Hora de Decisão – Chico D’Angelo

laco_RJAo longo de pouco mais de duas décadas, a sociedade brasileira construiu uma avançada política de controle da Aids, que recebe a aprovação da Organização Mundial de Saúde e se tornou um paradigma para a atuação de outros países. Entre os diversos aspectos envolvidos neste processo, há que se destacar o permanente ajuste das estratégias de atuação e a intensa mobilização social. Estas questões se interrelacionam pois, além de garantir um elevado grau de prioridade entre as políticas de saúde pública, o intenso ativismo de cerca de 500 organizações não-governamentais proporciona sensibilidade e ajustes que garantem a eficiência das ações voltadas para os diferentes grupos populacionais. As pessoas vivendo com HIV/Aids exercem papel fundamental na formulação de políticas públicas em parceria com o Estado.

A Aids é um fenômeno complexo que envolve diversos tabus da sociedade, como a sexualidade, a homoafetividade, o uso de drogas, os modos de viver e de morrer. Divulgar informações de forma estratégica e oportuna e tornar o teste de Aids acessível à população, ainda são desafios de tal dimensão que não podem ser tarefa exclusiva das instituições e profissionais de saúde ou se restringir aos veículos clássicos de comunicação. É imprescindível fazer uso intensivo das novas mídias sociais, de forma a criar uma identidade cultural da política pública com o segmento mais jovem da população, para o qual se pode ter criado a ilusão de que a ameaça passou ou que não é mais tão grave.

 

O recente relatório anual do Programa de Aids das Nações Unidas (Unaids), divulgado em Genebra, revela que, no ano passado, o número de novas infecções pelo HIV foi o menor registrado – 21% a menos do que em 1997 – e o número de pessoas recebendo tratamento também foi recorde. Obviamente, quanto mais a carga viral dos pacientes é controlada, menor é a chance de circulação do vírus, e maior a chance de redução da mortalidade pela doença que, de fato, declinou de 2,2 milhões de pessoas, em 2005, para 1,8 milhão, no ano passado.

Se estes números indicam que as campanhas de prevenção e tratamento precoce da Aids vêm obtendo resultados, também informam que resta muito a ser feito e que a mobilização da sociedade ainda é parte essencial desta luta. Uma preocupação especial é causada pelo fato de que, em nível mundial, pela primeira vez desde 1997, houve uma significativa redução dos recursos investidos no controle da doença. O novo pacto estabelecido pelo chamado G20 não aborda devidamente o controle da Aids, deixando-o vulnerável ao impacto da crise econômica. Este é um ponto essencial a ser amplamente divulgado, de modo a incorporá-lo à pauta dos movimentos sociais.

A crise econômica mundial ameaça conquistas significativas, mas ainda parciais e muito recentes, despertando o temor de que os bons resultados divulgados não se repitam nos próximos anos. No Brasil, o reiterado compromisso do Ministério da Saúde com a expansão de recursos e a agurerrida militância do movimento social são motivos de expectativa positiva quanto ao progressivo controle da epidemia em nossa sociedade.

Chico D’Angelo , Deputado Federal (PT-RJ), médico e presidente da Frente Parlamentar HIV-Aids.

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