A bancada do PT no Senado recebeu dezenas de lideranças religiosas para ouvir suas preocupações acerca do momento atual do País, destacando o desmonte da Constituição Federal patrocinado por Michel Temer, a ruptura democrática oriunda do golpe contra a presidenta eleita em 2014, Dilma Rousseff, e a entrega do patrimônio nacional ao capital externo. A reunião foi na última quinta-feira (8).
“Estamos preocupados com a vida daqueles [cidadãos] mais fragilizados, os que sofrem as consequências das políticas públicas nefastas, como o caso que estamos vivendo agora. O Estado Democrático de Direito está sendo desconstruído. Nós estamos quase num Estado de Exceção. E isso para uma democracia tão jovem quanto a nossa é seríssimo”, apontou Dom Flávio Irala, presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) e membro da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
Na avaliação do líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ), o Brasil tem passado por um processo de desnacionalização “sem precedentes”, com a venda do patrimônio nacional para empresas estrangeiras, além da diminuição da proteção social aos mais necessitados.
“Tenho uma grande preocupação com a democracia brasileira e com a situação do povo mais pobre. Tudo estoura no povo mais pobre. É impressionante o número de pessoas dormindo nas ruas das grandes cidades. E numa situação como essa, o governo cortou mais de um bilhão de reais em recursos do Bolsa Família”, denunciou.
A pastora Romi Márcia Bencke, secretária-geral do Conic e membro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, apontou o momento de “ruptura democrática” pela qual passa o País como uma das principais culpadas do aumento da violência. “Temos de unir esforços em torno de um movimento para salvar o Brasil, a Constituição e aquilo que construímos nos últimos 30 anos”, disse.
Construção nacional – A senadora e presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que após a ditadura militar houve uma construção nacional na qual foram pactuados três importantes pontos na Constituição: voto universal e eleições livres, um cinturão social de proteção ao povo com a seguridade social e a soberania nacional. Pilares fundamentais para o desenvolvimento nacional, segundo ela.
“Esses pilares estão sendo rompidos. Agora estão tentando retirar o candidato do campo popular das eleições, retirando o degrau mínimo de proteção social estabelecido na Constituição [reformas da Previdência e Trabalhista] e a entrega das riquezas nacionais para o capital estrangeiro”, enfatizou.
A senadora Regina Sousa (PT-PI), presidenta da Comissão de Direitos Humanos (CDH), disse que o colegiado é um dos poucos espaços disponíveis no atual momento do País, no qual o cidadão menos favorecido e afetado pelas políticas do governo Temer ainda tem voz, além das igrejas progressistas.
“Todas as estruturas que essas pessoas tinham para falar no governo foram desmanteladas. Os mais pobres não se veem mais no governo. Chego a ficar angustiada por não poder colaborar com todas as demandas que chegam”, disse.
Imprensa – Os religiosos também teceram críticas ao modo como a grande imprensa vem atuando como espécie de propagandista do governo amplificando números positivos e forjando uma sensação de otimismo e crescimento do País.
“A imprensa tenta passar para nós diariamente e vemos outra imagem em nossas comunidades. Essa conta não fecha. A grande imprensa faz, o dia inteiro, a propaganda oficial dizendo que a geração de empregos está crescendo, a economia crescendo. Nos bairros que visito, essa não é a realidade. A desconstrução que ocorre agora vem de roldão, não por generais, mas afeta a todos nós”, disse o pastor Sinodal Inácio Lemke, 1º vice-presidente do Conic e membro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil.
O representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Paulo Renato Campos, relatou que o órgão tem recebido uma infinidade de manifestações de diversas entidades preocupadas com a entrega do patrimônio nacional, como a venda de terras para estrangeiros, a entrega do pré-sal e da Petrobras.
“Trabalhamos, lutamos e rezamos por justiça, paz e uma sociedade mais justa, fraterna e solidária”, salientou Dom Teodoro Mendes Tavares, tesoureiro da Conic e integrante da Igreja Católica Apostólica Romana.
Também participaram do encontro os senadores Fátima Bezerra (PT-RN) e Paulo Rocha (PT-PA).
Outros líderes religiosos que participaram da reunião foram:
Sra. Therezinha Mota Lima da Cruz – 2º vice-presidente – Igreja Católica Apostólica Romana
Presbítero Daniel do Amaral – Secretário – Igreja Presbiteriana Unida
Pastor Sinodal Dalcido Gaulke – Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
Padre Roberto Demétrio da Silva Souza (Pe. Isaac Souza) – Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia
Sra. Ana Cristina Silva Santos – Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia
Dr. Guilherme Delgado
Pastor Carlos Augusto Möller
Bispa Hideíde Brito Torres – Igreja Metodista
Pastor Leônidas Ghelli – Igreja Batista Nacional
Pastor Wellinton Pereira – Visão Mundial
Dr. Carlos Moura – Secretário Executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz
Rafael Noronha/PT no Senado
Foto: Alessandro Dantas