Em artigo, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), líder da bancada do PT na Câmara analisa a insatisfação popular manifestada na greve do último dia 28 de abril e amenizada por grande parte da mídia. “E os motivos estão na pesquisa divulgada nos dias seguintes: 71% rejeitam a reforma da Previdência e 60% acham que as mudanças nas leis trabalhistas beneficiam os patrões. E a desaprovação a Michel Temer subiu a 61%. Ou seja, o povo não suporta mais esse governo que se identifica apenas com os ricos e que não aponta nenhuma melhoria para a sua vida”, diz o texto. Leia a íntegra:
O Brasil parou
Carlos Zarattini*
É interessante acompanhar como boa parte da grande mídia brasileira, especialmente a televisiva, se recusou a reconhecer a dimensão da greve geral do dia 28 de abril. Preferiram destacar alguns dos pouquíssimos confrontos entre blackblocks e a Polícia do que relatar a paralisação que tomou conta do País. Greve que deixou totalmente vazias as ruas das grandes capitais e das pequenas e médias cidades de norte a sul do Brasil.
Os políticos governistas – para tentarem reduzir o alcance da paralisação – preferiram medir tudo pelas manifestações de rua. Atos que evidentemente foram do tamanho que geralmente os movimentos sociais os fazem, e que foram prejudicados também pela falta de transporte coletivo.
O fato é que o povo ficou em casa. Mesmo com o prefeito João Dória liberando os corredores de ônibus, suspendendo o rodízio, autorizando o estacionamento na zona azul, o povo não usou o seu automóvel. As ruas de São Paulo ficaram vazias. O povo ficou em casa!
As lojas não abriram, os restaurantes ficaram fechados… Tudo parou. As pessoas combinaram nos escritórios, nas fábricas, nas escolas e nas universidades, nos ônibus, que não iriam trabalhar. Que fariam greve! Não foi preciso muito piquete na porta de empresa nem bloqueio de avenida. O índice de congestionamento da CET-SP foi de apenas 3 km. O povo aderiu ao movimento. O povo ficou em casa!
E os motivos estão na pesquisa divulgada nos dias seguintes: 71% rejeitam a “reforma” da Previdência e 60% acham que as mudanças nas leis trabalhistas beneficiam os patrões. E a desaprovação a Michel Temer subiu a 61%. Ou seja, o povo não suporta mais esse governo que se identifica apenas com os ricos e que não aponta nenhuma melhoria para a sua vida.
O povo não suporta mais um governo que promove uma política econômica em que o desemprego alcança índices superiores a mais de 14 milhões de pessoas. O povo não suporta mais conviver com as dificuldades para obter um tratamento de saúde adequado. A situação se agrava.
A greve geral foi um exemplo de uma palavra de ordem lançada no momento certo. As pessoas viram a oportunidade de expressarem a sua contrariedade à atual situação, de forma pacífica.
E o povo também quer se manifestar de forma pacífica e democrática: no voto. E, por isso, 85% querem eleições diretas! Evidentemente que o povo quer trocar essa turma que se apoderou do Planalto sem ter seu programa de governo aprovado pelas urnas.
Querer impor ao país mudanças de tal magnitude sem um longo processo de negociação pode ser classificado como um estupro coletivo. A reação será sempre gigantesca. O Brasil parou e deu o seu recado ao governo de Temer: não aceita retirada de direitos.
Carlos Zarattini é líder do PT na Câmara dos Deputados
Artigo publicado originalmente no Blog do Noblat