Newton Lima (*)
A presidenta Dilma Rousseff nem precisou desembarcar no Brasil para que políticos da oposição questionassem a passagem da delegação presidencial por Portugal, dizendo que não era necessária aquela escala na viagem entre Suíça e Cuba. Certamente, o motivo desta ‘mesquinhez’ é outro. É não poder criticar a participação da presidenta no Fórum Econômico Mundial em Davos.
O jornal O Globo afirmou que o discurso de Dilma foi bem recebido por empresários e que a maioria “identificou que o Brasil tem potencial.” Clóvis Rossi registrou, na Folha de S.Paulo, vários depoimentos entusiasmados feitos por políticos e empresários depois de ouvirem o discurso de Dilma no Fórum, no qual ela reafirmou o compromisso de manter a responsabilidade fiscal, o controle da inflação, o câmbio flutuante e os investimentos privados em áreas estratégicas e disse que o Brasil está aberto aos investimentos estrangeiros.
A repercussão positiva de Davos poderia servir para minimizar as críticas dos conservadores ao atual modelo econômico – uma ladainha sem sentido que tende a aumentar às vésperas das eleições. A onda de negativismo levou a presidenta Dilma a denunciar a “guerra psicológica” deflagrada pela oposição. O respeitado jornalista Janio de Freitas publicou um texto memorável, A campanha da moda, na sua coluna na Folha de S.Paulo (5/01), no qual presta solidariedade “aos raros que não se entregam à moda eleitoreira” de criticar a economia brasileira. Afirma ele que a celeuma “em torno do PIB de 1% ou 2% nada significa diante da queda do desemprego a apenas 4,5%. Menor que a admirada Alemanha.”
À alta taxa de emprego, Jânio de Freitas alia o aumento da média salarial, impulsionado, principalmente, pela retirada de 22 milhões de brasileiros da extrema pobreza, graças ao Bolsa Família, e pelo Minha Casa, Minha Vida, que, nas contas do colunista, já beneficiam, ou vão beneficiar em breve, 7 milhões de pessoas “com teto decente, água e saneamento.” Para ele, Dilma acertou ao classificar como “guerra psicológica” esse movimento que visa “enfraquecer o adversário.” O jornalista conclui sua análise apontando que o elemento essencial de uma Nação é o povo e que as discussões sobre PIB, ajustes ficais e gastos públicos só interessam a uma minoria, a mesma que alimenta “um negativismo (…) e a desconsideração do que deu à ‘base da pirâmide’ social alguma percepção de bem-estar”.
A propósito, Paul Singer, também na Folha de S. Paulo (Luta de classes, 13/01) analisa a repercussão da “guerra psicológica” denunciada pela presidenta. Segundo ele, os debates e as críticas ao modelo econômico brasileiro se assemelham ao que ocorre na maioria dos países capitalistas e democráticos, porém com uma diferença: naqueles países “o desemprego é o mais importante problema social, causa de profundo sofrimento dos que se sustentam mediante trabalho assalariado.” Para Singer, reconhecer as críticas à política econômica como luta de classes é fundamental para o eleitor não “pensar que se trata de uma contenda entre peritos e jovens ingênuos que pouco entendem do que está em jogo.”
Portanto, as críticas ao controle da inflação – sempre dentro do teto – não se sustentam, nem outras críticas periféricas, como a redução da dívida pública, em tendência de queda mesmo depois do pacote de desonerações que provocou a renúncia fiscal de R$ 80 bilhões – desonerações, aliás, fundamentais para manter o pleno emprego no país.
A verdade é que o modelo econômico da presidenta Dilma está construindo um país de classe média. O cidadão, ao ter seu emprego garantido, renova as esperanças no país e isso se reflete na maturidade econômica das famílias. Não por acaso, em 2013 o Brasil registrou, pela primeira vez em 14 anos, queda na inadimplência do consumidor. Uma pena que muitos se apequenam ao discutir, apenas, a escala de um avião presidencial ou a cor do vestido da presidenta!
PS. O IBGE divulgou recorde histórico na queda da taxa de desemprego – 4,3% em dezembro e 5,4% no ano, portanto o Brasil está com pleno emprego – para desespero dos soldados da ‘guerra psicológica’.
(*) Deputado federal (PT-SP), é doutor em Engenharia Química, ex-prefeito de São Carlos e ex-reitor da UFSCar.