O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) defendeu nesta quarta-feira (9) que a retomada das aulas presenciais obedeça medidas sanitárias rígidas e de distanciamentos entre os estudantes, e que a volta às escolas aconteça somente se a pandemia estiver controlada e observando a realidade de cada região do País. A afirmação aconteceu durante reunião da Comissão Externa de Acompanhamento do Enfrentamento a Covid-19, que debateu as experiências internacionais no retorno às aulas presenciais pós-pandemia com representantes da Unicef e dos governos do Japão, Coréia do Sul e Suécia, além de educadores brasileiros.
Alguns estados no Brasil já permitiram as aulas presenciais, entre eles o Amazonas, Pará, Rio Grande do Sul e Pernambuco.
“Ninguém é contra a retomada das aulas, o que nós somos contra é a volta sem a garantia de proteção à saúde de nossas crianças, de professores e servidores da educação. Fomos o País que até agora passou mais semanas com média diária de mais de mil mortos pela Covid-19. Por isso que o Brasil é um dos países que ficou com o maior tempo de suas escolas fechadas, essa é a questão. A medida mais urgente para retomar as aulas é o controle da pandemia”, destacou.
Durante a reunião a representante do Unicef Brasil – Fundo das Nações Unidas para a Infância – Florence Bauer, ressaltou que as escolas fechadas trazem um grande prejuízo não apenas para a formação, mas também para o desenvolvimento psicológico das crianças. Porém, ela observou que a retomadas das aulas deve levar em consideração a realidade do controle da pandemia em cada país. “É urgente a necessidade de tomar medidas para a reabertura das escolas, mas essa reabertura precisa estar de acordo com a situação de cada aís, com a situação epidemiológica controlada”, observou.
O embaixador do Japão, Akira Yamada, disse as escolas japonesas foram fechadas em abril, e mesmo com o controle da pandemia no mês de maio, as aulas só foram retomadas no mês seguinte, em junho. “O Japão tem tomado todas as medidas possíveis para zerar os riscos, mas reconhecemos que ainda assim eles existem”, disse.
Já o ministro da embaixada da Coreia do Sul no Brasil, Jang Lee, ressaltou que seu país apresentava alto risco de expansão da pandemia por conta da proximidade com a China, mas que ainda assim se tornou exemplo de controle da doença. Ele disse que, mesmo com a opção dada a cada escola sobre se iria ou não fechar, foram tomadas medidas para evitar a proliferação da Covid-19 entre estudantes e professores.
“Não existe solução mágica para combater o coronavírus. Nosso governo seguiu a regra básica de testar, rastrear e isolar. As escolas puderam escolher se teriam aulas remotas ou presenciais, mas onde as aulas foram presenciais haviam orientações a seguir, de higiene pessoal e distanciamento nas salas de aulas”, explicou. Mesmo com todos esses cuidados, o representante sul-coreano disse que não é possível descartar que ocorra contaminação de estudantes ou de professores.
Já o representante da Suécia, o diretor da Agência Nacional de Educação, Henrik Dahl, destacou que em nenhum momento se cogitou fechar escolas no país escandinavo. Ainda assim, ele disse que medidas de higiene como lavar as mãos e de distanciamento social foram adotados nas escolas para evitar a proliferação da contaminação pela Covid-19.
Volta com segurança
A representante da Vozes da Educação – consultoria técnica que busca a melhoria da Educação Básica no Brasil –, Carina Campos, apresentou um estudo com 20 países do mundo que tem alguma relação com o Brasil, seja pela proximidade ou por laços econômicos ou comerciais, com dados sobre a retomada das aulas nessas nações.
Segundo ela, os países que tiveram êxito na retomada das aulas tem em comum a adoção de algumas medidas: só o fizeram após o controle da pandemia, com curvas de contaminação estáveis – após queda constante – ou na descendente; adotaram medidas sanitárias e de distanciamento social com bons resultados; monitoraram e contiveram os casos isolados; e estabeleceram uma ótima comunicação com a população e agiram com transparência em relação aos dados da pandemia. Entre esses casos estão a Alemanha, China, Dinamarca, França, Nova Zelândia, Portugal e Singapura.
Como exemplos negativos o estudo aponta os casos de Israel e África do Sul, que apresentaram altas taxas de contaminação entre estudantes após a retomadas das aulas e precisaram fechar novamente as escolas. O levantamento também aponta casos onde não é possível ainda avaliar as consequências da volta as aulas, devido ao pouco tempo de reabertura das escolas. Esses são os casos do Chile, Estados Unidos, Nigéria e Uruguai.
Para o representante do Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Roberto Curi, a retomada das aulas no Brasil tem que obedecer a realidade sanitária de cada estado e município. “Não será fácil, mas o retorno, quando houver, não pode representar risco para os estudantes e servidores da educação, e deve obedecer rígido planejamento sanitário”, observou.
Em relação ao prejuízo didático, devido ao longo tempo de afastamento das salas de aulas, o representante do CNE defendeu que a reposição do conteúdo perdido seja mesclada com as aulas presenciais no ano que vem. “Temos que considerar na trajetória curricular todo o esforço feito para mitigar os danos causados pelo fechamento das escolas com as atividades remotas, e a partir da retomada definir o que pode ser aproveitado ou o que terá que ser reposto. Nesse caso, a reposição deve obedecer a lógica presencial e não presencial, entrelaçando os anos letivos de 2020 e de 2021”, apontou.
Também participaram do debate representantes do Ministério da Educação (MEC), do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Héber Carvalho