Guerra cambial é o principal desafio para Dilma, diz Conceição Tavares

MConceicaoTavares-D1A economista Maria da Conceição Tavares afirmou que a situação cambial mundial nunca esteve tão “dramática” quanto agora. Ao participar de audiência pública nesta terça-feira (9) no Senado, a economista disse que nem mesmo na crise de 1929 o problema cambial foi tão aguçado como agora. “O câmbio mundial está numa situação dramática. Nunca se viu algo assim na história. Este será, sem dúvida, o principal desafio para a presidente eleita Dilma Rousseff”, afirmou.

A expectativa da economista é de que uma saída para o problema seja apontada na reunião do G-20 (grupo de países mais desenvolvidos) que ocorre quinta e sexta-feira em Seul, na Coreia do Sul. Dilma participa do encontro, acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Casa não haja uma saída negociada entre os membros do G-20, advertiu Maria da Conceição, o Brasil terá que estabelecer mecanismos de proteção da economia nacional.

Com o cenário atual, na avaliação da economista, o mundo está muito longe de superar a crise de 2008, que abalou a economia dos países mais ricos, com reflexos em todos os outros. “Fomos os primeiros a avisar o Fundo Monetário Internacional sobre esse risco, mas não se adotou nenhuma medida de regulação do mercado internacional, e o resultado é este que estamos assistindo”, disse.

Na opinião da economista, a única saída para o Brasil, caso uma solução para o problema não seja apontada pelo G-20, será a adoção de mecanismos de controle de capital, para proteger a economia nacional e evitar a supervalorização do real. “Se não houver acordo, doa a quem doer, temos que nos defender. Se for necessário, vamos ter que fazer controle de capitais. Mas essa é uma decisão muito complexa, que exigirá um amplo debate”, disse.

Num cenário de eventual controle do fluxo de capitais, será indispensável que haja uma ampla sintonia entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central do Brasil, para que qualquer medida a ser adotada não provoque efeitos danosos para a nossa economia, recomendou Maria da Conceição da Tavares.

Presente na audiência, o líder da bancada petista na Câmara, deputado Fernando Ferro (PT-PE), também defendeu medidas de proteção à economia brasileira, na hipótese de o G-20 não solucionar o problema. De acordo com o líder petista, a injeção de US$ 600 bilhões na economia norte-americana, decis]ao tomada pelo FED (Banco Central dos Estados Unidos) é um recado claro de que houve agravamento da crise.

“O recado dos EUA foi claro: se preparem que vamos cobrar a conta de vocês (os países emergentes). Se não houver acordo no G-20, vamos ter criar mecanismo de proteção da nossa economia. Isso significa controlar o capital para valorizar a nossa produção interna, evitando o processo de desindustrialização do país”, explicou.
Para o deputado Pedro Eugênio (PT-PE), a situação é bastante preocupante. A inundação de dólares no mercado mundial, explicou o petista, fragiliza os países emergentes e revela que a crise ainda não passou. “O comércio internacional está deprimido, efeito da crise que continua. Temos que estar atentos aos outros países, para não ficarmos pagando pela crise dos outros”, alertou.

O parlamentar defendeu que os países emergentes, especialmente os da América Latina, se unam contra a ameaça de guerra cambial. “Temos que agir no sentido de juntarmos força com outros países para que, na política e na diplomacia, possamos fazer com que países como EUA e China atuem de forma solidária, olhando os interesses mundiais e não apenas os seus próprios”, defendeu.

A posição defendida pela economista foi elogiada pelo deputado Pepe Vargas (PT-RS), que presidiu os debates. Ele disse que tem poucas esperanças de que o G-20 aponte para um caminho coletivo. “A audiência contribuiu bastante para que possamos nos posicionar quanto a essa grave ameaça à economia dos países emergentes, especialmente do Brasil. A proposta de redução das taxas de juros, com proteção da moeda brasileira, apresentada por Conceição, é sem dúvida a mais acertada, caso este cenário sem mantenha”, defendeu.

Balanço – No encontro, a economista fez um balanço sobre o crescimento econômico obtido no governo Lula. Conceição destacou a geração de 15 milhões de novos postos de trabalho e a ascensão de mais de 23 milhões de brasileiros para a classe média.

A reunião no Senado foi promovida pelas Comissões de Finanças e Tributação da Câmara e a de Assuntos Econômicos do Senado. O encontro foi proposto pelos deputados Pepe Vargas (PT-RS) e José Guimarães (PT-CE).

Edmilson Freitas

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