Em discurso feito na tribuna da Câmara, nesta quarta-feira (6), os deputados Jorge Solla (PT-BA) e Paulão (PT-AL) alertaram para a gravidade da denúncia veiculada no jornal Folha de S. Paulo envolvendo Adriano Nóbrega, miliciano assassinado, ligado à família do presidente da República, Jair Bolsonaro. “Ele (Adriano) já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto”, revela a irmã do miliciano.
Segundo a matéria, uma escuta telefônica feita pela Polícia Civil do Rio de Janeiro há dois anos mostra uma irmã do ex-policial militar, Daniela Magalhães da Nóbrega, acusando o Palácio do Planalto de oferecer cargos comissionados em troca da morte do ex-capitão. Nobrega foi assassinado em 9 de fevereiro de 2020.
Para o deputado Jorge Solla, o que consta nesse áudio, mostra que Palácio do Planalto se tornou o comando-geral da milícia armada no Brasil. “O presidente da República comanda, do terceiro andar do Planalto, um verdadeiro grupo de extermínio”, qualificou Solla.
“Cargos comissionados no governo federal foram oferecidos como recompensa para quem executasse Adriano da Nóbrega, um miliciano do Rio de Janeiro que virou uma pedra no sapato da família Bolsonaro, porque sabia demais”, disse Solla.
O parlamentar entende que o Brasil precisa dar um basta na milícia que ocupou o Palácio do Planalto. “O Brasil de Bolsonaro é trevas! Estamos vivendo o esgoto da nossa história enquanto Nação. O que há de mais podre e grotesco hoje comanda nosso País”, lamentou o parlamentar.
“Rachadinha”
Segundo o deputado Solla, as pessoas envolvidas no caso sabiam demais porque tinham trânsito junto à família do presidente da República. “Sabiam demais, porque a mulher e a mãe de Adriano foram funcionárias fantasmas do gabinete de Flávio Bolsonaro, participaram da rachadinha”, lembrou o parlamentar baiano do esquema que rolava no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Solla disse ainda, que Adriano Nóbrega era o elo entre a política, o crime organizado, e a milícia. “Se ele abrisse a boca, ia dar muito problema. E não podemos esquecer o caso do miliciano que matou Marielle e Anderson, indo ao condomínio de Bolsonaro e pedindo para ligar para a casa do Presidente”, recordou.
Organização criminosa
Para o deputado Paulão, a sociedade brasileira amanheceu estarrecida com a matéria da Folha de S. Paulo. “Isso é muito grave. Espero que a Procuradoria-Geral da República tenha a altivez e coragem de abrir o procedimento para responsabilizar essa organização criminosa que vem governando o Brasil”, exigiu o deputado.
Arquivo morto
Na gravação autorizada pela justiça, Daniela Magalhães da Nóbrega afirma a uma tia, dois dias após a morte do irmão numa operação policial na Bahia, que ele soube de uma reunião envolvendo seu nome no palácio e do desejo de que se tornasse um “arquivo morto”.
“Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo”, disse Daniela Magalhães da Nóbrega.
Operação Gárgula
Segundo a reportagem da Folha de S. Paulo, a gravação faz parte das escutas realizadas pela polícia no âmbito da Operação Gárgula, às quais o jornal teve acesso, que miraram o esquema de lavagem de dinheiro e a estrutura de fuga de Adriano.
Por mais de um ano a polícia ouviu conversas de familiares, amigos e comparsas do ex-PM. Daniela não é acusada de envolvimento nos crimes do irmão.
A fala sobre o Planalto foi feita em conversa com uma tia dois dias depois da morte de Adriano, num suposto confronto com policiais militares no interior da Bahia. Desde aquele dia a família suspeita de uma execução para “queima de arquivo”, o que até o momento não foi comprovado.
“Ele falou para mim que não ia se entregar porque iam matar ele lá dentro. Iam matar ele lá dentro. Ele já estava pensando em se entregar. Quando pegaram ele, tia, ele desistiu da vida”, disse Daniela.
Benildes Rodrigues, com informações da Folha de S.Paulo