Parlamentares, sindicalistas e até representantes da indústria química criticaram nesta terça-feira (10) a intenção anunciada pela Petrobras de fechar as Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen’s), localizadas na Bahia e em Sergipe. Durante os pronunciamentos no plenário da Câmara – que se transformou em Comissão Geral para debater os impactos do Plano de Desinvestimento da Petrobras proposto pelo presidente da estatal, Pedro Parente – foi destacado que a decisão fatalmente irá atrapalhar o desenvolvimento regional, criar mais desemprego e ainda colocar esse setor do mercado nas mãos de empresas multinacionais. O debate foi proposto pelos deputados Caetano (PT-BA) e Daniel Almeida (PCdoB-BA).
“O mercado de fertilizante está em expansão com o aumento da produtividade agropecuária, que apenas em 2017 cresceu 17%. No mercado brasileiro, 85% dos fertilizantes utilizados vem de indústrias da China, da Ucrânia e da Rússia. Não seria mais correto ampliarmos a produção das Fafen’s para invertermos essa lógica, deixando 15% para a indústria estrangeira? ”, indagou Caetano.
Na mesma linha, o deputado João Daniel também criticou a intenção já anunciada pela direção da Petrobras nomeada por Temer, de reduzir os investimentos e apostar apenas na extração do petróleo, forçando a venda de outros setores explorados pela empresa. O petista criticou o argumento utilizado por Pedro Parente de que o preço do gás estaria inviabilizando o funcionamento das fábricas de fertilizantes.
“O governo golpista diz que o setor acumula dívidas por conta do alto valor do gás, mas não tem coragem de dizer que apenas este ano a Fafen de Sergipe ficou 97 dias sem funcionar. E quem aumentou o valor do gás, quem lucra com isso?”, perguntou o deputado se referindo à própria Petrobras, que extrai e comercializa o gás.
O deputado João Daniel observou ainda que as Fafen’s não podem ser fechadas porque são essenciais à soberania do País no setor. “Nos governos de Lula e Dilma se olhava para essa indústria dentro de um contexto nacional e estratégico para o Brasil, e não com o complexo de vira-lata desse governo golpista que deve obediência a seus donos”, acusou o petista.
Em nome da bancada do PT na Câmara, o deputado Nelson Pelegrino (PT-BA) atestou que esse é um setor estratégico para o Brasil. “A China possui 30 fábricas de fertilizantes, e está construindo mais. Enquanto isso, o Brasil que é o 4º maior consumidor de fertilizantes no mundo está fechando suas fábricas. Vamos ficar refém das multinacionais do setor? A guerra comercial entre Estados Unidos e China demonstra que a globalização fracassou, agora é cada um por si. Falta ao Brasil nesse momento defender os seus interesses”, advertiu.
As críticas dos parlamentares também foram confirmadas por representantes dos trabalhadores do setor. O diretor do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), Radiovaldo Costa, criticou a proposta de fechamento das fábricas fertilizantes. “Precisamos discutir o papel da Petrobras no desenvolvimento do País. A atual direção da estatal segue a lógica do mercado, do lucro para os acionistas, sem se preocupar com o desenvolvimento do País e com a geração de empregos”, denunciou.
Segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o fechamento das Fafen’s da Bahia e de Sergipe afetaria os 5,2 mil trabalhadores diretos e 20 mil indiretos, além de reduzir a arrecadação de tributos – para o próprio governo – estimada em 1,6 bilhão de dólares.
“Muito além dos fertilizantes, que é importante para o setor agropecuário, o fechamento dessas fábricas também traria impactos negativos para toda a cadeia produtiva da indústria química, que envolve setores da construção civil, e das indústrias de alimentos, óleos e graxas, couro, têxtil, automotiva, fármacos, higiene e limpeza, mineração e petrolífera”, enumerou Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim.
Segundo o diretor-jurídico da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, a proposta de fechamento das Fafen’s, obedece à lógica neoliberal do Estado Mínimo. “Esse processo não é novidade. Já ocorreu na década de 1990, no governo FHC. Estamos vendo agora uma ‘Ponte para o passado’. A diferença hoje é o pré-sal, que não existia, mas que hoje é cobiçado pelas multinacionais do petróleo”, lembrou.
Héber Carvalho
Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados