Acabou. Senado cassa a presidenta Dilma Rousseff e o voto de 54 milhões de brasileiros

Dilma31082016

Por decisão de 61 senadores que votaram sim contra 20 que resistiram, lá se foram os sonhos de uma sociedade inclusiva, com justiça social e igualdade de direitos e de oportunidades para todos. A presidenta Dilma Rousseff está afastada de seu cargo. Michel Temer que compunha a chapa da presidenta e articulou o golpe, é o novo presidente da República. 

Lá se vão projetos sociais, que mudarão não só de nome, mas de lógica. Sai a preocupação com os mais pobres. Entra a lógica do capital. E uma excepcionalidade ameaçadora paira sobre a Constituição. Não temos mais um presidente eleito. O voto de 54 milhões de brasileiros foi cassado junto com a presidenta. E a democracia atacada mais uma vez.

No dia em que foi promulgada a Constituição, 5 de outubro de 1988, o então presidente do Congresso e da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães encerrou os trabalhos da Assembleia Constituinte com um dos mais belos discursos da História do Parlamento brasileiro. “Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério”, disse. A História julgará os traidores de 2016.

Ulysses, um ícone do PMDB certamente ficaria horrorizado com o golpe urdido por representantes de seu partido, que chegam ao poder nesta quarta-feira (31) pela terceira vez sem ter recebido um único voto que seja. Ulysses, um defensor ferrenho da democracia não aceitaria que se torcessem os fatos para chamar de crime o que não existiu.
O último dia

No sexto e último dia, quarta-feira, dia 31, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski abriu a sessão com quinze minutos de atraso. A acusada não estava presente quando a sentença foi proferida. Nos legalistas, a certeza de que a história reservará a eles o espaço da resistência.

Foram 20 os senadores que brigaram bravamente para assegurar o que determina a Constituição. Não há crime, não há dolo. E os governistas sabem disso. Falam em julgamento político, “conjunto da obra”. Nada disso é previsto na Constituição.

“É uma farsa”, resumiu o senador petista Lindbergh Farias (PT-RJ). Uma farsa promovida por oportunistas, que encontraram na falta de apoio político e da popularidade o argumento para urdir uma trama para desapear a presidenta legitimamente eleita. “É um dia triste para o nosso País”, porque o Senado está cometendo um erro grave”, disse o líder do PT, Humberto Costa (PE), lembrando as forças que articularam.

O julgamento começou na quinta-feira, 25. Em seis dias da longa sessão de julgamento, testemunhas de defesa e acusação desempenharam seus papéis num roteiro já traçado. Era clara a decisão de impedir a presidenta, mesmo que os argumentos legais deixassem claro como água que o tal crime de responsabilidade não se caracterizava.

Na segunda-feira (29), dia reservado para a autodefesa, Dilma submeteu-se a um interrogatório que durou 11 horas e 35 minutos. 48 dos 81 senadores questionaram e ouviram respostas firmes, altivas. Dilma não fraquejou. Não é do perfil dela. É sabido o quanto a presidenta cresce na diversidade. Encarou os golpistas olhando-os nos olhos. Não esmoreceu.
A trama do golpe

O pedido de impeachment contra Dilma, apresentado pelos juristas Miguel Reale Júnior, Janaina Paschoal e Hélio Bicudo, argumentava que ela teria cometido crime de responsabilidade ao editar três decretos de créditos suplementares sem autorização do Legislativo e ao praticar as chamadas “pedaladas fiscais”, que consistiram no atraso de pagamentos ao Banco do Brasil por subsídios agrícolas referentes ao Plano Safra.
Eles alegaram que Dilma descumpriu a Lei Orçamentária de 2015 e contraiu empréstimo com instituição financeira que controla.

Não conseguiram provar, porque Dilma não cometeu ilegalidade e não houve dolo ou má-fé na abertura de créditos suplementares. Além disso, as chamadas “pedaladas” não são empréstimos, mas prestações de serviços cujos pagamentos foram regularizados após orientações do Tribunal de Contas da União (TCU).

O processo de impeachment, como foi demonstrado pelo advogado da defesa, José Eduardo Carcozo, foi aberto como ato de vingança do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por não ter recebido apoio da bancada do PT para barrar o processo de cassação contra ele.

Giselle Chassot
Foto: PT no Senado

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