Em artigo, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) analisa os vários golpes patrocinados pela elite econômica no Brasil que feriram gravemente a democracia e resultaram em forte concentração da renda do país nas mãos de poucos. “Hoje, mais uma vez, o pano de fundo real dos patrocinadores do golpe são os interesses econômicos de uma minoria, o ajuste fiscal contra os mais pobres, a retirada de direitos sociais e trabalhistas, a austeridade e redução do Estado nos serviços públicos …., mas não a redução dos incentivos e renúncias fiscais, não os impostos sobre lucros, as remessas de lucros ao exterior, as grandes fortunas”, critica.
Leia a íntegra:
Uma aposta contra o Brasil, um golpe contra a democracia
Apostaram no caminho do golpe para chegar, sem votos, ao poder – o resultado é um governo totalmente ilegítimo, uma Constituição manchada e uma democracia gravemente ferida.
Apostaram no “quanto pior, melhor”, num verdadeiro “vale tudo”, com arbitrariedades legais, manipulação da informação, exceções jurídicas, vazamentos seletivos, criminalização da política.
Valeram-se do necessário enfrentamento à corrupção como instrumento político para promover uma verdadeira perseguição direcionada apenas a algumas forças e quadros políticos, preferencialmente de esquerda.
Condenaram uma inocente e proclamam um novo país. Dilma Rousseff não cometeu nenhum crime de responsabilidade nem sequer foi citada nas investigações de corrupção ou nas delações premiadas.
Seus algozes, Michel Temer, Aécio Neves e Eduardo Cunha, dentre outros, sim, muitas vezes.
Nada os constrangeu, no entanto, a empossar um governo elitista, sem votos, sem negros, mulheres, pobres, mas já com muitos investigados, acusados de corrupção.
Tudo sob o silêncio hipócrita e obsequioso dos que antes incentivaram manifestações e bateram panelas nas varandas gourmet contra a corrupção. Perguntamos, então, que país pode emergir, e ser melhor, depois de um golpe e de tantas injustiças?
É importante lembrar que as mesmas elites conservadoras e reacionárias, na história brasileira, utilizando-se das mesmas armas da intolerância e do ódio político, e contando com o apoio dirigente de boa parte da grande mídia nacional, perseguiram e levaram à morte o presidente Getúlio Vargas; tentaram o mesmo com Juscelino Kubitschek; e também perseguiram e golpearam o presidente João Goulart.
E mais uma vez perguntamos: o Brasil, os brasileiros e a democracia melhoraram depois desses golpes? Definitivamente, não!
Ao contrário. Vivemos anos de arbitrariedades, autoritarismos, perseguição política, torturas, censura, reaparecimento de ideias fascistas, crise econômica, crescimento da pobreza e uma forte concentração da renda do país nas mãos de poucos.
Hoje, mais uma vez, o pano de fundo real dos patrocinadores do golpe são os interesses econômicos de uma minoria, o ajuste fiscal contra os mais pobres, a retirada de direitos sociais e trabalhistas, a austeridade e redução do Estado nos serviços públicos (educação, saúde e segurança), mas não a redução dos incentivos e renúncias fiscais, não os impostos sobre lucros, as remessas de lucros ao exterior, as grandes fortunas.
Novamente, o que está em jogo são os interesses privados e internacionais sobre os grandes ativos econômicos e as potenciais fontes de riqueza do país, como as jazidas de petróleo do pré-sal e a desnacionalização de diversos setores.
O Brasil precisa refazer o pacto social e democrático depois de uma ruptura tão profunda, com graves consequências para a sociedade e o nosso futuro. Apenas o voto popular pode repactuar o Brasil.
Devemos resistir, lutar e exigir novas eleições, iniciando por um plebiscito em que o povo decida sobre novas eleições e uma constituinte exclusiva para uma reforma política que garanta a mudança profunda do sistema político brasileiro.
O novo pacto nacional, assim como o novo país, passa obrigatoriamente por sua gente e pela democracia.
Henrique Fontana – deputado federal (PT-RS)
Site Brasil 247 com PT na Câmara