Ana Perugini analisa a legitimidade do movimento dos estudantes e o discurso da jovem Ana Júlia

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Em artigo, a deputada Ana Perugini (PT-SP) elogia a atitude de estudantes que ocuparam escolas em protestos contra os desmandos do Governo ilegítimo de Michel Temer, demonstrando o comprometimento de uma geração que cansou do estigma de alienada. Particularmente ela elogia a estudante Ana Júlia, que emocionou a todos em um discurso por um país melhor. “Ela representa o que há de melhor no nosso povo. Depois de ouvi-la falar, tive ainda mais certeza de o futuro reserva coisas boas para nós. Muito obrigada pelo presente, Ana Júlia!”. Leia a íntegra:

A força da juventude

Ana Perugini *

O discurso da jovem Ana Júlia na Assembleia Legislativa do Paraná emocionou a todos que lutam por um país melhor. Precisas, corajosas e verdadeiras, as palavras da estudante de 16 anos, filha de uma professora e de um advogado, tocaram os nossos corações porque carregam a paixão e o comprometimento de uma geração que cansou do estigma de alienada. São jovens que entendem o valor da escola, da família e reivindicam o direito de serem ouvidos e de participarem da construção de um país que hoje é nosso, mas que amanhã será deles.

No ano passado, nós já havíamos ouvido essa voz poderosa, que ecoou em mais de 200 escolas no Estado de São Paulo, em resposta ao anúncio do fechamento de prédios feito pelo governo paulista, sob o argumento de ociosidade de salas de aula, sem conversar com a comunidade escolar e ignorando reclamações de professores obrigados a ensinar em classes superlotadas.

Em escolas ocupadas no interior paulista, nos surpreendemos com a organização, a consciência e a determinação de jovens como Ana Júlia. A escola é dos alunos. Portanto, o movimento de ocupação é legítimo e denuncia a nossa falha enquanto sociedade.

É essa legitimidade que a jovem defendeu diante de deputados paranaenses. A estudante falou em nome do movimento Ocupa Paraná, presente em mais de 800 escolas paranaenses e que está sob forte pressão do governo Beto Richa, o mesmo que autorizou a Polícia Militar a agredir professores em greve, durante uma manifestação no ano passado. Mais uma vez sob os holofotes da nação, o Estado usa o assassinato do estudante Lucas Mota, 16, morto por um colega numa escola ocupada em Curitiba, para criminalizar e enfraquecer o movimento que se alastrou pelo país.

Segundo a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), há 1.154 escolas, institutos e universidades estaduais, federais e municipais ocupados em ao menos 21 estados e no Distrito Federal. Para silenciar os alunos, governos estaduais têm se eximido da responsabilidade constitucional sublinhada por Ana Júlia – de protegê-los – e recorrido ao necessário “uso de força moderada” da Polícia Militar. Em Miracema, no Tocantins, dois estudantes saíram algemados da escola em que estudam. Não foram detidos por terem cometido um ato infracional. Foram levados à delegacia por defenderem a educação.

Assim como o discurso de Ana Júlia, o espírito das ocupações incomoda aqueles que defendem o modelo de escola criticado no século 18 pelo pensador alemão Immanuel Kant, com alunos enfileirados em salas de aula, apenas fazendo tarefas, sem desenvolver a capacidade de pensar sozinhos. É essa a escola dos sonhos dos defensores da reforma do ensino médio, da PEC 55 (antiga 241) e do projeto Escola Sem Partido, incubadoras de um exército não-pensante, racista e homofóbico.

Incomodam porque mostram o caminho da verdadeira política, que deve ser construída ao lado do povo e para o povo. Uma política focada no desenvolvimento das pessoas, na melhora da vida delas; na formação de cidadãos e cidadãs com valores novos e senso crítico que nos ajudem a avançar enquanto democracia. Um caminho obstruído por um sistema político obsoleto, fisiológico, no qual os interesses da minoria se sobrepõem às necessidades reais do povo.

Em apenas dez minutos, a jovem secundarista nos deu uma lição de cidadania e de amor ao Brasil. “A nossa bandeira é a educação. Somos um movimento apartidário que se preocupa com a sociedade, com o desenvolvimento do senso crítico, com o futuro do país. É por isso que ocupamos as nossas escolas”, disse Ana Júlia, valendo-se do artigo 16, inciso VI do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que lhe assegura a participação na política do país.

Ana Júlia representa a nova juventude brasileira, a voz de milhões de meninos, meninas, mulheres e homens que estudam e trabalham acreditando num país melhor, sem corrupção e com o desenvolvimento sustentado pela educação. Ela representa o que há de melhor no nosso povo. Depois de ouvi-la falar, tive ainda mais certeza de o futuro reserva coisas boas para nós. Muito obrigada pelo presente, Ana Júlia!

*Ana Perugini é deputada federal pelo PT/SP, 2ª vice-presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, coordenadora-geral da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos Humanos das Mulheres e integrante da Comissão Mista de Combate à Violência contra a Mulher no Congresso Nacional.

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