Bolsonaro demite diretor do Inpe para esconder verdade sobre a Amazônia

Bolsonaro segue tentando encobrir os seguidos fracassos de seu governo. Enquanto mais da metade da população não sabe apontar uma medida positiva de sua administração, Jair prefere manter seu discurso de preconceito e ódio sem parar. O desemprego e o desmatamento seguem em alta, e o ex-capitão insiste em ignorá-los. E agora, demite aqueles que expõem os dados, que claramente demonstram o desgoverno do país.

Em sua última negação dos fatos, Bolsonaro exonerou o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, órgão que divulgou o aumento de 68% do desmatamento na primeira quinzena de julho em relação ao mesmo período de 2018. Galvão assumiu o cargo em 2016, depois de passar por um criterioso processo de seleção. O processo de escolha, que acontece desde 1999, avalia o currículo e a carreira científica dos candidatos.

Para o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), a demissão de Ricardo Galvão é mais uma amostra do “autoritarismo de Bolsonaro e da destruição da democracia e do Estado de Direito no Brasil”. Em sua conta no Twitter o líder afirmou ainda que “esse fascismo será contido e a democracia vai florescer novamente”.

E a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), ao criticar a demissão, destacou que o general Augusto Heleno ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ainda quis jogar o desastre de Bolsonaro para debaixo do tapete. “Essa é a prática desse governo, não dar transparência à gestão pública, mas não adianta esconder os malfeitos, todo o mundo está vendo o que esse governo representa”, afirmou. Ela se refere as declarações do general de que “seria conveniente que não alardeássemos” os dados sobre desmatamento.

“A mentira vencendo a verdade”, ironizou o deputado José Guimarães (PT-CE), em sua conta no Twitter. “Um governo do ódio e da mentira agredindo a ciência e a consciência ambiental do País. Diretor do Inpe será exonerado após críticas do governo a dados de desmate”, completou.

Outros parlamentares da Bancada do PT também usaram suas redes sociais para criticar a demissão do diretor do Inpe. O deputado Odair Cunha (PT-MG) disse que é mais fácil exonerar aqueles que apresentam os dados alarmantes sobre aumento do desmatamento no Brasil do que tomar medidas para diminuir a destruição das nossas florestas. “Bolsonaro não aceita a verdade e não admite que outros a divulguem”, protestou.

“Amazônia em risco!”, alertou o deputado Carlos Veras (PT-PE), ao criticar a demissão do presidente do Inpe. “Bolsonaro não tolera os fatos que o desagradam. Quer impor uma realidade paralela para legitimar os seus desmontes”, completou.

O deputado Nilto Tatto (PT-SP) usou letra da música do rapper Criolo para definir a atitude de Bolsonaro “meninos mimados não podem conduzir a nação”. E acrescentou que a exoneração de Ricardo Galvão da direção do Inpe “é mais um ataque da barbárie contra a ciência e a razão”. E o deputado Henrique Fontana (PT-RS) frisou que em um governo que “despreza a ciência e mentir é uma prática, quem diz a verdade é exonerado”.

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) disse que para Bolsonaro “o problema está no INPE e não no aumento do desmatamento”. E o deputado Rogério Correia (PT-MG) avaliou que a queda de Ricardo Galvão na diretoria do Inpe é a perda de um técnico respeitado na área. “Técnico que ‘mitou’ em pleno Jornal Nacional ao acusar Bozo de comportamento de conversa de botequim e piadas de garotos de 12 anos. Mito de verdade seria ele, não o chefe que o demite”.

Negação da realidade ou dissimulação?

O pesquisador do Inpe, Antônio Nobre ressalta o espanto com a demissão inédita de um presidente do instituto: “Em 20 anos, nunca um diretor foi demitido. Eles são escolhidos em um processo meritocrático, que determina que a direção do órgão só pode ser exercida por quem passou por uma avaliação científica”, afirmou em entrevista à BBC Brasil.

No dia 19 de julho, após a divulgação dos dados, Jair sugeriu que o diretor poderia estar a “serviço de alguma ONG” e que se tratavam de “matérias repetidas que apenas ajudam a fazer com que o nome do Brasil seja malvisto lá fora”.

Galvão se defendeu dos ataques e afirmou ao Jornal Nacional, da TV Globo, que:  “a única coisa que o Inpe faz é colher dados, nada mais” e criticou as atitudes de Bolsonaro. “Ele tem um comportamento como se estivesse em botequim. Ou seja, ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas. Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um Presidente da República fazer”.

O desgaste aumentou após Marcos Pontes defender restrições à publicação de dados dos desmatamento. Pontes é ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e colabora com Bolsonaro para encobrir o panorama ambiental vexatório do Brasil. Sem apoio do astronauta, Galvão anunciou à imprensa sobre a própria exoneração, cansado do bate-boca público.

“Tentam incriminar o carteiro pela mensagem”

Antônio Nobre é especialista em rios voadores da Amazônia e está revoltado com a exoneração. “O que estamos vendo é um repique muito sério do desmatamento, relacionado à nova gestão federal, e eles tentam incriminar o carteiro pela mensagem. O mais triste dessa situação é que não há dúvidas, são questões fabricadas pelo governo”, disse à BBC News.

O pesquisador comentou a repercussão internacional negativa em relação à situação ambiental do País: “A comunidade internacional está horrorizada com o que estão fazendo conosco. É muito grave que o governo queira suprimir informações que são públicas desde 2003. A intenção do governo é manipular os dados, os fatos não interessam”.

Bolsonaro foi capa do “New York Times” no domingo (28), em reportagem que destacava o avanço do desmatamento na Amazônia. A revista “The Economist” chegou a sugerir boicote a produtos brasileiros produzidos em área desmatada.

 

PT na Câmara, com Agência PT de Notícias

 

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