O vice-diretor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (Lemep), João Feres Júnior, comandou um estudo em que comprova de maneira científica a intensa perseguição do “Jornal Nacional”, da Rede Globo, e da grande mídia em geral, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores.
Em entrevista à Agência PT, o sociólogo, que também é coordenador do site Manchetômetro, destaca que a quantidade de notícias negativas dadas pelo noticiário da emissora global sobre Lula é muito maior do que as relacionadas a lideranças de outros partidos, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
“Aécio Neves foi candidato a presidente, é o principal político do PSDB hoje em dia e objeto de diversas denúncias de corrupção em delações premiadas. Mesmo assim, a cobertura sobre Lula é mais de 10 vezes mais negativa do que a do tucano”, afirma.
“Fernando Henrique Cardoso, então, foi poupado pela cobertura da mídia de uma maneira absurda, apesar de também ter sido acusado de corrupção neste ano. As acusações contra Fernando Henrique nunca viram manchetes. As contra Lula, sempre viram”.
De dezembro de 2015 a agosto de 2016, período compreendido pela pesquisa de João Feres, o “Jornal Nacional” veiculou 12 horas e 52 minutos de matérias com viés contrário ao líder petista. É o mesmo que a transmissão de sete partidas de futebol ou um mês de novela. Os materiais com viés neutro duraram quatro horas.
De acordo com o pesquisador, após o caso do Mensalão, em 2005, a grande imprensa iniciou uma perseguição não somente ao então presidente, mas também ao PT. Além do “Jornal Nacional”, os outros grandes veículos de comunicação do Brasil também passaram a fazer o mesmo papel, como os jornais “Folha de S. Paulo”, “O Globo” e “Valor Econômico”.
“Todos eles têm uma cobertura muito negativa do Lula e ao PT. Muito mesmo. Eles passaram a tentar colocar o PT como o partido responsável pela corrupção no Brasil”, analisa.
“Para ter uma ideia, em março de 2016 as notícias negativas em relação a Lula atingiram uma ordem de 340 matérias por mês nos três principais jornais do Brasil. E estou falando somente das capas. Dá, em média, mais que três por dias em cada jornal”.
A perseguição da mídia a ex-presidente, diz João Feres, tem contornos estranhos por ser tratar de um cidadão sem nenhum cargo político. “O mais absurdo é que Lula não tem nenhum cargo público. Ele é apenas um político conhecido”.
Para efeito de comparação, estudo do Manchetômetro mostra que, durante a campanha eleitoral de 2014, os ex-presidentes Lula e FHC receberam cobertura desproporcional da grande imprensa. O tucano foi alvo de bem menos citações – e a maior parte favorável, enquanto o petista teve muito mais notícias relacionadas a ele, grande parte neutra ou negativa.
Para o pesquisador, a perseguição da grande mídia contra a presidenta eleita Dilma Rousseff foi semelhante a dedicada a Lula. Na corrida presidencial de 2014, por exemplo, a “Folha” deu oito manchetes negativas a Dilma, contra três a Aécio Neves.
Nos casos de “O Globo” e “Estadão”, a situação foi ainda pior. O “Estadão” publicou 32 matérias contrárias a Dilma frente a 8 contrárias ao tucano somente em suas capas, e “O Globo” atingiu a marca de 27 a 4, para os respectivos candidatos. No quadro, há também a então candidata Marina Silva, então no PSB.
A comparação fica ainda mais aparente ao se analisar o “Jornal Nacional”. No gráfico abaixo, vemos a quantidade de notícias negativas do telejornal dedicada aos três principais candidatos, Dilma, Aécio e Marina.
Agência PT de Notícias