A autonomia do Banco Central tão exaltada e defendida pelo mercado financeiro está custando muito caro ao povo brasileiro. O órgão hoje é comandado por um indicado de Bolsonaro e de Paulo Guedes que atua como inimigo do crescimento econômico e da política monetária e fiscal aprovada nas urnas. A redução à conta gotas da taxa de juros é prova disso. A Selic hoje está em 10,50% ao ano, não se justifica porque a inflação acumulada em 12 meses caiu de 3,93% para 3,69%.
Esse índice é escandaloso e impede a recuperação mais acelerada da economia que ainda se recupera do desastre gerado pelos desgovernos Temer e Bolsonaro.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir em míseros 0,25 ponto percentual a taxa Selic, paralisando a tendência de “forward guidance”, ou seja, a sinalização da reunião anterior de corte de 0,50 ponto percentual na taxa, vai na contramão do cenário atual. A inflação está controlada já que estamos dentro da meta e os principais índices econômicos seguem positivos, mas o BC segue jogando contra.
A diferença entre o veneno e o remédio é a dose e há tempos o BC perdeu qualquer senso sobre o papel da taxa de juros, atuando em certa medida para alimentar a especulação monetária. Prova disso foi a escandalosa leitura dos especialistas de que o crescimento na geração de empregos e renda da população poderá ocasionar aumento da pressão inflacionária. Inacreditavelmente, quem dita essas ações é o boletim Focus, que serve de porta-voz do sistema financeiro e suas projeções são enviesadas, com critérios nebulosos. Inclusive, o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União estão investigando possíveis desvios do Copom na definição da taxa Selic, diante da influência do boletim Focus.
Para completar o cenário já conturbado, o ex-presidente do BC, Armínio Fraga, teve desfaçatez de ameaçar o governo: “Se quem entrar se meter a besta, a inflação começar a subir e o mercado perder a confiança, vai ser um grande fiasco político, inclusive, e rápido”. Esses movimentos são orquestrados e buscam também pressionar as decisões do Copom e influenciar na indicação do novo presidente da autarquia. Obviamente, eles querem um nome que represente os seus interesses.
Armínio, que parece ser a voz do mercado especulativo, parece que está com a memória fraca. Sua gestão foi um fracasso com inflação fora de controle, aumento do risco Brasil, triplicou a dívida pública para 57% do PIB. Essa turma que já afundou o país agora quer ditar os rumos do governo.
Para eles, Lula não pode governar para o povo. Tem que se submeter aos interesses do mercado. Eles querem que o governo corte gastos, reduza o salário mínimo, desvincule saúde e educação dos aumentos da receita. É arrocho contra o povo para manter os lucros dos bilionários.
A realidade do Brasil com Lula é outra. A desaceleração da inflação é uma realidade e o mercado de trabalho está aquecido. O desemprego ficou em 7,5% no trimestre encerrado em abril de 2024, menor taxa de desocupação para um trimestre desde 2014, a população ocupada chegou a 100,8 milhões e a renda do trabalhador aumentou. Além disso, o Brasil chegou à oitava posição no ranking das maiores economias do país, após o Produto Interno Bruto crescer 0,8% no primeiro trimestre do ano. Mas a turma que joga contra ignora tudo e segue sabotando a economia.
Carlos Zarattini é Economista formado pela Universidade de São Paulo e especialista em Engenharia de Transportes, deputado federal (PT-SP) pelo quinto mandato.