O plano de assassinato que agora vem à tona não é um ato isolado; é parte de uma estratégia que contemplava seu projeto pessoal de poder, mesmo que à custa de métodos criminosos
As revelações de um plano para assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes escancaram a face mais sombria de uma conspiração golpista que foi cuidadosamente construída nos últimos anos. E Jair Bolsonaro, como sempre, está no centro de tudo isso. Não há mais dúvidas: ele sabia de tudo, queria o golpe e seria o maior beneficiado. Não por outra razão, na conclusão do inquérito da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe, seu nome aparece como primeiro indiciado.
As provas começam a sobrar: um áudio descoberto pela Polícia Federal de uma conversa entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o general Mário Fernandes, que acabara de sair de um encontro com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, revela que o plano macabro foi autorizado por ele. Também os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica confessaram em seus depoimentos à Polícia Federal, que Bolsonaro lhes apresentou o plano de golpe.
A corroborar a participação direta do ex-presidente na tentativa de abolição do Estado de Direito, temos que durante todo seu governo e após sua derrota nas urnas, ele articulou, incentivou e protegeu redes de extremismo que agiram deliberadamente contra a democracia. Pior: criou o ambiente ideal para que grupos militares, cúmplices de sua agenda autoritária, sentissem-se confortáveis para trair a Constituição e conspirar até mesmo contra a vida de lideranças políticas e judiciais.
Bolsonaro manteve o tempo todo a retórica golpista, encontros obscuros e uma relação de complacência com grupos radicais, indicando que não só tolerou, mas endossou ações que visavam destruir o Estado Democrático de Direito. O plano de assassinato que agora vem à tona não é um ato isolado; é parte de uma estratégia que contemplava seu projeto pessoal de poder, mesmo que à custa de métodos criminosos.
Não cabem mais meias-palavras ou omissões. As instituições brasileiras estão diante do dever histórico de agir com firmeza e rapidez. Se os militares golpistas foram traidores da pátria, Bolsonaro foi o traidor-mor, aquele que entregou a democracia brasileira à beira do abismo.
Não punir Bolsonaro e seus cúmplices é abrir as portas para novos golpes e novas tragédias. Justiça é o único caminho possível. Bolsonaro não é um líder político: é o chefe de uma conspiração contra o Brasil, e deve ser tratado como tal. O país exige que ele pague por tudo o que fez — ou deixou fazer — sabendo de cada detalhe. Golpismo nunca mais!
*Elvino Bohn Gass é deputado federal (PT-RS), vice-líder do governo Lula no Congresso Nacional
Artigo publicado originalmente na Revista Fórum