São Paulo passa por um momento dramático pela falta de planejamento e ineficiência dos governos do PSDB. Pelo menos 80 cidades do Estado estão sob o risco de uma tragédia iminente, e anunciada, o desabastecimento de água. A qualquer momento o governador pode decretar o racionamento, assim como fez o então presidente FHC, entre 2001 e 2002, no apagão elétrico, que custou ao país R$ 45 bilhões.
Nesses quase 20 anos em que estão no poder, os tucanos tiveram apenas três governadores: Covas, Serra e Alckmin. O último, aliás, já governou por três vezes e vai tentar uma quarta. Ainda assim, eles não tiveram a capacidade de dotar o Estado mais rico da nação de um sistema eficiente de produção e distribuição de água. O ex-ministro Alexandre Padilha tem razão quando diz que a ‘bateria’ dos tucanos acabou.
O volume d’água dos reservatórios do Sistema Cantareira atingiu o índice alarmante de 15,7% da capacidade total. É o mais baixo desde 1974. Em Itu, há 40 dias alguns bairros ficam sem água duas vezes por semana; em Valinhos, o fornecimento é cortado duas vezes por semana por 18 horas; os moradores de Vinhedo ficam sem água diariamente por quatro horas.
Sete cidades do interior já sofrem com o racionamento porque a Sabesp, autorizada pelo governador Alckmin, aumentou a vazão para abastecer a região metropolitana de São Paulo. A manobra tenta evitar um colapso que o desabastecimento da capital e entorno provocaria, em especial na imagem de ‘gestor eficiente’ de Alckmin. Antonio Carlos Zuffo, do Departamento Hídrico da Unicamp, disse ao Estado de S. Paulo que adotar o racionamento agora pode evitar uma ‘catástrofe’ no próximo período de seca.
O Consórcio PCJ, uma associação que reúne prefeituras, indústrias e entidades de 43 cidades da região de Campinas, Piracicaba e Jundiaí, divulgou uma nota em que critica a ação da Sabesp. ‘É preferível racionar agora. Não podemos colocar as duas regiões com o maior PIB do país [São Paulo e Campinas] em um risco de calamidade’, diz a nota. Especialistas do Consórcio PCJ apontam como sendo muito arriscada a operação da Sabesp porque, dependendo do volume das chuvas e da utilização da reserva, o Sistema Canteira pode nunca mais se recuperar!
A estiagem deste verão contribuiu para esse caos – choveu, nesse mês de fevereiro, 108 mm, quando a média é de 184 mm –, mas se a Sabesp, a maior operadora de água e esgoto do país, não estivesse sucateada e sem planejamento, esse cenário trágico certamente poderia ter sido evitado. O governo tucano de São Paulo ignorou os alertas da Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (ARSESP), do Consórcio PCJ, da Unicamp e as recomendações do Departamento de Água e Energia Elétrica, dos Ministérios Público Estadual e Federal, para as devidas providências. Sem contar que o desperdício de água atingiu 31,2% em 2013, segundo a ARSESP.
Esse cenário de desgoverno chama ainda mais a atenção quando são analisados os contratos para serviços relacionados aos programas de redução de perdas de água. O site da revista Carta Capital trouxe uma detalhada matéria sobre a promiscuidade entre a Sabesp e empresas do setor ligadas a ex-diretores da estatal. Entre 2008 e 2013, o programa de perdas recebeu R$ 1,1 bilhão, mas não alcançou a meta de redução, pelo contrário, aumentou o desperdício. (ver aqui, zip.net/bjmLtN).
A necessidade de encontrar novas fontes para produção de água é conhecida desde 2004, quando foi assinada a concessão da outorga para a Sabesp explorar o Sistema Cantareira por 10 anos. O Plano Diretor de Recursos Hídricos, que deveria ter sido iniciado imediatamente, começou a ser discutido em 2008 e foi concluído apenas em outubro passado. Na época, o tucano da vez à frente do Estado era José Serra, que estava mais preocupado em alavancar sua candidatura à presidência da República do que governar.
Quem não se lembra das propagandas da Sabesp veiculadas no país inteiro? Estimava-se que em 2009 foram gastos, só com as TV’s, mais de R$ 47 milhões. Moradores do Acre, por exemplo, eram obrigados a saber da atuação da Sabesp no litoral de São Paulo!
(*) Deputado federal (PT-SP), ex-prefeito de São Carlos e ex-reitor da UFSCar.