Há 30 dias, a esperança do povo está presa
“Completam-se 30 dias que estou aqui aguardando que o Moro e o TRF4 digam qual crime eu cometi. Não sei se os acusadores dormem com a consciência tranquila que eu durmo. A minha tranquilidade é porque eu tenho vocês” – Lula
No instante em que o helicóptero que levava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pousou na cobertura da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba ficou evidente que seus acusadores prendiam não apenas uma pessoa. Sob alegações falsas, prendiam a esperança de boa parte do povo brasileiro em dias melhores. As bombas dispersadas contra as pessoas que aguardavam Lula para apoiá-lo nesse momento difícil eram mais um sinal de que o plano midiático contra Lula não tinha dado certo.
Lula ficou quatro dias sem ver a luz do sol. Em uma cela limitada à luz artificial, com vista apenas para a parte interna do prédio que o detém, o ex-presidente assistiria as horas passarem sem saber se do lado de fora fazia dia ou noite, não fossem os pontuais coros de “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”, entoados por milhares de apoiadores dia após dia, a 900 metros das paredes que o confinavam.
As condições para o banho de sol de Lula só foram regularizadas na Polícia Federal uma semana após sua prisão, quando os termômetros marcavam 15ºC em Curitiba. Naquela data, uma chuva incomoda caía sem trégua. As barracas do acampamento Lula Livre, nos arredores da Polícia Federal, eram cobertas por lonas pretas que cortavam o vento gelado da capital paranaense e abrigavam acampados de todo o país, a maioria deles estranha ao frio curitibano. Seria a segunda oportunidade de Lula, recluso há sete dias, ver “o dia lá fora”. E o ex-presidente da República não hesitou. Seguiu para o pátio onde caminharia em círculos sob a chuva por 1h10 minutos.
Essa é a segunda vez que Lula enfrenta a arbitrariedade de uma prisão política – a primeira durante a ditadura militar. Desta vez, aos 72 anos, precisa responder ao neto Arthur, de apenas seis, perguntas difíceis sobre quando ele volta. As visitas da família foram, durante boa parte desse período, as únicas permitidas pela Justiça. O ex-presidente foi impedido de receber governadores, senadores, deputados, amigos de longa data, um prêmio Nobel da Paz e até mesmo a presidenta eleita do Brasil, Dilma Rousseff.
Nove dias após ser isolado de qualquer convívio, Lula enviou seu primeiro recado à resistência do lado de fora do bloco de concreto que o abriga. “Vocês são meu grito de liberdade”. Os “milhares de Lulas” se revezaram, de todos os cantos do país, para dar guarida ao seu líder. Resistiram nesse período desde às ordens de despejo aos tiros disparados contra o acampamento da Vigília Lula Livre. Prometem não arredar o pé dali.
Lula sabia. Há um mês, em São Bernardo do Campo, ele avisava: “Quanto mais dias me deixarem lá, mais Lulas surgirão por esse país”. E Curitiba, cada dia que passa, vê mais Lulas pelas ruas. A nova rotina da cidade gera curiosidade naqueles que antes se davam por satisfeitos com a acusação mal contada do tríplex oferecida por um processo viciado em ceder às pressões dos que formam opinião no país.
A rotina dos correios também foi alterada. A sede da PF virou parada obrigatória na rota diária do furgão amarelo que traz milhares de cartas, do Brasil e de fora dele, e pacotes com livros e lembranças aos cuidados do presidente. Enquanto aguarda a reparação da Justiça, Lula dedica seu tempo a ler e pensar o Brasil. Acompanha o noticiário com indignação ao lembrar do país que era otimista e que incluía os mais pobres e que agora é implacavelmente destruído.
No roteiro de leitura do presidente, ‘O último cabalista de Lisboa’, ‘A elite do atraso’, ‘Os caminhos de Mandela’, ‘Amor em tempos do cólera’. Histórias de resiliência e busca por liberdade. E é com os livros também que se exercita, revezando-os como halteres, cultivando sua sagrada rotina de exercícios físicos e se preparando para, mais uma vez, consertar o Brasil.
Instituto Lula