A condição de ex-presidente não pode garantir espaço gratuito para divulgar mentiras, ofensas e ameaças
O dia 29 de março terminou com a propagação de que um tsunami desembarcaria no Aeroporto Internacional de Brasília. No dia 30, acordamos com uma marolinha saindo por uma porta lateral. No entanto, é prematuro que o campo progressista comemore os ares de insignificância que se transformou a volta de Bolsonaro ao Brasil. Ainda é cedo.
Pela primeira vez em 32 anos sem mandato, existe uma expectativa generalizada de qual será o papel do ex-presidente daqui para frente. Principalmente da imprensa, que precisa colar um rótulo nele.
Minha sugestão é que tratemos Bolsonaro pelo aquilo que ele é: um inimigo da democracia. Enquanto deputado, por 28 anos ele propagou o preconceito, exaltou a ditadura e pregou o assassinato de “esquerdistas comunistas”. Como presidente, frequentemente ele colocou em cheque nosso sistema eleitoral, conclamou seus apoiadores a pedir o golpe militar, além de eleger o STF como principal inimigo, entre outros absurdos.
Em toda sua trajetória política, o ex-presidente nunca mostrou o mínimo de seriedade, respeito e compromisso com as instituições, em especial com a imprensa. Sem papel institucional, os jornais não deveriam desperdiçar um caractere para divulgar alguma coisa que ele diga. Por sua história, inaptidão para a liturgia da vida pública e, principalmente, por seus permanentes ataques às instituições democráticas, a condição de ex-presidente não pode garantir espaço gratuito para divulgar mentiras, ofensas e ameaças.
Não sugiro que ele seja ignorado pela imprensa. Seu desgoverno foi responsável por muitos males que deixou feridas que estão abertas em nosso país. Que ele seja citado por cada ação dolosa que ele teve à frente da presidência e, a medida que investigado e julgado, punido pelos crimes que for culpado. Mas isso já é caso de justiça.
Chegamos em um momento que devemos refazer novos pactos sociais pela democracia, para que seja ainda mais protegida daqueles que atentam contra ela, seja lá qual cargo essas pessoas tenham. Podemos começar parando de dar voz àqueles que não tem nada que preste para dizer.
Jilmar Tatto é Deputado Federal (PT-SP) e Secretário Nacional de Comunicação do PT