Manifestantes ligados a entidades da sociedade civil realizaram nesta terça-feira (14), na Câmara dos Deputados, dois atos de repúdio à reforma da Previdência (PEC 287/16) de Michel Temer. No início da tarde, sindicalistas da CUT ligados ao macro setor da indústria (metalurgia, química, construção civil, alimentação e vestuário) – acompanhados do líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP) – entregaram ao presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), um abaixo-assinado com mais de 100 mil assinaturas de trabalhadores do setor contra a reforma.
No segundo ato, centenas de manifestantes ligados a entidades da sociedade civil (a maioria advogados) lotaram o plenário 2 da Câmara para entregar ao presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência, Carlos Marun (PMDB-MS), um manifesto contra a reforma. Nas duas manifestações, foram rechaçados veementemente a fixação da idade mínima de 65 anos para a aposentadoria, o aumento do tempo de contribuição de 15 para 25 anos, e a equiparação das regras para aposentadoria entre homens e mulheres.
Para o líder do PT na Câmara, a mobilização popular é de fundamental importância para derrotar a proposta de Temer que retira direitos dos trabalhadores. “São muito importantes essas ações contra o desmonte dos direitos da classe trabalhadora brasileira. Todos os setores organizados precisam se mobilizar, recolher assinaturas nas suas categorias, no seu bairro e protestar contra essa reforma. A luta é na rua. Só assim vamos ganhar os deputados da base governista, para que eles votem contra essa proposta”, afirmou.
A coordenadora do Macro Setor da Indústria e presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Indústria de Vestuário (CNTV), Cida Trajano, disse que o abaixo-assinado é uma das formas de pressionar os parlamentares contra a reforma.
“Toda a nossa categoria tem recebido essa reforma como um desastre em nossa vida, porque aposentadoria é o maior bem que um trabalhador tem para seu futuro. Esse abaixo assinado é uma forma dos trabalhadores manifestarem seu desacordo com essa reforma da Previdência, e também a Trabalhista, que só trazem desvantagens para os trabalhadores. Os deputados precisam ouvir a população, que é contra essas reformas”, disse.
Durante a entrega do abaixo assinado ao presidente da Câmara, o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, destacou que os trabalhadores dos setores da metalurgia, química, construção civil, alimentação e vestuário serão os mais afetados se a reforma for aprovada.
“São justamente os que trabalham nos serviços mais pesados e sacrificantes, como nas linhas de montagem. Nos preocupa essa proposta de reforma, assim também como o projeto da terceirização, que pode criar a figura da empresa sem nenhum empregado próprio”, ressaltou.
Mesmo não se comprometendo com o conteúdo do abaixo-assinado, o presidente da Câmara prometeu que vai distribuir o documento a todos os líderes partidários.
A reunião com o presidente da Câmara contou ainda com a presença do presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Paulo Cyres; do secretário-geral da CNM, Loricardo Oliveira; do presidente da Confederação dos Trabalhadores em Indústria de Madeira, Cláudio Gomes; da Secretária de Igualdade Racial da CNM, Christiane Santos; e do vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Indústrias de Vestuário (CNTV), João Batista.
Sociedade Civil – Já o ato que culminou com a entrega do manifesto de mais de 160 entidades contra a reforma da Previdência começou com muito tumulto e confusão provocado pela Polícia Legislativa da Câmara. Os manifestantes, em sua maioria advogados, foram inicialmente impedidos de entrar na Casa. A situação só foi normalizada após a intervenção de vários parlamentares que negociaram a entrada de todas as pessoas. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, criticou a pressa do governo para aprovar a proposta. “Queremos debater essa proposta com mais profundidade, apresentar dados que nós temos que apontam que a Previdência não é deficitária. Queremos uma reforma justa, digna, que não traga retrocessos social ao povo brasileiro”, ressaltou.
Para o deputado Pepe Vargas (PT-RS), a tentativa de barrar os manifestantes apenas expressa a ânsia do governo em aprovar logo a proposta, porque teme a pressão popular sobre os parlamentares.“Obviamente que a segurança não age por vontade própria. Ela age por ordens da direção da Casa. O governo quer empurrar goela abaixo uma reforma sem discussão, mas não vai conseguir. Como um governo sem legitimidade, que chegou ao poder sem voto, pode querer aprovar uma reforma desta extensão? Não tem possibilidade”, ressaltou.
Héber Carvalho
Foto: Gustavo Bezerra