A presidente “Dilma”, sua herança e seus desafios

dilma rousseffO jornal francês Le Monde estampou na capa da edição do último dia 30 de dezembro um texto que fala sobre a sucessão presidencial no Brasil e o fortalecimento da democracia no País. Cita ainda a “audácia social” do Governo Lula, que tirou milhões de pessoas da miséria.

 “Um operário, uma mulher. Pela segunda vez a democracia brasileira, outrora violentada, hoje vibrante, inova com felicidade. Sábado, 1º de janeiro, o antigo metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva cederá sua cadeira a sua sucessora, Dilma Rousseff, ex-guerrilheira, transformada em economista e tecnocrata, eleita há dois meses primeira mulher presidente do Brasil”. Leia a íntegra:

A presidente “Dilma”, sua herança e seus desafios

Le monde – 30.12.10 –

Dilma Rousseff, a ex-guerrilheira transformada em economista e tecnocrata, assumirá o comando do Brasil em primeiro de janeiro. AFP/Jefferson Bernardes

Um operário, uma mulher. Pela segunda vez a democracia brasileira, outrora violentada, hoje vibrante, inova com felicidade. Sábado, 1º de janeiro, o antigo metalúrgico, Luiz Inácio Lula da Silva cederá sua cadeira a sua sucessora, Dilma Rousseff, ex-guerrilheira, transformada em economista e tecnocrata, eleita há dois meses primeira mulher presidente do Brasil.

“Dilma”, como é chamada por todos, chega à função suprema num contesto muito mais invejável que aquele de 2002. Nenhuma necessidade de acalmar a área dos negócios que ainda temiam, apesar das promessas tranqüilizadoras, o sindicalista barbudo. Graças ao pragmatismo de Lula, nunca desmentido ao longo de oito anos, os capitais afluem desde então para a bolsa de São Paulo para investir e especular.

A nova presidente se beneficia da herança de seu predecessor. Uma democracia consolidada, livre de inflação, a riqueza decuplicada pelo aumento dos preços das matérias primas. Crescimento, emprego, consumo, moeda: os grandes indicadores do Brasil estão no verde. Com destaque para um fabuloso tesouro petroleiro que dorme ao largo de suas costas.

Ao realismo econômico se junta uma relativa audácia social. Graça ao dinamismo ambiente e uma gama de ajudas familiares, quinze milhões de brasileiros escaparam, nos últimos oito anos, do desemprego, integraram-se à economia formal e cessaram de ser pobres ou muito pobres. Eles se juntaram ao crescente exército das classes médias, ávidas de possuir, de consumir e de viver melhor.

Como todo empreendimento inacabado, este de Lula comporta uma parte de sombra, onde Dilma Rousseff enfrentará seus maiores desafios. A educação continua medíocre e desigual. O sistema de saúde funciona com duas velocidades. A violência e a insegurança ganham as metrópoles. A corrupção e o nepotismo corroem a vida pública, num país onde a política é freqüentemente percebida como um simples meio de se enriquecer. A infra-estrutura precisa ser desenvolvida rapidamente para notadamente fazer face ao desafio do Mundial de futebol (2014) e dos Jogos Olímpicos (2016).

Lula lega à nova presidente um país ouvido e respeitado na arena internacional. O Brasil se transformou num ator maior que atrai muitos elogios e agora algumas críticas, por exemplo, com a aproximação com o regime de Teerã. Neste domínio, “Dilma” começou a fazer ouvir sua diferença, exprimindo com força sua preocupação com os direitos humanos, em particular os direitos das mulheres, no Irã e em outras partes.

A Senhora Rousseff deve seu destino glorioso ao apoio inflexível de seu mentor, mas ela não possui nem o carisma nem os dotes de tribuno dele, que são incomparáveis. Ela certamente quer se emancipar pouco a pouco desta tutela benevolente. Professor de otimismo, Lula turbinou o moral da nação. Esta confiança coletiva serve a sua protegida. Mais de quatro brasileiros em cada cinco acreditam que ela governará tão bem, talvez melhor, que o presidente mais popular da história do Brasil. Cabe a ela não os decepcionar.

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