Muito já foi dito sobre os 100 dias de Bolsonaro. Mas uma coisa é preciso acrescentar: o seu desgoverno não diz respeito apenas à notória incapacidade de Bolsonaro, mas representa também a inviabilidade política e econômica do golpe de 2016.
Afinal, dado o fracasso de suas candidaturas, todo o sistema golpista se alinhou no segundo turno em torno de Bolsonaro, como tábua de salvação para a continuidade do golpe e de sua política econômica ultraneoliberal, que visa ao desmonte do Estado-Nação brasileiro.
O que estampa esse fracasso, que vem do governo Temer, é o conjunto de indicadores econômicos e sociais. A economia não cresce, o desemprego aumenta juntamente com a informalidade do trabalho. A carestia aflige o trabalhador, com a gasolina subindo 23%, o feijão, 41%, e o tomate, 17%. O gás de cozinha virou artigo de luxo. Ao contrário do que diziam os golpistas, de que “bastava tirar Dilma para melhorar”, a situação do país só fez piorar. Culpar o PT desse fracasso permitiu ganhar algum tempo, mas não resolve o problema real, que começa a aparecer agora com os impasses criados pelo “presidente” eleito pelo golpe.
Todas as projeções otimistas caem por terra diante da estagnação econômica, agravada com a doença autoimune que o próprio eleitorado elegeu como presidente e que vem destruindo seus direitos e o que restou da base econômica ativa, inclusive a dos seus apoiadores, como é o caso do agronegócio.
O principal projeto do governo Bolsonaro, responsável pelo apoio eleitoral do mercado financeiro, é rejeitado pela população na medida em que esta tem informação de seu teor.
A pesquisa do Vox Populi, publicada neste mês de abril, revela que 65% dos brasileiros são contra a reforma da Previdência proposta por Bolsonaro. Quando têm conhecimento dos seus detalhes sórdidos, como o da idade mínima de 65 anos para homens e 62 anos para as mulheres, a reprovação sobe para 73% e para 81%, contra a obrigatoriedade de todos contribuírem por 40 anos para terem o benefício integral.
Ao avaliar o desempenho de Bolsonaro, o Vox Populi mostra que a soma dos itens ruim e péssimo é de 30%, acima da soma dos itens ótimo e bom, de 26%. Do mesmo modo é a soma dos muito insatisfeitos e insatisfeitos com Bolsonaro, que atinge 70%, enquanto a soma dos muito satisfeitos e satisfeitos fica com 26%. Tanto no Vox Populi quanto no Ibope, são contínuas as tendências de crescimento da avaliação negativa e de queda da avaliação positiva.
O fato é que o país está à deriva e muitos dos “de cima” já buscam um porto que acham seguro, que seria o vice Mourão. A questão é como adotar essa solução política artificial quando a saída natural começa a crescer a olhos vistos: a libertação de Lula, com a sua enorme liderança reunificando o país com a volta do Estado democrático de direito.
Continuando a analisar a pesquisa Vox Populi, um verdadeiro termômetro desses 100 dias de Bolsonaro, vemos que 55% dos brasileiros consideram que Lula foi condenado e preso por motivos políticos. Ou seja, a maioria do país considera Lula inocente das acusações absurdas de Moro, apesar do ex-presidente estar proibido de falar e do imenso volume de ataques e de desconstrução midiática de sua biografia.
Passada a onda eleitoral de Bolsonaro, construída com fake news, e com o ainda moderado, mas persistente afastamento de seu eleitorado, Lula volta se mostrar como um líder nacional com bases sólidas, resistentes a ataques, com condições reais de tirar o Brasil da crise e pacificar a sociedade brasileira, que Bolsonaro, a Lava Jato e setores da mídia insistem em mergulhar no ódio e na perseguição de quem pensa diferente.
Os elevados indicadores de rejeição a pontos específicos da reforma da Previdência, ou mesmo de desaprovação a Bolsonaro, deixam evidentes a necessidade de um líder capaz de amarrar todas essas pontas soltas da insatisfação popular na direção da retomada do Estado democrático de direito e resgate dos direitos. Mostra a necessidade de Lula Livre para liderar a libertação do Brasil dos grilhões do fascismo.
Benedita da Silva, é deputada federal pelo PT-RJ
Artigo publicado originalmente pela Revista Fórum