Diante de uma multidão de mais de 60 mil pessoas e na companhia de dezenas de parlamentares, dirigentes de partidos do campo democrático, de movimentos sociais e entidades sindicais e estudantis e da presidenta eleita Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula disse em discurso na Esquina Democrática, em Porto Alegre, que não se preocupa com o resultado do julgamento no TRF4 porque “tem a tranquilidade dos inocentes”. “Daqueles que não cometeram nenhum crime”, ressaltou.
O ex-presidente também criticou a imprensa e a elite brasileira e apontou a necessidade de o país retomar a autoestima e vários direitos subtraídos do povo brasileiro, retirados após o golpe que depôs a presidenta eleita Dilma Rousseff.
No início do discurso, Lula disse que o assunto principal da sua fala não seria o recurso que será julgado nesta quarta-feira (24). O ex-presidente afirmou que não falaria sobre o mérito do processo. “Porque tenho advogados competentes que já provaram minha inocência e porque acredito que (os desembargadores do TRF4) vão se ater aos autos do processo”. A partir deste ponto, Lula preferiu falar de sonhos e de esperança. Ele lembrou as conquistas que o povo brasileiro obteve durante os 13 anos dos governos petistas.
“O país que sonhamos em que a gente poderia ter trabalhadores que ganhavam salário mínimo com mais aumento proporcional do que aqueles que eram mais ricos. O país em que uma criança não precisava deitar sem tomar um copo de leite”, relembrou Lula. O ex-presidente também citou avanços sociais e econômicos ocorridos nos governos petistas.
“Não tenho dúvida de que fomos nós que geramos mais empregos, mais vagas nas universidades. Fomos nós que tivemos a coragem de recuperar a indústria naval brasileira que eles agora estão destruindo”, ressaltou. Além dessas conquistas, Lula também apontou avanços relacionados à soberania nacional e ao fortalecimento das relações do Brasil com outras nações do mundo.
“Eu tive sonhos junto com vocês nesse país. Em Mar del Plata (Argentina) acabamos com a Alca e fortalecemos o Mercosul. Eu sei o que significava a criação dos BRICS, o que significava a gente fortalecer nossas relações com a África. Eles nunca aceitaram que o Brasil fosse soberano”, observou. Ainda, de acordo com o ex-presidente, foi o complexo de inferioridade da imprensa e da elite brasileira que jogou o país na atual crise na qual se encontra.
“Se tem uma coisa que não me conformo é com o complexo de vira-lata, inclusive da imprensa brasileira. Uma imprensa que não tem compromisso com a verdade, que não tem respeito, que se protege escondendo as coisas. Leiam o New York Times de hoje que vocês vão ver coisas que a imprensa brasileira não tem coragem de publicar”, destacou.
O ex-presidente também explicou à multidão que lotou a Esquina Democrática em Porto Alegre que, apesar do cenário de crise, está disposto a lutar para recuperar o país. “Preciso que o povo participe para que a gente possa recuperar esse país. Vocês não têm noção de como foi bom esse país ser grande. E esse país vai voltar. Podem ter certeza”, garantiu.
Sobre o próprio futuro, Lula disse que enquanto viver lutará por um Brasil mais justo e igualitário. “Só uma coisa vai me tirar das ruas desse país e será o dia em que eu morrer. Até lá estarei lutando por uma sociedade mais justa”, prometeu. O ex-presidente garantiu ainda que nem mesmo o julgamento no TRF4, qualquer que seja a decisão, vai alterar o compromisso dele perante o povo brasileiro.
“Qualquer que seja o resultado do julgamento eu seguirei na luta pela dignidade do povo desse país. Quando vocês estiverem desanimados, com a cabeça baixa, vocês têm que lembrar de mim”, aconselhou.
Héber Carvalho