A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) denunciou hoje (14) o governo Bolsonaro como “racista” e anunciou que vai acionar a Justiça contra o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, por ter publicado, em documento oficial, que o acervo cultural da instituição promove, entre outras coisas, uma “bandidolatria”.
“Como um governo pode publicar uma coisa dessa natureza? Como um governo pode aceitar que o negro e a negra nós somos bandidos? Que a nossa produção cultural, que a nossa condição verbal, oral, estética, tudo isso pertence ao banditismo e que as nossas revoluções foram feitas baseada no marxismo?”, indagou Benedita da Silva.
A deputada participou, no dia 30 de junho, de diligência da Comissão de Cultura da Câmara Federal à Fundação Cultural Palmares (FCP) para averiguar as condições estruturais e de preservação do acervo histórico e institucional da entidade. Benedita denunciou várias vezes arbitrariedades de Sérgio Camargo, como um relatório em que anunciou a exclusão de mais de 8 mil livros da biblioteca da fundação.
Desprezo à cultura negra
Em discurso no plenário da Câmara nesta quarta-feira, Benedita criticou duramente Camargo por insistir na tecla de que os milhares de livros da fundação são subversivos, inadequados e “marxistas”. Benedita manifestou indignação com as acusações de Camargo de que a instituição voltada para defender os negros “abriga, protege e louva um conjunto obras pautadas pela revolução sexual, pela sexualização de crianças, pela bandidolatria e por um amplo material de estudos das revoluções marxistas e das técnicas guerrilha”
Ela rebateu a tese obscurantista de Camargo sobre os livros bem como sua afirmação de que os negro se vitimizam. ” Não, nós somos lutadores e lutadoras, lutamos pelo nosso direito, porque nós defendemos a democracia, nós somos contra o racismo. Nós, todos nós do movimento negro, da sociedade, que conhecemos perfeitamente essa luta, sabemos que ela não é uma luta raivosa”, afirmou Benedita da Silva.
Racismo estrutural
A deputada frisou que dados oficiais comprovam que os negros- assim como os indígenas — , têm renda mais baixa e são vítimas de uma estrutura social que acentua as diferenças educacionais, sociais e políticas em relação aos brancos. Ela lembrou que há sub-representação dos negros nos meios políticos e empresariais e nas instituições públicas.
“Existe um conjunto de preconceitos direcionado única e exclusivamente à população negra, que está enraizado no inconsciente e na subjetividade do indivíduo e de instituições neste País, que expressam as ações e as atitudes discriminatórias”, afirmou a parlamentar. Citou como exemplo as abordagens policiais e o tratamentos que negros recebem em restaurantes ou lojas de luxo.
Benedita da Silva assinalou que o Brasil herdou uma vasta cultura de diferentes povos negros que vieram na África, com influências na língua, na culinária, literatura, mitologia, religiosidade, música e na difusão de práticas como a capoeira.
Embora o presidente da Fundação Palmares renegue a participação dos negros na vida do País e também a perseguição a que são submetidos, Benedita citou a presença de grandes nomes negros em diferentes atividades e ao longo da historia brasileira. Como exemplo, citou André Rebouças, José do Patrocínio, Luiz Gama, Francisco Paula Brito, José do Nascimento, o “Dragão do Mar”, jornalistas, escritores e diferentes artistas.
Benedita frisou que é cristão e nada tem contra os marxistas. “Faço a minha luta, porque sei que esse Brasil é um Brasil racista. Ou o Brasil assume isso, ou nós temos que trabalhar o tempo inteiro com o capitão do mato”, sublinhou a parlamentar. “Então, como se calar diante disso, de um Governo racista, e que tem uma equipe racista¿. Não vamos perguntar para ninguém o que eles pensam e querem que nós escrevamos.
Redação PT na Câmara