O líder da Bancada do PT na Câmara, deputado Enio Verri (PR), em requerimento ao Ministério da Defesa, solicita informação sobre uma operação realizada pelo Exército Brasileiro que simulou um cenário de guerra na Amazônia. A ação ocorrida em setembro é inédita na região, e segundo foi divulgado pelo jornal O Globo, a simulação custou aos cofres públicos R$ 6 milhões somente em combustível, horas de voo e transporte. Houve lançamento de mísseis com alcance de 80 km, disparo de foguetes (sistema Astros), emprego de viaturas, aeronaves (aviões e helicópteros), embarcações regionais e peças de artilharia, canhões, metralhadoras, entre outros.
O requerimento de informação é assinado também pelos deputados petistas Alexandre Padilha (SP), Arlindo Chinaglia (SP), Carlos Zarattini (SP), Henrique Fontana (RS), Paulão (AL) e Rogério Correia (MG).
Os parlamentares citam no requerimento reportagem que mostra que a “guerra” na região amazônica ocorreu entre 8 e 22 de setembro e que, no dia 18 daquele mês, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, fez uma visita a Roraima, região de fronteira com a Venezuela. Os deputados destacam que a operação ocorreu em “incomum e inoportuno momento de animosidade com a vizinha Venezuela” e relembram que a presença de Mike Pompeo em Roraima recebeu críticas de ex-chanceleres brasileiros que reconheceram na visita “provocação e hostilidade contra uma nação vizinha”.
Questionamentos
Entre os vários questionamentos direcionados ao ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, os petistas querem saber se Mike Pompeo foi avisado sobre a simulação, se chegou a haver ameaças concretas ao Brasil que levassem à simulação e se o País passou a considerar potenciais inimigos externos na América do Sul.
Os deputados do PT querem informações também sobre os pontos de identidade ou de convergência entre a política de defesa do Brasil e a defesa dos Estados Unidos. E citam que é pública e notória a beligerância do governo dos Estados Unidos em relação à Venezuela, sobretudo durante a administração Donald Trump. “É igualmente pública e notória a tentativa do presidente Jair Bolsonaro – e, por extensão, da Chancelaria brasileira – de se aproximar do presidente e do governo norte-americanos, sinalizando o alinhamento automático do Brasil à política externa daquele país. Até que ponto as Forças Armadas brasileiras partilham de tal posicionamento? Em que medida o alinhamento automático na política externa influencia nossa defesa nacional?”, indagam.
Cobram ainda se o governo brasileiro consultou seus pares norte-americanos a respeito da Operação Amazônia, se houve algum tipo de cooperação entre os governos do Brasil e dos EUA, e se no âmbito do Mercosul, o governo brasileiro consultou ou informou os países-membros do bloco a respeito da operação. Questionam ainda se a simulação foi levada ao conhecimento do Conselho de Defesa Sul-Americano, considerando o papel do colegiado no processo de concertação regional na área de defesa.
Recursos naturais
Questionam também se os recursos naturais brasileiros são motivos de preocupação defensiva e teriam ensejado a Operação Amazônia. “Há ameaça naquela região ou em outra para nossas riquezas naturais passível de ser respondida com o tipo de ação simulada?”
“Cabe ao Parlamento, legítimo representante da sociedade, indagar e receber informações precisas sobre os reais objetivos desses exercícios de vulto das Forças Armadas nas áreas fronteiriças, realizadas em meio às queimadas na Amazônia e no Pantanal e à pandemia do novo coronavírus, simulando combates contra supostos ‘inimigos’ externos, na presença de representantes de outros países e contribuindo para aumentar a tensão entre países com relações tradicionalmente fraternas”, argumentam os parlamentares no documento.
Leia a íntegra do requerimento:
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Vânia Rodrigues