Nordestino e retirante, Luiz Inácio Lula da Silva reencontrará no próximo domingo (19) parte da sua própria história. Ele, que durante a infância andou quilômetros e quilômetros carregando lata d’água na cabeça, vai comemorar com a população de Monteiro, na Paraíba, a chegada das águas do Rio São Francisco ao sertão do Nordeste. Será um marco na vida de milhares de famílias que vão romper em definitivo com uma situação recorrente de seca que comprometia o desenvolvimento humano e econômico da região. A ideia é que todos os parlamentares petistas do Nordeste participem dessa comemoração, além do líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP).
Por mais de um século, o projeto da obra de transposição do rio passou de governante para governante – desde D. Pedro II – sem que nenhum deles tivesse a coragem e a disposição de tirá-la do papel. Foi preciso que um nordestino – filho de lavradores analfabetos – chegasse à Presidência da República para tornar realidade o que parecia ficção. Lula iniciou a obra, Dilma Rousseff deu continuidade. Os dois estarão em Monteiro no domingo para ver o “sertão virar mar”, assim como profetizou o beato Antônio Conselheiro.
Conselheiro – nascido em Quixeramobim, em pleno semiárido cearense – foi o peregrino que ousou sonhar Canudos – erguido no interior da Bahia – como um “lugar santo” e democrático. Ele transformou o local em aconchego para milhares de desabrigados do sertão e de vítimas da fome. O deputado José Guimarães (PT-CE), que assim como o beato nasceu em Quixeramobim, também conhece o drama da falta de chuva. “Só quem viveu e quem nasceu no sertão torrado do Nordeste sabe o que representam a chegada das águas do Rio São Francisco. Nós, nordestinos, estamos orgulhosos de testemunhar essa transformação”, afirma.
Na programação da visita a Monteiro, Lula deve se encontrar com a comitiva de parlamentares na cidade de Campina Grande, também na Paraíba, e de lá seguir para o destino final da viagem, onde deve chegar por volta de 13h30. Ainda na entrada da cidade, está prevista a plantação de 60 mudas de árvores, próximo ao local onde as águas do São Francisco já são uma realidade. “A transposição é um projeto esperado há muito tempo pela população do Nordeste. As águas do ‘Velho Chico’ marcam uma diferença na capacidade de desenvolvimento econômico e humano da região”, avalia Jorge Solla (PT-BA).
Quando a transposição estiver concluída, vai beneficiar 12 milhões de pessoas em 390 municípios. O deputado Paulão (PT-AL) lembra que se trata de uma obra estratégica em todos os sentidos para o Nordeste e sua população. “Ela é importante, inclusive, do ponto vista da integração regional. O que está acontecendo agora com Monteiro, na Paraíba, nós já vivemos em Alagoas algumas vezes com Lula e Dilma, quando foram inaugurar etapas do Canal do Sertão”, lembra o deputado, fazendo referência ao canal que terá 250 quilômetros de extensão e levará água para cerca de um milhão de pessoas em 42 municípios alagoanos.
O deputado Caetano (PT-BA), que também estará em Monteiro no próximo domingo, diz que é ineficaz a tentativa do governo de Michel Temer de aparecer como “pai” da obra. “Por isso, Lula estará no Nordeste: para mostrar a todos que ele conseguiu realizar uma obra que já era planejada desde a época de D. Pedro II. E foi Lula que, finalmente, conseguiu fazer e agora vai entregar a obra ponta”.
Tarciano Ricarto
Foto: Ricardo Stuckret/Instituto Lula