As críticas de lideranças do PT à inação do desgoverno Bolsonaro para cuidar das famílias mais pobres desde que a pandemia eclodiu, em 2020, se comprovam na prática. O Auxílio Brasil de R$ 600 pago por Jair Bolsonaro, que em julho equivalia a R$ 491,72, já não compra sequer uma cesta básica em 12 das 17 capitais pesquisadas periodicamente pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos do Dieese até registrou queda do valor do conjunto dos alimentos básicos em 16 das 17 capitais, entre julho e agosto. No entanto, no acumulado de 2022, o custo da cesta básica aumentou em todas as cidades, com destaque para Belém (14,00%), Aracaju (12,87%) e Recife (12,35%).
A comparação do valor da cesta entre agosto de 2021 e agosto de 2022 também mostra que todas as capitais apresentaram alta de preço. No período, as variações oscilaram entre 12,55%, (Porto Alegre) e 21,71% (Recife).
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Nas 12 regiões metropolitanas onde o auxílio é insuficiente para comprar uma cesta básica, 2,4 milhões de famílias enfrentam esse problema. São Paulo, a cidade mais rica do país, também apresenta o maior contingente de famílias nessa situação (700 mil).
Famílias como a de Claudia di Silverio, moradora da favela de Paraisópolis, que passou a receber em julho o Auxílio Brasil de R$ 600. “Esse dinheiro de R$ 400 não dá o mês inteiro, e R$ 600 ajuda um pouco mais. Mas, como as coisas estão tão caras, vai ser bem difícil”, disse a mãe de duas crianças ao portal G1.
“Eu acho que R$ 800 daria pra amenizar um pouco mais, mas não ia ficar tranquilo”, ressalta ela. “Na verdade, é só para ter alimentação mesmo. Para poder comprar as coisas pras crianças, infelizmente não consegue fazer muita coisa, mas também não vai faltar”, comenta Claudia, que faz um “bico” cuidando de um idoso da região.
“Os R$ 600 (do Auxílio Brasil) não são suficientes para a pessoa que mora na região metropolitana de SP comer o suficiente e ter as calorias necessárias, por isso que tem a volta da fome”, analisa Naercio Menezes, coordenador da Cátedra Ruth Cardoso e professor do Insper, no G1. “Eu defendo os valores diferenciados porque o custo de vida é diferente”, conclui o pesquisador.
Bolsonaro só pagou auxílio de R$ 600 porque o Congresso obrigou
Desde o início da pandemia, Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes resistiram à ideia do benefício emergencial para trabalhadores na informalidade. Quando se dobrou às pressões, sugeriu meros R$ 200. Coube ao Congresso Nacional, graças ao trabalho da oposição, elevá-lo a R$ 600.
No fim de abril de 2020, mais de 40 dias depois do anúncio do benefício, pelo menos 30 milhões de pessoas ainda esperavam o pagamento. Em setembro de 2020, após reduzir o valor para R$ 300, Bolsonaro deixou claro que não desejava pagar o benefício. Em dezembro de 2020, Guedes excluiu o auxílio emergencial do orçamento de 2021.
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Em novembro do ano passado, a Caixa iniciou o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 400,00. A oposição queria R$ 600, mas o desgoverno Bolsonaro foi contra. Só mudou de posição às vésperas das eleições, quando encaminhou ao Congresso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 15/2022, mantendo o valor só até 31 de dezembro.
Pesquisa Datafolha do fim de julho já mostrava que 56% dos eleitores consideravam insuficiente o benefício de R$ 600. Para as lideranças do PT, o Auxílio Brasil como um todo é uma política pública de má qualidade, que ignora as especificidades das famílias mais pobres e exclui boa parte delas com critérios sem fundamento.
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Uma das maiores críticas do Auxílio Brasil de Bolsonaro, a ex-ministra Tereza Campello denunciou a deturpação do Cadastro Único (CadÚnico) sob “Bozo”. “Interesses meramente eleitorais levam a programas mal desenhados e que não contribuem com a construção de políticas públicas planejadas e estáveis. Não deixa de chamar a atenção que, mais uma vez, são mulheres e crianças as prejudicadas”, afirmou ao fim de sequência de postagens no Twitter.
1) Provas de como a destruição do Bolsa Família e imposição do mal desenhado Auxílio Brasil levaram a deturpação do Cadastro Único? Com Bozo, o número de pessoas “morando só”, a maioria homens, cresceu 172%. Famílias com mais de duas pessoas, a maioria com crianças, cresceu 25%. pic.twitter.com/NKJi3OQcpx
— Tereza Campello (@CampelloTereza) September 12, 2022
Medidas econômicas de Bolsonaro e Guedes empobreceram as famílias
Conforme os dados do Dieese, com base na cesta mais cara (São Paulo), o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 6.298,91, ou 5,20 vezes o mínimo de R$ 1.212,00. Em agosto de 2021, o mínimo deveria ter ficado em R$ 5.583,90, ou 5,08 vezes o valor vigente na época (R$ 1.100,00).
Mas Bolsonaro deu as costas para a brutal queda do poder de compra das famílias decorrente da inflação de dois dígitos e em 2019 extinguiu a política de reajuste real do mínimo adotada pelos Governos Lula e Dilma. Ao mesmo tempo, a “reforma trabalhista” de Michel Temer e o desgoverno Bolsonaro fizeram com que os que recebem o piso representem percentual cada vez maior da massa de mão de obra do país.
No primeiro trimestre de 2022, o índice de trabalhadores que ganham apenas um salário mínimo no país, formais ou informais, chegou a 38%. No último trimestre de 2015, quando Dilma Rousseff ainda era presidente, o percentual era de 27,6%. Consumado o golpe contra Dilma, três anos depois, o índice já havia chegado a 30,09% com o usurpador Michel Temer. Após Bolsonaro, o índice cresceu 8,2 pontos percentuais.
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Ao extinguir o reajuste real do piso, Bolsonaro interrompeu o longo processo de valorização dos governos petistas. De 2004 a 2019, ele representou reajuste acumulado de 283,85%, enquanto a inflação (INPC-IBGE) foi de 120,27%.
O resultado é a degradação da qualidade de vida das famílias brasileiras mais pobres. Pela primeira vez, o Brasil apresenta dois anos seguidos de queda no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Organização das Nações Unidas (ONU), e já se encontra atrás de 15 nações da América Latina.
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No início de 2022, a fome já castigava mais de 33 milhões de pessoas, aponta o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 (Vigissan). Na última semana, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) apresentou o detalhamento do Vigissan, revelando que, sob Bolsonaro, a fome avançou em todas as regiões de país.
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Do PT Nacional