Para além do maior índice de desemprego, da perspectiva de mais desajuste nas contas públicas e dos baixíssimos índices de aprovação, o golpista Michel Temer continua a acumular outros recordes negativos que confirmam e reforçam um cenário de recessão no País. O ano mal começou e as previsões apontam para uma situação que contradiz todo o discurso golpista de que o impeachment sem crime de responsabilidade era caminho imprescindível para colocar o Brasil nos trilhos do crescimento econômico.
A falácia hoje é comprovada em números. A venda de veículos no Brasil retrocedeu no tempo, fazendo emergir uma situação de dez anos atrás. Em 2016, houve queda de 20,2% nas vendas em comparação ao ano anterior, fazendo o País voltar a exibir percentuais registrados entre 2006 e 2007. Segundo matéria da Folha de São Paulo, as montadoras têm passado por uma rotina de seguidas interrupções na produção com funcionários afastados em férias coletivas ou suspensão temporária de contratos.
Em função do quadro, o mercado não vê 2017 com grandes esperanças de melhora. Pelas expectativas da Anfavea (associação nacional das montadoras), as vendas devem crescer ao menos um dígito em 2017. As marcas de perfil conservador estimam algo entre 1% e 3%. Aquelas que mais sentiram a queda nas vendas sequer aguardam esse crescimento. É o caso da Chery, que espera que o mercado permaneça estagnado. A ala otimista da entidade espera algo próximo a 6% de alta.
Além desse dado do mercado automotivo, a atividade industrial do Brasil, de maneira geral, registrou em dezembro o patamar mais baixo dos últimos seis meses, devido a quedas no volume de produção, no emprego e em encomendas. As informações foram captadas pelo Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) divulgado nesta segunda-feira (2) pela consultoria IHS Markit. As informações também são da Folha de São Paulo.
Segundo a reportagem, “o PMI foi a 45,2 pontos em dezembro, abaixo do patamar de novembro (46,2 pontos) e do de dezembro de 2015 (45,6 pontos). Abaixo de 50 pontos, o indicador aponta contração da atividade”. “Desde janeiro de 2015, o índice está abaixo dos 50 pontos, reflexo da recessão no ritmo de produção nas fábricas”. O jornal destaca ainda que, “embora não divulgue os dados abertos por segmento industrial, a IHS Markit afirmou, em relatório, que a redução mais acentuada de atividade foi registrada no setor de bens de capital (máquinas e equipamentos)”.
O único dado que o governo está querendo vender como positivo – o do saldo da balança comercial em 2016 – não resiste a uma análise minimamente mais atenta. O Brasil registrou o maior superávit da história no ano passado com uma balança comercial positiva em US$ 47,7 bilhões. Porém, o resultado – divulgado esta semana pelo governo – reflete justamente um quadro de recessão, porque não é furto da corrente de comércio que gera atividade econômica. Na verdade, resulta de uma diminuição tanto das compras de outros países quanto das vendas externas, que foram as menores desde 2009.
O fato real é que a atividade econômica encolheu. O resultado das exportações em 2016 foi afetado principalmente pela queda de 6,2% nos preços dos produtos com relação ao ano anterior, muito embora, com relação às quantidades, tenha ocorrido aumento de 2,9% na mesma comparação. Porém, o caso mais grave ocorre com a retração nas importações, já que houve tanto queda nos preços, que diminuiram 9% com relação a 2015, quanto na quantidade, que se reduziu em 12,2%.
Para se ter uma ideia do que isso significa, basta pegar o exemplo das importações de bens de capital (máquinas e equipamentos), que apontam justamente o interesse das empresas em investir. Elas somaram no ano passado US$ 18,35 bilhões – uma queda de 21,5% ante 2015. Já as compras de bens intermediários (insumos para elaboração de produtos) de outros países somaram US$ 84,94 bilhões, redução de 14,9% em relação ao ano anterior.
Tarciano Ricarto