Brasil critica guerra cambial americana

berzoinicongressoO ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, criticaram nesta quinta-feira a decisão do Federal Reserve (o Banco Central norte-americano) de comprar mais US$ 600 bilhões em títulos públicos até a metade do próximo ano. Conhecida como “quantitative easing”, a medida aguça a guerra cambial entre os países.

Para Guido Mantega, a decisão do Federal Reserve é de “resultado duvidoso”. “Não adianta ficar jogando dólar de helicóptero na economia porque isso não fará brotar o crescimento. Eu não sou contra aumentar o crédito e reduzir juros.

Pelo contrário. Porém, tem que combinar isso com uma política fiscal [aumentar despesas do governo ou reduzir tributos para população]. Tem que estimular o consumo, o mercado, dar condições para o consumidor. O governo americano teria que tomar medidas para gerar emprego, porque está faltando emprego lá”, disse.

Mantega anunciou que vai condenar a medida norte-americana na reunião de cúpula do G20, marcada para 11 e 12 de novembro na Coreia do Sul. “Isso nos afeta. Tanto é verdade que hoje estamos com um déficit comercial com os Estados Unidos. Eu tenho criticado essa medida e farei novamente no G20 agora. Vamos insistir para que os Estados Unidos modifiquem essa política e tenham uma outra alternativa”, disse.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que o movimento do Federal Reserve tem “consequências negativas para outros países”. “O afrouxamento quantitativo cria excessiva liquidez, que transborda para países como o Brasil. Temos de tomar medidas para solucionar essa questão. Isso cria um problema”, afirmou.

Meirelles confirmou que o Brasil vai apresentar propostas no G20 para evitar “tantas distorções”. O presidente do Banco Central e o ministro da Fazenda brasileiros deverão acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente eleita Dilma Rousseff na reunião do G-20. Mantega disse que eles “vão tentar convencer os EUA a mudar sua posição”.

Segundo economistas, os Estados Unidos estão “inundando” o planeta com dólares para tentar conter os efeitos da crise iniciada há dois anos. Como o excesso de dólares no mercado, a moeda americana perde valor em relação ao dinheiro de outros países.

O dólar desvalorizado prejudica as exportações de outras nações, que têm os produtos encarecidos no mercado internacional. Ao mesmo tempo, a desvalorização do dólar torna mais baratas as importações de produtos norte-americanos, o que prejudica as empresas do mercado interno.

O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), integrante da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara, disse os Estados Unidos “estão cuidando do quintal deles”. “Mas isso provoca um desequilíbrio na situação cambial do mundo. E a tendência é o dólar se desvalorizar ainda mais. Isso cria um problema para países como Brasil. No Brasil, isso só ainda não atingiu a questão social porque a demanda interna interna está crescendo. Mas vai atingir a situação social de várias países emergentes”, disse.

Berzoini afirmou que, caso haja previsão jurídica, o Brasil pode adotar medidas retaliatórias contra a decisão norte-americana. “A lógica do comércio internacional pressupõe o equilíbrio. Se não houver equilíbrio, o protecionismo pode voltar a ficar forte. Se houver espaço na Organização Mundial do Comércio ou no G20 para questionamentos jurídicos e administrativos, acho que é pertinente”, afirmou.

Reportagem publicada nesta sexta-feira pelo jornal britânico Financial Times alerta para a possibilidade de retaliação. “Autoridades brasileiras do presidente para baixo criticaram a decisão do Federal Reserve de baixar as taxas de juros comprando bilhões de dólares em títulos do governo, advertindo de que isso poderia levar a medidas retaliatórias”, afirma a reportagem.

O jornal observa ainda que, em entrevista coletiva conjunta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente-eleita Dilma Rousseff afirmaram que tomariam as medidas necessárias para “evitar a valorização excessiva da moeda brasileira” e “brigar pelos interesses do Brasil”. O FT comenta que o Brasil foi um dos países mais afetados pela guerra cambial, com uma valorização do real de 39% em relação ao dólar desde o início de 2009.

Equipe Informes, com agências

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