BNDES não deu dinheiro a países latino-americanos

Em artigo publicado em sua coluna no site Brasil de Fato, Juliane Furno, doutoranda em Desenvolvimento Econômico na Unicamp, desmonta a fake news (notícia falsa) amplamente divulgada contra o Partido dos Trabalhadores, na qual afirma que os governos do PT deixaram de investir nas empresas nacionais para dar dinheiro aos países latino-americanos vizinhos.

“O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não financia governos e nem empresas desses países. O BNDES financia empresas brasileiras! O Porto de Mariel, em Cuba – por exemplo – não recebeu financiamento estatal brasileiro. Foram 400 empresas brasileiras contratadas pelo governo cubano para realizar o empreendimento, para forneceram equipamentos para a construção do porto”, explicou. Leia abaixo a íntegra do artigo:

 

BNDES não deu dinheiro a países latino-americanos

 

Dentre as diversas fake news e notícias simplórias mal-intencionadas utilizadas nessa eleição, algumas ganham centralidade. Não vou aqui me prestar a responder a acusações do tipo: “O Brasil vai virar uma Venezuela”, porque isso é de uma ignorância suprema! Basta dizer que o PT passou 13 anos no governo, teve maioria no Congresso Nacional, o ex-presidente Lula deixou o mandato com 80% de aprovação nacional, e nem por isso viramos uma Venezuela. Pelo contrário, as comparações feitas com relação ao país vizinho, do tipo “vai faltar comida nos supermercados”, “os comunistas vão tomar nossas propriedades” ou “vai virar uma ditadura comunista”, atestam exatamente o contrário. Nunca os brasileiros mais pobres puderam comer três vezes ao dia e as instituições democráticas foram tão fortalecidas.

Um outro tema corriqueiro nos grupos de whatsapp é o que os governos do PT deixaram de investir nas empresas nacionais e nas obras de infraestrutura local, para dar dinheiro aos países latino-americanos vizinhos, usando o dinheiro do povo brasileiro para financiar “ditaduras bolivarianas”.

Porto Mariel – Em primeiro lugar, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não financia governos e nem empresas desses países. O BNDES financia empresas brasileiras! O Porto de Mariel, em Cuba – por exemplo – não recebeu financiamento estatal brasileiro. Foram 400 empresas brasileiras contratadas pelo governo cubano para realizar o empreendimento. O que fez o banco foi emprestar, financiar essas empresas, como é papel de qualquer banco de investimento estatal, em todos os países do mundo.

Essas 400 empresas contratadas forneceram equipamentos para a construção do porto. Ou seja, esses equipamentos foram produzidos no Brasil, geraram emprego aqui e ainda foram exportados. O que significa, que ajudaram na nossa balança comercial, gerando dólares para o nosso caixa.

Exportador de tecnologia – Além disso, o financiamento, a construção de equipamentos e o desenvolvimento de serviços internos para serem adquiridos no exterior contribui para que o Brasil altere a sua lógica de inserção internacional. Por exemplo, se aos poucos exportarmos mais produtos de alta tecnologia e serviços especializados, menos reféns de continuar sendo um país exportador de carne e soja.

Em 2013, o Brasil teve superávit na Balança Comercial em serviços de engenharia, totalizando um saldo positivo US$ de 3,5 bilhões. Parte decisiva desse resultado se deve à atuação das empresas nacionais vendendo seus produtos e serviços no exterior, e isso só é possível porque há empréstimos do BNDES.

Além disso, todo o desembolso feito pelo BNDES para essas obras nem pode entrar na rubrica “gastos”, por serem empréstimos de longo prazo, e vão retornando aos poucos ao caixa do banco. Em suma, não há absolutamente nenhuma transferência de renda nem às empresas e muito menos aos governos dos países vizinhos.

Como se não bastasse, o total de empréstimos destinados a financiar empresas para atuação no exterior não superou míseros 2% do total de financiamentos do BNDES durante os governos petistas, o que ajuda na reflexão de que não houve priorização do gasto no setor externo em detrimento do financiamento às empresas que prestam serviços para infraestrutura do país.

 

Juliane Furno, doutoranda em Desenvolvimento Econômico na Unicamp

 

Brasil de Fato

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