Em reportagem de mais de 10 minutos neste domingo (2), o programa Fantástico, da Rede Globo, revela o verdadeiro ninho das fake news que corrói e corrompe o sistema político brasileiro. A quadrilha disseminadora do ódio e destruidora de reputações de adversários políticos do presidente Jair Bolsonaro tinha assento, segundo a reportagem, em dependências no Palácio do Planalto.
“Uma rede de contas falsas e milhares de postagens feitas sob medida pra enganar. Uma investigação descobriu que toda essa estrutura no subterrâneo era operada por um pequeno grupo de assessores que mantém relação direta com o poder, com a eleição”, diz a reportagem.
Questionado pelos jornalistas responsáveis pela reportagem, sobre o perigo desse tipo de comportamento, o diretor do Facebook diz que “uma das coisas que a gente sabe é que tem pessoas ruins no mundo todo que usam o comportamento inautêntico pra influenciar eleições, que compartilham informações para deixar os oponentes numa situação ruim”.
O conteúdo analisado pela reportagem traz detalhes do mecanismo dessa rede e revelações sobre o perfil dos integrantes. Uma das peças desse tabuleiro de notícias falsas reveladas pela reportagem, é Tércio Arnaud Thomaz, assessor especial do presidente Jair Bolsonaro e trabalha dentro do Palácio do Planalto. O assessor do presidente, além de uma conta pessoal, mantinha outras duas contas anônimas chamadas Bolsonaro News, diz a matéria.
Ainda, de acordo, com a reportagem, Em 2018, Tércio participou da campanha de Bolsonaro à Presidência. Nesta época, ele era contratado do gabinete do vereador Carlos Bolsonaro. Em 2019, da Câmara Municipal, Tércio vai direto para o Planalto e hoje ocupa um gabinete próximo ao presidente Jair Bolsonaro.
A matéria diz também que Tércio Arnaud é acusado por parlamentares que atuam na CPMI das Fake News de integrar o chamado gabinete do ódio, grupo suspeito de promover ataques virtuais a desafetos da família Bolsonaro.
“Esse histórico de postagens, a que tivemos acesso exclusivo, são peças fundamentais para entender como as redes sociais foram operadas na eleição de 2018”, diz o texto jornalístico.
Rastro da Fake News
Seguindo o rastro das fake news, o Facebook informou recentemente, que redes de contas e registros falsos com ligação ao clã Bolsonaro foram derrubados. No total, foram removidas 38 contas no Instagram, 35 contas, 14 páginas e 1 grupo no Facebook. Essa investigação feita pela plataforma levou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a autorizar a Polícia Federal a acessar informações dessa apuração sobre perfis falsos.
As provas irrefutáveis adquiridas a partir da investigação do Facebook, que rastreou o caminho, o subterrâneo das fake News comandadas pelos filhos, aliados e assessores do presidente Bolsonaro, poderão ser compartilhadas com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão responsável pelo julgamento de ações que pedem a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão.
Eleições de 2018
Ao analisar o conteúdo da reportagem, a deputada Luizianne Lins (PT-CE), integrante da CPMI das Fake News, afirmou que a matéria jornalística só comprova o que já vem sendo dito há muito tempo sobre a ação dos bolsonaristas nas redes sociais. De acordo com a parlamentar, a reportagem não deixa dúvidas sobre o uso de notícias falsas para influenciar as eleições de 2018.
“Então, eu acho que está mais do que provado que na eleição de 2018 teve esse fator organizado de contas inautênticas, de forma coordenada, com objetivo de fazer as pessoas acreditarem no kit gay, na mamadeira de piroca e tantas outras coisas que foram usadas contra o candidato Fernando Haddad”, enfatizou Luizianne Lins.
A deputada relatou que as investigações da CPMI das Fake News sempre apontavam para a existência de uma organização criminosa comandada por pessoas ligadas ao presidente Bolsonaro. Segundo ela, essas pessoas estão nos gabinetes de parlamentares do PSL e no Palácio do Planalto. “Eles criaram dezenas de perfis, com dois milhões de seguidores no Instagram e no Facebook que não são perfis reais”, disse.
“E o que se pode analisar é que a perícia sobre essas contas não foi feita por nenhum adversário político do próprio presidente. Foi feita por duzentos especialistas da própria empresa, o Facebook. E, pelo que a matéria nos diz – de forma muito clara -, por laboratórios de pesquisa forense digital dos Estados Unidos, ou seja, comprovando claramente o comportamento inautêntico para influenciar as eleições”, avaliou Luizianne Lins.
A parlamentar frisou ainda que a matéria deixa claro que as redes sociais bolsonaristas operavam, desde 2018, com o objetivo de prejudicar o adversário de Bolsonaro na corrida presidencial, Fernando Haddad.
“Então, o processo que está no TSE, que pede a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão deve ser votado imediatamente antes que Bolsonaro, com suas fake News, destrua totalmente o nosso País”, reiterou.
Vítima de fake news
Para a deputada Maria do Rosário (PT-RS), vítima constante de fake News bolsonaristas, a reportagem demonstra que várias investigações chegaram “aos mesmos autores de postagens inautênticas que na verdade não passam de crimes cometidos contra a honra, contra a dignidade, crimes também eleitorais”.
“Está claro que em 2018 o resultado eleitoral é fruto de um crime eleitoral. O resultado que levou Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, é fruto desse crime eleitoral”, qualificou Rosário.
A deputada ressaltou que o que a deixa incomodada é que a Câmara dos Deputados já registrou situações em que vários parlamentares passaram por essa destruição moral e ataques de toda a natureza por parte de integrantes do ‘gabinete do ódio’.
Segundo Rosário, existem plataformas voltadas ao ódio, que também estão instaladas dentro da Câmara, dentro do Senado e, agora, no Palácio do Planalto. Rosário acredita que o próprio Legislativo deveria estar mais atento à garantia do exercício do mandato pelos seus parlamentares. “A falta de decoro do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e de outros que utilizam desses expedientes, demonstra que o lugar deles não é a Câmara. O lugar deles é no Conselho de Ética, que deve avaliar e indicar a perda de mandatos de quem comete crimes desse tipo”, recomendou Rosário.
A investigação
Foi esclarecido na reportagem, que o Facebook fez a investigação em duas etapas. A primeira foi comandada por duzentos especialistas contratados pela própria plataforma. A segunda, contou com a participação de pelos pesquisadores do laboratório de pesquisa forense digital, o instituto ligado a organização americana Atlantic Council. As duas investigações chegaram núcleo de assessores políticos.
Segundo a reportagem, a investigação também chegou à rede de contas falsas operada por dois assessores ligados ao deputado Eduardo Bolsonaro. Um deles, Eduardo Guimarães, que já tinha sido descoberto na CPI das fake news, por ter usado um computador da Câmara dos Deputados para criar a conta de ataques virtuais conhecida como Bolsofeios.
O outro assessor apontado na investigação feita pelo Facebook é Paulo Eduardo ou Paulo Chuchu. Ele teve pelo menos seis contas derrubadas, quatro delas fingiam ser redações jornalísticas como The Brasilian Post, The Brasília Post ABC e Notícias de São Bernardo do Campo. “Eles fingiam ser repórteres para dar a impressão de que aquele conteúdo postado tinha credibilidade”, diz o Facebook.
Outro assessor que mantinha pelo menos oito páginas não autênticas era Leonardo Rodrigues de Barros, ele trabalhava para o deputado estadual Alana Passos do PSL do Rio. A matéria diz ainda que funcionários ligados ao senador Flávio Bolsonaro, do Republicanos-RJ participaram do esquema, mas não traz detalhes.
“As páginas são criadas para aparecerem independentes, mas são controladas pela mesma pessoa ou pelo mesmo grupo, trabalhando juntos”, afirmou o diretor do Facebook.
“O que eu posso dizer é que o comportamento enganoso dessas páginas envolvidas começou em 2018, mas a maioria das postagens são do fim 2019 e começo de 2020. A gente tem que ser cuidadoso. Nós encontramos conexões de assessores dos gabinetes de figuras políticas importantes, incluindo Anderson Moraes, Alana Passos, Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro”, apontou o diretor.
Benildes Rodrigues