Bolsonaro agora cita até Mussolini nas redes sociais

A escalada autoritária do presidente Jair Bolsonaro segue sem freios ou mesmo um esforço para manter o jogo de aparências. No domingo, 31, depois de participar de novo ato anti-democrático em defesa do fechamento do Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro compartilhou nas redes sociais a frase: “É melhor viver um dia como um leão, que cem como um cordeiro”. A frase é uma máxima do ditador fascista italiano Benito Mussolini.

Bolsonaro fez a postagem um dia depois de o decano do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, comparar os tempos atuais à queda da República de Weimar, na Alemanha dos anos 30, e a ascensão de Adolf Hitler. “É preciso resistir à destruição da ordem democrática”, alertou. “‘Intervenção militar’, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia, nada mais significa, na novilíngua bolsonarista, senão a instauração, no Brasil, de uma desprezível e abjeta ditadura militar”.

Na tarde desta segunda-feira, 1º de junho, o ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, General Luiz Eduardo Ramos, rebateu Celso de Mello. “Comparar o nosso amado Brasil à ‘Alemanha de Hitler’ nazista é algo, no mínimo, inoportuno e infeliz”, publicou no Twitter. “A Democracia Brasileira não merece isso. Por favor, respeite o presidente Bolsonaro e tenha mais amor à nossa pátria!”, escreveu Ramos.

Ditador foi executado

No domingo, Bolsonaro compartilhou video de um senhor idoso, falando italiano e se queixando do isolamento social. O presidente comenta: “Em 1 minuto o velho italiano resumiu o que passamos nos dias de hoje”. A frase “É melhor viver um dia como um leão, que cem como um cordeiro” remete a uma máxima de Mussolini, executado em 28 de abril de 1945, e cujo corpo – junto com o da amante Clareta Petacci – foi pendurado em praça pública em Milão, depois de perder a 2ª Guerra Mundial.

Celso de Mello: “É preciso resistir à destruição da ordem democrática. ‘Intervenção militar’, como pretendida por bolsonaristas e outras lideranças autocráticas que desprezam a liberdade e odeiam a democracia, nada mais significa, na novilíngua bolsonarista, senão a instauração, no Brasil, de uma desprezível e abjeta ditadura militar”

 

O desabafo de Celso de Mello ocorreu horas depois da ativista de extrema direita Sara Fernanda Giromini, conhecida como Sara Winter, uma das coordenadoras da milícia fascista e armada 300 do Brasil, promover ato em frente ao prédio do STF, na Praça dos Três Poderes. A ativista está acampada na Esplanada dos Ministérios, há 20 dias, com militantes armados, e fez ameaças reiteradas ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo inquérito que apura o envolvimento de apoiadores de Bolsonaro na onda de ataques a integrantes da Suprema Corte. Na tarde desta segunda, ela foi intimada a depor na Polícia Federal.

O ministro Celso de Mello enviou mensagem a colegas da Suprema Corte pelo WhatsApp, durante a madrugada de domingo, ao tomar conhecimento do manifesto bolsonarista em frente à sede do STF, em que ativistas portavam tochas e adereços usados pela Ku Klux Klan, grupo de terroristas e supremacistas brancos dos Estados Unidos, criado em 1865 e que linchava e assassinava afro-americanos. Símbolos nazistas e de cunho racista têm sido usados pelo bolsonarismo com frequência, inclusive em manifestações de rua.

‘Ovo da Serpente’

O decano do STF denunciou na mensagem aos outros ministros a escalada autoritária de apoiadores do presidente. “Guardadas as devidas proporções, o ‘ovo da serpente’, à semelhança do que ocorreu na República de Weimar (1919-1933), parece estar prestes a eclodir no Brasil!”, alertou Celso de Mello. “O Ovo da Serpente” é um filme do diretor sueco Ingmar Bergman, lançado em 1977, que relembra o ambiente na Alemanha nos anos 20, quando a derrota da 1ª Guerra Mundial gera as crises econômica e social, com a consequente deterioração do poder e da falta de perspectiva de futuro, que propiciaram a ascensão do nazismo.

“É preciso resistir à destruição da ordem democrática, para evitar o que ocorreu na República de Weimar quando Hitler, após eleito por voto popular e posteriormente nomeado pelo presidente Paul von Hindenburg, em 30 de janeiro de 1933, como chanceler da Alemanha, não hesitou em romper e em nulificar a progressista  democrática e inovadora Constituição de Weimar, de 11 de agosto de 1919, impondo ao país um sistema totalitário de poder viabilizado pela edição, em março de 1933, da lei (nazista) de concessão de plenos poderes (ou lei habilitante) que lhe permitiu legislar sem a intervenção do Parlamento Germânico”.

Da Redação da Agência PT

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