Em artigo no jornal o Globo, desta segunda-feira (24), na seção de duelo de opiniões, o deputado Patrus Ananias (PT-MG) trata do resultado eleitoral das eleições municipais que penalizou o Partido dos Trabalhadores. Patrus defende a autocrítica do PT, mas aponta “duríssima campanha de setores da mídia em trabalho permanente de desgastá-lo, inclusive pela desqualificação de políticas públicas dos governos Lula e Dilma que resultaram em históricas conquistas nacionais”. Leia a íntegra:
Olhar para dentro –
Patrus Ananias*
O PT está vivo. Ferido, mas vivo; menor do que foi em anos recentes, mas vivo e povoado de reservas morais, espirituais, culturais e políticas que o credenciam a vencer os desafios que tem que enfrentar. As análises publicadas após o primeiro turno das eleições municipais destacam, acima de tudo, a perda de apoio popular e de poder pelo Partido dos Trabalhadores.
É notório que o PT perdeu — e muito. Sua direção reconheceu “derrota profunda do campo democrático-popular, principalmente do nosso partido”. Mas as urnas nos dão outras notícias, tão graves que tornam reducionistas, algo como obras de torcedores, as análises centradas no desempenho do PT e/ou outros partidos de esquerda.
As eleições deste ano foram as mais despolitizadas desde que entrou em vigência a Constituição de 1988. A indiferença e, em alguns casos, a agressividade das pessoas anteciparam o elevadíssimo número de abstenções e de votos brancos e nulos. Não foi difícil compreender, a partir das ruas e praças públicas e do resultado das urnas, que a maioria da população não se envolveu com o processo eleitoral.
Considero positivo o fim das contribuições empresariais. Mas os efeitos foram tímidos, porque os candidatos ricos levaram nítida vantagem. Foram mantidos e ampliados os currais eleitorais com a compra de votos e o apoio de muitas lideranças comunitárias e religiosas. E a redução do período eleitoral a 45 dias cerceou o debate de propostas entre candidatos e sociedade.
A omissão do Legislativo continua permitindo a expansão da influência do Judiciário, especialmente da Justiça Eleitoral, que sai da função de julgar e pacificar os conflitos para exercer o papel de normatizadora e propagandista do processo eleitoral. Cabe também uma rigorosa autocrítica aos partidos políticos.
E, dentro da autocrítica que devem fazer os partidos comprometidos com o estado democrático de direito e com o bem comum, cabe avaliar o pior desempenho eleitoral do PT em sua esplêndida trajetória ascensional de 36 anos.
O PT enfrenta uma duríssima campanha de setores da mídia em trabalho permanente de desgastá-lo, inclusive pela desqualificação de políticas públicas dos governos Lula e Dilma que resultaram em históricas conquistas nacionais. E foi transformado em alvo exclusivo de ações da PF, do MP e do Judiciário.
Mas o fato de sofrermos perseguições com visíveis finalidades políticas e eleitoreiras não nos exime das nossas faltas, como a de aceitarmos as regras do jogo com relação ao financiamento privado das eleições e aos acertos daí decorrentes.
É forçoso reconhecer também que o PT perdeu a força inaugural, de quando garantia vez e voz aos militantes e simpatizantes através de cursos de formação política, debates, eventos de partilha de conhecimentos e experiências, encontros partidários. É hora de seguirmos o conselho de Gandhi e fazermos em nós a mudança que cobramos dos outros.
(*) Patrus Ananias é deputado federal (PT-MG)
ARTIGO PUBLCIADO ORIGINALMENTE NO GLOBO NO DIA 24 DE OUTUBRO DE 2016
Foto: Alex Ferreira