Relatório da ONG Oxfam divulgado nesta sexta-feira (9) revela que até o fim do ano 11 pessoas podem morrer de fome por minuto no mundo. Esse cenário está ilustrado no documento, intitulado “O Vírus da Fome se Multiplica”, que aponta que a causa da mortandade que se vislumbra está ligada à cenários de conflitos armados, aos efeitos da crise climática e aos impactos da pandemia. Segundo o relatório, o Brasil está entre os focos emergentes de fome, ao lado da Índia e da África do Sul.
“O que nós considerávamos uma crise de saúde global se transformou rapidamente em uma crise de fome intensa, que expôs a grande desigualdade que existe no nosso mundo”, diz o relatório. Segundo os pesquisadores, “o pior ainda está por vir, a menos que os governos enfrentem com urgência as causas do problema”.
Ao avaliarem esse quadro catastrófico divulgado pela ONG, parlamentares da Bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara apontam que tudo isso é fruto do descompromisso do governo atual, e ausência de projeto de desenvolvimento que priorize a população brasileira.
“A política ultraliberal de Temer e agora de Bolsonaro, com privatizações, desmonte das políticas sociais e carestia trouxeram de volta a fome, o desemprego e uma ampliação imensa da desigualdade”, opinou a deputada Natália Bonavides (PT-RN).
Reconstrução do Brasil
Para Natália Bonavides, só há um caminho para enfrentar essa situação, e o PT, segundo ela, tem elaborado um plano de transformação e reconstrução do Brasil, que passa pela reversão das privatizações, pela revogação do teto de gastos e de todas as medidas que desmontaram a legislação social, trabalhista e ambiental.
“Para isso, precisamos derrotar o governo Bolsonaro, seus aliados e suas políticas. Nesse sentido, a mobilização popular é imprescindível. É com força social que poderemos derrotar o programa ultraliberal e construir uma alternativa democrática e popular, para que tenhamos um Brasil livre da fome, da miséria e do desemprego”, asseverou a deputada.
Retomar o Estado brasileiro
O deputado Padre João (PT-MG) lamentou que a fome e a miséria que assolam o País não estejam assustando as lideranças políticas, “no sentido de buscar um conjunto de ações convergentes para superar esta humilhação do ser humano”.
O parlamentar mineiro enfatizou que o primeiro passo é a retomada o Estado brasileiro, para, assim, implementar e resgatar um conjunto de políticas e de programas que vão ao encontro das pessoas, “para garantir dignidade, e o essencial, é assegurar o acesso ao alimento em quantidade, qualidade e regularidade”.
“O governo do PT mostrou não somente para o Brasil, mas para o mundo inteiro – com reconhecimento da ONU, através da FAO – que é o país que, em menor tempo, reduziu as desigualdades, em menor tempo saiu do mapa da fome. Então, o Partido dos Trabalhadores já fez e está preparado para fazer mais e melhor”, argumentou Padre João.
Inclusão
O deputado Paulão (PT-AL) reconheceu a importância da temática levantada pelo estudo da Oxfam. Ele lembrou que depois que o PT assumiu a Presidência da República, principalmente com o presidente Lula, o Brasil superou a questão da fome.
“Nós incluindo 40 milhões de pessoas, superando aquela linha da miséria que atingiram essa população. Infelizmente, depois do golpe da presidente Dilma, no governo golpista do Temer, e agora, com esse governo genocida do governo Bolsonaro, a gente volta a ter fome”, lamentou Paulão.
Negacionismo impactou a fome no Brasil
Para o deputado alagoana, o grande eixo que impactou a volta da fome do Brasil foi a questão da pandemia e a falta de respeito do presidente Bolsonaro. Segundo o parlamentar, Bolsonaro não respeitou a ciência, não aceitou as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), não teve articulação com os governadores e com os prefeitos.
“Ele (Bolsonaro), negou a ciência e, hoje, a gente tem 530 mil mortes no Brasil, tem a quebradeira de micros e pequenas empresas, 15 milhões de desempregados e em a volta da inflação. Esses elementos foram determinantes para que, infelizmente, o Brasil voltasse ao mapa da fome e da miséria, que envergonha o mundo”, criticou Paulão.
Milhões sem nenhuma renda
Segundo o estudo da Oxfam, o auxílio emergencial instituído pelo governo foi garantido para 38 milhões de famílias em situação de vulnerabilidade. No entanto, deixou milhões de pessoas sem nenhuma renda mínima.
“A pandemia de Covid-19 escancarou as desigualdades brasileiras e trouxe essa emergência da fome a milhões de pessoas no País”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
De acordo com a diretora, o Brasil vive essa “situação catastrófica porque há uma negligência sem tamanho com a vida das brasileiras e brasileiros, que estão sem vacinas, sem ter o que comer, sem emprego e sem renda”.
No Brasil, há quase 20 milhões de pessoas passando fome, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, da pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan). E a extrema pobreza quase triplicou, passando de 4,5% da população para 12,8%.
Vírus da fome
Segundo o relatório da Oxfam, o número de pessoas vivendo em situação de fome estrutural aumentou cinco vezes desde o início da pandemia, chegando a mais de 520 mil. E mais 20 milhões de pessoas foram empurradas em 2021 a níveis extremos de insegurança alimentar. Com isso, o total é de 155 milhões em 55 países.
Os conflitos armados foram a maior causa de fome desde o início da pandemia e principal fator que levou quase 100 milhões de pessoas, em 23 países, a níveis de crise alimentar. A fome também se intensificou em países de renda média como Brasil, Índia e África do Sul, que também têm sido duramente afetados pela pandemia de covid-19.
Benildes Rodrigues, com RBA