertas as fronteiras por terra, mar e água.
Levantamento realizado pela agência Contas Abertas, a pedido da Globonews, mostrou que os gastos da Anvisa na vigilância de portos, aeroportos e fronteiras foram os menores nos últimos 20 anos. Em 2020, foram destinados R$ 17 milhões nesse tipo de ação. O valor representa menos da meta do de 2019 (R$ 48 milhões) e 19,4% dos R$ 88 milhões investidos em 2018, antes da pandemia.
Outro grave problema enfrentado pela Agência de Vigilância Sanitária é a ausência de servidores públicos em número suficiente para fazer as devidas barreiras sanitárias contra a Covid-19. Em 2019, eram 1.726 servidores. Em 2020, o número caiu para 1.580 servidores. O último concurso público realizado pela Anvisa foi 2016, quando contava com 2.743 servidores.
Aliado ao vírus invasor, o governo Bolsonaro promoveu mais cortes no orçamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para 2021. Em mais um ano de pandemia, Bolsonaro incluiu a Anvisa no corte de R$ 19,8 bilhões de recursos do Orçamento da União, sancionado em 22 de abril. Ao todo, foram bloqueados R$ 25.066.564.
Novo risco do descaso
Exemplo crasso do recorrente descaso da gestão de Bolsonaro no combate à pandemia é o caso de um passageiro que desembarcou em São Paulo vindo da Índia na semana passada. Ao descer no Aeroporto Internacional de Guarulhos, apresentou atestado de PCR negativo, foi testado para a nova variante e, em seguida, liberado.
Como o Brasil não exige obrigatoriedade de quarentena, enquanto não sai o resultado, ele foi liberado para seguir viagem para Campos dos Goitacazes, no Rio de Janeiro. Ocorreu que, posteriormente, seu exame apontou que ele carregava a cepa indiana. O estrago já estava feito.
As autoridades sanitárias brasileiras, sob o comando do governo de Jair Bolsonaro, seguem incorrendo nos mesmos erros do início da pandemia: ignoram completamente os protocolos e medidas de controle da pandemia, muito menos promovem testagem em massa da população.
Nem mesmo a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado fez com que bolsonaristas recuassem em seu negacionismo e adotassem medidas eficazes de combate à pandemia. O processo segue de forma muito lenta. O presidente continua insistindo em sua tese de imunidade de rebanho, mas pelo contágio e não por vacinação.
Em entrevista à Globonews, nesta sexta-feira, 28, o cientista Miguel Nicolelis disse que o governo brasileiro repete o comportamento negligente que teve desde o início da pandemia, deixando abertas as “portas de entrada” do país para o vírus.
O que precisa e já deveria ter sido feito, de acordo com o neurocientista, é adotar medidas de vigilância e acompanhamento das pessoas que chegam do exterior. Nicolelis citou o exemplo de vários países da Europa que suspenderam voos vindos da Índia por várias semanas para conter a entrada da nova cepa.
A terceira onda chegou e trouxe com ela a variante indiana. Apenas tomar temperatura e distribuir material informativo nos aeroportos internacionais brasileiros não vai adiantar de nada.
Episódio 7 do meu podcast em parceria @elpais-brasil aquihttps://t.co/KKnoDV4qNi— Miguel Nicolelis (@MiguelNicolelis) May 28, 2021
Na quarta-feira, 26, a Prefeitura de São Paulo informou que vai começar a fiscalizar o aeroporto de Congonhas, mas não disse nada sobre o Aeroporto Internacional de Guarulhos, um dos mais movimentados da América Latina e o maior do Brasil em fluxo de passageiros em grande parte vindos do exterior.
O País já regista ao menos sete casos da variante indiana da Covid-19. O primeiro caso foi identificado em São Luís, no dia 14 de maio, quando um indiano de 54 anos foi internado e diagnostica com a cepa indiana. Ele era tripulante do navio MV Shandong da Zhi, que aportou no Maranhão vindo da Malásia. No Ceará, um caso suspeito da variante indiana está sendo monitorado.
PTNacional