A classe trabalhadora mundial pode barrar o avanço do imperialismo, afirmam lideranças populares

Lideranças de organizações sociais e populares de vários países, inclusive dos que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), afirmaram nesta terça-feira (12) que a crise política internacional – comprovada pelo declínio do capitalismo e das consequentes ações de agressão a soberania dos países mais pobres e a seus povos como forma de manter o poder do imperialismo – só pode ser combatida com a união da classe trabalhadora e das populações marginalizadas de todo o mundo. Essa foi a tônica dos discursos do segundo e último dia do seminário “Brics dos Povos”, promovido pela Liderança do PT na Câmara, que reuniu mais de 60 representantes de organizações sociais e populares de nove países.

O seminário, realizado na Câmara dos Deputados, teve como objetivo debater interesses comuns dos povos desses países frente aos desafios econômicos e sociais e também para firmar posição política frente a 11ª Cúpula dos Brics, que se realiza em Brasília nos próximos dias 13 e 14 de novembro. Nesta terça, foram realizadas duas mesas de debates com os seguintes temas: “Crise Política Internacional e a Luta Popular”, comandado pela vice-presidente da UNE, Elida Elena; e “Desafios do Internacionalismo, da Solidariedade e da Integração dos Povos”, coordenada pelo dirigente do MST, João Pedro Stédile.

Sobre o primeiro tema, o representante do Russian International Affair Council (Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia), Andrey Pyatakov, explicou que a crise política internacional atualmente está alicerçada na disputa por hegemonia entre os Estados Unidos e a China. Segundo ele, é no contexto dessa disputa está inserida a recente ofensiva norte-americana para tentar destruir a soberania de outros países.

“E esse trabalho é realizado por meio do Banco Mundial, do FMI, ou mesmo diretamente através de guerras híbridas ou por meio de golpes de Estado, tradicionais ou não, como no caso que tivemos na Bolívia recentemente”, explicou. A guerra híbrida é uma estratégia militar que mescla táticas de guerra política, convencional e ciberguerra com outros métodos como fake news, diplomacia, lawfare e intervenção eleitoral externa.

Segundo ele, dessas variadas formas os Estados Unidos já tentaram desestabilizar a Rússia e o Irã, por meio de sanções comerciais, países do Oriente Médio, incentivando a Primavera Árabe, e ainda promovendo guerras clássicas na Líbia, Afeganistão e Iraque.

Evo Morales

Foto: Gabriel Paiva

Sobre o mesmo tema, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) manifestou solidariedade ao povo boliviano por conta do golpe contra Evo Morales, e ressaltou que outra face da crise política promovida pelo imperialismo – representado principalmente pelos Estados Unidos –  também se dá pela ofensiva do controle tecnológico do planeta.

“Hoje se fala muito na novidade tecnológica da internet 4.0, mas várias localidades do mundo, sequer existe energia elétrica ou a internet 3.0 nem chegou”, lamentou. Ela observou ainda que o fascismo, uma das faces do capitalismo, também tem se utilizado da tecnologia, por meio de notícias falsas (fake news), como forma de distorcer a vontade popular e mudar o destino de países. “Vimos isso na eleição de Trump nos Estados Unidos, no Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) e na eleição de Bolsonaro aqui no Brasil”, apontou.

O dirigente do Partido Socialista Revolucionário dos Trabalhadores da África do Sul (SRWP), Ilam Shaheen Khan, disse que na falta de resposta a crise do capitalismo, iniciada em 2008, as grandes potências, aliadas às empresas transnacionais, tentam recuperar o prejuízo implementando uma agenda de retirada de direitos em todo mundo. Segundo ele, esse movimento favorece a ascensão da extrema direita – apoiada pelo grande capital e movimentos fundamentalistas religiosos – que oferecem a violência e medidas ultraliberais como forma de resolver os problemas do capitalismo.

“Com isso, conseguem enganar parte da classe média, que fica com medo de ver seu padrão de vida cair ainda mais, e até mesmo a classe trabalhadora. Depois tentam esmagar e desmobilizar as organizações de trabalhadores, para evitar rebeliões ou revoluções que ameacem o capitalismo”, acusou.

Desafios da integração dos Povos

Foto: Gabriel Paiva

Em relação as formas de organização dos trabalhadores para se contrapor aos ataques do imperialismo e do grande capital sobre os direitos dos povos, o representante do movimento Abahlali baseMjondolo (dos moradores de barracos da África do Sul), S’bu Zikode, disse que apenas a luta comum pode se contrapor as forças do capitalismo imperialista.

“O internacionalismo hoje é necessário. Vivemos um momento de empobrecimento da classe trabalhadora ao enfrentarmos as forças globais do capitalismo. Se o capitalismo é global, também temos que lutar de forma global. A vitória de um, tem que ser a vitória de todos”, advertiu.

Para o dirigente do Partido Comunista dos Trabalhadores da Rússia (Russian Communiat Worker’s Party), Aleksandr Mironov, o ressurgimento do fascismo no mundo é um subproduto do capitalismo e mais uma forma de dominação dos movimentos populares. Segundo ele, “apenas uma aliança da classe trabalhadora em todo o mundo pode se contrapor a essa ofensiva”.

Também participaram das mesas de debate o professor de Relações Internacionais da Universidade do Grande ABC (UFABC), Giorgio Romano; o jornalista indiano Bhasha Sing, da Safai Karmashari Andolan (movimento que reúne dalits – a casta mais baixa da Índia); e a ativista da Marcha Mundial das Mulheres e do Capítulo Alba Movimientos, Nalu Faria.

No encerramento da reunião, o líder da Bancada do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), agradeceu a presença dos líderes de organizações sociais e populares presentes à cerimônia. Segundo ele, o seminário foi um momento importante para que “todas as forças refletissem sobre o papel que desejam desempenhar no mundo e a realidade que desejam construir, diante das novas formas de exploração que precisam ser combatidas com gestos que transcendem as ações nacionais”.

A reunião também contou com a participação do ex-ministro das Relações Exteriores do Nepal, Mahendra Pandey – membro do Partido Comunista do Nepal – e dos deputados petistas Paulão (AL), Pedro Uczai (SC), Marcon (RS), Nilto Tatto (SP) e João Daniel (SE), que saudaram a presença do público. Os deputados petistas Valmir Assunção (BA), Carlos Veras (PE), Bohn Gass (RS), Alexandre Padilha (SP), Henrique Fontana (RS) e Rubens Otoni (GO) também compareceram ao seminário.

 

Héber Carvalho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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