Em artigo, o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), denuncia que o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, praticam um jogo perigoso para chantagear o Congresso Nacional a aprovar a reforma da Previdência, que é drástica para o povo brasileiro e um verdadeiro presente de papai Noel para os bancos. Ele se refere à ameaça de Guedes de deixar o cargo, se a reforma proposta pelo governo (PEC 6/2019) for desidratada no Congresso, e à resposta de Bolsonaro de quem ninguém é obrigado a ficar no cargo. Para Pimenta, é um jogo de faz de conta.
“A reação do capitão-presidente de que “ninguém é obrigado a continuar ministro”, não convenceu qualquer pessoa de que haja algum atrito com seu ministro que só vê números do mercado financeiro, cortes e ignora o povo brasileiro e os interesses nacionais”, afirma o líder do PT. ” A reação de Bolsonaro mostrou apenas uma figuração para ressaltar o método: chantagear o Congresso Nacional e a sociedade, para impor à nação os desígnios do capital financeiro atrelado ao objetivo de extorquir a sociedade brasileira com a destruição do sistema de Seguridade Social inscrito na Constituição de 1988.”
Leia o artigo:
A chantagem como método
Paulo Pimenta (*)
Faltou ensaio aos bailarinos Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, a dupla que nesses cinco meses ficou habituada aos improvisos diários para se equilibrar na corda bamba que eles próprios estenderam sob os pés do País. O ministro da Economia, ao ser indagado por uma revista semanal sobre como reagiria, caso seja modificado o projeto de Reforma da Previdência, cujo alvo é liquidar a Previdência pública no Brasil, saiu com a primorosa declaração: “Pego um avião e vou morar lá fora. Já tenho idade para me aposentar”.
A reação do capitão-presidente de que “ninguém é obrigado a continuar ministro”, não convenceu qualquer pessoa de que haja algum atrito com seu ministro que só vê números do mercado financeiro, cortes e ignora o povo brasileiro e os interesses nacionais. A reação de Bolsonaro mostrou apenas uma figuração para ressaltar o método: chantagear o Congresso Nacional e a sociedade, para impor à nação os desígnios do capital financeiro atrelado ao objetivo de extorquir a sociedade brasileira com a destruição do sistema de Seguridade Social inscrito na Constituição de 1988.
Irresponsabilidade – Com a repercussão da irresponsabilidade de ambos, vieram depois os desmentidos. Primeiro, o ministro da Economia afirmou seu “total compromisso com a retomada do crescimento econômico do país” e rechaçou “qualquer hipótese de que possa se afastar desse propósito” . Em seguida, o desmentido do capitão: “O ’casamento’ com Guedes está mais forte do que nunca” . Foi mais uma lambança, os dois não desmentiram nada, apenas revelaram falta de talento para esse “pas-de-deux” mal ensaiado, digno de uma trama de teatro infantil.
As declarações de Paulo Guedes soariam no mínimo esquisitas em qualquer país. Imaginem um ministro da Economia da França, da Itália, do Reino Unido declarar: se o projeto não sair como eu quero pego um avião e vou morar fora… A declaração do ministro da Economia revela de forma inequívoca o nível de compromisso que mantém com o Brasil: nenhum. E com a democracia: zero. Há poucos dias o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), advertia sobre o óbvio: não existe projeto que saia do Parlamento da mesma forma que entrou.
Desapreço ao Brasil – As declarações de Guedes alcançaram uma síntese rara: seu desapreço pelo Brasil e pelo regime democrático, espelhando com fidelidade o pensamento (?) e os métodos do seu chefe. Que crédito da sociedade merecem esses dois senhores – o capitão e o ministro – que pela manhã fazem uma afirmação para desmenti-la sem titubear no fim da tarde?
Essas idas e vindas na antevéspera de um movimento desencadeado pelo próprio Bolsonaro, no início da semana, para reduzir os efeitos de sucessivas derrotas no Parlamento e tentar abafar o declínio da popularidade na sociedade, revelam a tentativa de escapar a uma situação que encaminha para o isolamento político. Não dá para enfrentar uma batalha no Congresso em torno da Reforma da Previdência com um volume perigoso de contradições e dissidências na própria base do governo. As manifestações deste domingo ( 26) representam um lance de alto risco para fazer frente a uma conjuntura desfavorável e dar alguma coesão à base social do capitão-presidente .
Charlatanismo – Até agora, cinco meses depois de assumir com pompa e circunstância o Ministério da Economia, na condição de superministro, só colheu resultados negativos para a economia, plantados desde o golpe de Estado de 2016, e colecionou revezes na relação com o Parlamento.
A resposta ao charlatanismo, à pilhagem dos direitos dos aposentados e dos trabalhadores, dos recursos naturais do país, começa a se manifestar nas ruas com as jornadas em defesa da educação pública gratuita de qualidade e em defesa da Seguridade Social, pela voz dos estudantes, professores, das mulheres, da juventude e dos trabalhadores. O movimento começou no dia 15 de maio e terá prosseguimento com as mobilizações de 30 de maio e com a greve geral de 14 de junho.
O Brasil precisa de seriedade e de governantes comprometidos com o futuro do País, que respeitem a soberania nacional e os direitos sociais, econômicos e trabalhistas da população. Um governo que faça a economia girar, com investimentos produtivos, para a criação de empregos e renda. O povo já está cansado de tanta incompetência de um governo que em cinco meses não mostrou nada útil, pelo contrário, aprofunda a crise econômica e leva o Brasil à depressão e a uma crise sem precedentes. A mobilização popular, em diferentes setores, não permitirá retrocessos!
(*) Deputado federal (PT- RS) e líder do Partido na Câmara dos Deputados
PT na Câmara