Em um discurso de quase uma hora que ficará para a posteridade, o maior líder popular da história brasileira, Luiz Inácio Lula da Silva, mostrou hoje (7) para milhares de pessoas em São Bernardo do Campo (SP) – e para outros milhões no Brasil e no mundo via redes sociais – que a figura de um estadista se constrói acima de tudo pela força de suas ideias. Ao comunicar que iria cumprir o mandado de prisão expedido de forma injusta e ilegal por Sérgio Moro, Lula disse à multidão em vigília nos arredores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC desde a noite da última quinta-feira (5): “vou chegar de cabeça erguida e vou sair de peito estufado”.
A frase traduz a altivez e a determinação de um homem, que, condenado injustamente e massacrado pela mídia por um crime que não cometeu, disse estar disposto a lutar até o fim desse processo para provar sua inocência e voltar a ser presidente da República. Lula, ao cobrar mais uma vez que a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz Sérgio Moro apresentem pelo menos uma prova do seu crime, afirmou convictamente conhecer os reais motivos da sua condenação.
“Eu cometi um crime que eles querem que eu não cometa mais. Se for por esses crimes de colocar preto e pobre na universidade, de fazer pobre comer carne, de comprar um carro, de viajar de avião, de fazer sua pequena agricultura, de ser microempreendedor, de ter sua casa própria… Se esses foram os crimes que eu cometi, quero dizer que eu vou continuar sendo criminoso nesse País, porque vou fazer muito mais”, afirmou Lula, referindo-se à perseguição contra ele.
Disse que tudo o que fez nasceu de um sonho antigo, definindo-se como “um construtor de sonhos”, que há muito tempo havia imaginado ser possível governar o País envolvendo milhões de pessoas pobres na economia, incluindo milhões de pessoas nas universidades e criando milhões de empregos. Disse ainda ter sonhado que seria possível um metalúrgico sem diploma universitário cuidar mais da educação do que os diplomados e concursados que governaram anteriormente o Brasil.
“Sonhei que era possível diminuir a mortalidade infantil, levando leite, feijão e arroz para que as crianças pudessem comer todo dia. Sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocá-los nas melhores universidades desse País, para que a gente não tenha juízes e procuradores só da elite. Daqui a pouco, teremos juízes e procuradores nascidos na favela de Heliópolis, na periferia. Vamos ter muita gente dos Sem Terra, do MTST, da CUT formados. Esses crimes eu cometi”, confessou.
O discurso de Lula foi o de um homem indignado com sua condenação, que é fruto de um processo político e não jurídico, recheado de decisões ilegais e parciais. “Eu talvez viva o momento de maior indignação que um ser humano possa viver. Não é fácil o que sofre a minha família. Não é fácil o que sofrem os meus filhos, não é fácil o que sofreu a Marisa. E o que eu quero dizer que a antecipação da morte da Marisa foi por causa da safadeza que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela”, disse com relação à verdadeira caçada de que sua família foi vítima.
Não poupou críticas mais direcionadas aos mentores e executores de toda essa perseguição, que se deixaram levar pelos clamores golpistas da grande mídia – sobretudo, das organizações Globo. “Não pensem que eu sou contra a Lava Jato. Tem que pegar mesmo quem roubou e prender. Todos nós queremos isso. Agora o problema é que não pode fazer julgamento subordinado à imprensa, porque no fundo destrói a imagem das pessoas e depois o juiz vai julgar, argumentando que não pode ir contra a opinião pública, porque a opinião pública está pedindo”, criticou.
Lula lembrou que agir dessa forma contraria o que é papel de um juiz, que deve agir subordinado ao que está na lei e não sob pressão da opinião pública. “Quem quiser votar com base na opinião pública largue a toga, escolha um partido político e vá ser candidato. A toga é um emprego vitalício. O cidadão tem que votar apenas com base nos autos do processo. Aliás, ministro da Suprema Corte não deveria dar declaração de como vai votar. Nos Estados Unidos, termina a votação e você não sabe como o cidadão votou, justamente para que ele não seja vítima de pressão”, afirmou.
Após o desabafo diante da prisão injusta, o ex-presidente reforçou que o sonho de todos aqueles que apoiaram o golpe contra Dilma Rousseff foi dar prosseguimento ao processo golpista inviabilizando a candidatura Lula ao Planalto. “Eles não querem que eu participe [das eleições], eles não querem o Lula de volta, porque na cabeça deles pobres não podem ter direitos”.
Ao confirmar que iria cumprir o mandado, Lula disse que seu objetivo era fazer com que todos aqueles que emplacaram essa perseguição descobrissem que ela não surtiu resultado algum. “Não sabem que o ‘problema’ desse País não se chama Lula. O ‘problema’ desse País se chama vocês, a consciência do povo, o Partido dos Trabalhadores, o PCdoB, o MST, o MTST… Eles sabem que tem muita gente”, ressaltou.
Por fim repetiu o que disse em várias cidades por onde passou durante a Caravana Lula pelo Brasil: “Não adianta evitar que eu ande por esse País, porque existem milhões e milhões de Lulas andando por mim; não adianta tentar acabar com minhas ideias, porque elas já estão pairando no ar e não tem como prendê-las; não adianta parar meus sonhos, porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês; não adianta achar que tudo vai parar no dia em que o Lula tiver um infarto. É bobagem, porque o meu coração baterá pelo coração de vocês. E são milhões de corações”, reforçou.
Tarciano Ricarto